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Os planos da gigante de transporte de contêineres Maersk para o Brasil

O A. P. Moller-Maersk quer estar entre as cinco maiores empresas de gestão multimodal no país — companhia teve alta de mais de 40% nos serviços em 2020

Maersk: Além dos contêineres, empresa quer focar em logística (Amanda Perobelli/Reuters)

Maersk: Além dos contêineres, empresa quer focar em logística (Amanda Perobelli/Reuters)

KS

Karina Souza

Publicado em 18 de maio de 2021 às 08h00.

Última atualização em 19 de maio de 2021 às 11h23.

Você já deve ter ouvido falar sobre o conglomerado dinamarquês Maersk — ou visto um de seus contêineres por aí. O grupo é o maior do mundo em transporte marítimo e reúne marcas como Hamburg-Süd e Aliança sob sua estrutura, além de ser responsável por aproximadamente 40% do volume de contêineres do Porto de Santos.

Com uma presença tão sólida no transporte marítimo, a empresa quer mais: digitalizar todo o processo de cadeia logística no país (tanto no modal terrestre quanto no marítimo) e se tornar uma das cinco principais empresas a prestar esse tipo de serviço até 2025. 

“Hoje, o Brasil tem um processo muito fragmentado. Estamos desenvolvendo novas soluções digitais, de que o setor carece, para que nossos clientes tenham visibilidade do processo inteiro e possam se tornar ainda mais eficientes. Nosso foco está em quem precisa de terceirização logística e de gestão completa das operações”, diz Robbert van Trooijen, Vice-Presidente da Maersk América Latina e Caribe, à EXAME.

Para tornar esse plano uma realidade, a companhia está investindo em armazéns capazes de permitir que mercadorias fiquem estocadas até à liberação da alfândega para a exportação de produtos inclusive estudando oportunidades de aquisição, e também quer popularizar no país a NeoNav, torre de controle que possibilita uma conectividade completa entre todos os pontos da logística, inclusive no abastecimento de estoque. Um serviço bastante útil para o setor de varejo, por exemplo.

Mais do que oferecer visibilidade ponto a ponto, a companhia quer gerenciar o fluxo de produtos de ponta a ponta. Otimizar a rota de caminhões de acordo com o recebimento de mercadorias, fazer a gestão de armazéns que possam estocar produtos da melhor forma possível e com o acesso mais fácil e rápido onde a carga precisa chegar, etc. Os dados passam por uma modelagem da Maersk e, como resultado, é possível obter ações para cada tipo de situação, prevenindo erros.

A companhia já tem clientes desses serviços, globalmente. “Três ou quatro estão testando isso globalmente e, entre eles, há alguns na América Latina. Vamos, agora, lançar esse serviço no Brasil”, diz Robbert.

Os novos planos têm, é claro, a influência da pandemia. Para Robbert, no momento em que as transações com os diferentes agentes envolvidos no transporte e armazenamento de itens frequentemente presenciais não puderam ser realizadas, o setor começou a valorizar a oportunidade de ter acesso a “tudo em um único lugar” e a companhia quer investir para ser uma das principais nisso ao longo dos próximos cinco anos.

Dinheiro para investir nessas novas frentes, não falta. Durante a pandemia, o grupo registrou um aumento recorde de lucro: 2,7 bilhões de dólares, ante 197 milhões de dólares no mesmo período do ano passado. 

A receita cresceu 30%, para 12,4 bilhões de dólares, fortemente influenciada pelos serviços de logística, que tiveram aumento de 42% em relação ao primeiro trimestre de 2020. Além de aumentar receita, a lucratividade também deu um salto relevante, com um salto de 67% no lucro bruto dessas operações, para 511 milhões de dólares e o EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) mais do que triplicou, com uma margem de 10%.

“As altas taxas de crescimento validam nossa estratégia de aumentar serviços com nossos clientes de serviços marítimos e nossa capacidade de atender às necessidades logísticas deles”, afirmou a companhia, em relatório

Especificamente na América Latina, Robbert afirma que os serviços logísticos também ganharam destaque, com aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado. 

“O que mais falta na América Latina e no Brasil é a visibilidade da cadeia logística. Demandas de carga, de produtos para o consumidor, nível necessário de estoque. Tudo isso é, hoje, de certa forma invisível pela fragmentação dos operadores. Queremos reunir tudo isso conosco”, diz. 

Apesar de a concorrência em larga escala não ter grande quantidade, ela não é inexistente. Entre as maiores empresas a fazer esse tipo de serviço no país, estão a Costa Brasil, Log-In e Mercosul Line.

“Há muito mercado a ser explorado, porém alguns fatores como a burocracia e o desconhecimento acerca dos benefícios que a multimodalidade pode trazer ainda são alguns desafios a serem superados no país”, diz Roberto Veiga, Diretor de Atendimento e Inovação da Costa Brasil.

Em média, segundo as estimativas da companhia, é possível reduzir em 20% o valor do frete usando a multimodalidade em casos extremos, esse percentual pode chegar a até 50% de economia. Tudo isso pela eficiência gerada em cruzar informações e ir além do modal rodoviário no país.

Costa Brasil: dificuldade burocrática e de "educação" das empresas ainda são barreiras (Costa Brasil/Shutterstock)

No Brasil, segundo informações do Plano Nacional de Logística 2035, atualmente 65% da carga é transportada via modal rodoviário, 15% por ferrovias e 11% de porto em porto no mesmo país. Saber como os investimentos nessas frentes vão se desenvolver nos próximos anos pode ajudar a entender que decisões logísticas tomar.

No contexto geral brasileiro, há carência de investimentos em infraestrutura. Em 2020, o aporte para transportes foi um dos menores já registrados desde o início dos anos 2000, segundo informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O total, de 7,9 bilhões de reais, é menos de 10% do volume registrado em 2019.

Dados reunidos pela LCA Consultores em um estudo mostram que, caso o Brasil mantenha o patamar de investimento de 1,71% do PIB ao ano em infraestrutura, o país ainda ficará muito distante em termos de capacidade da média mundial. Para reverter esse cenário, é necessário que o país passe a investir 4,8% do PIB percentual similar ao registrado por países como Portugal, Marrocos, Vietnã e Peru, referências em investimento de longo prazo no setor.

Os consultores defendem a maior participação do setor privado em todas as frentes de infraestrutura, como capacidade de geração de emprego. “O efeito multiplicador dos investimentos em infraestrutura é de 1,44 real a mais para cada um real investido”, diz a consultoria no documento.

Espaço para o setor privado se desenvolver no país não falta, desde o transporte até as mãos do consumidor final. Melhorar esse processo tem efeitos comprovados para a recuperação da economia um tema tão necessário em um país com milhões de desempregados por causa da pandemia. Resta observar os efeitos para o futuro e como agentes como a Maersk e outras grandes empresas vão aproveitar o momento no país.

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