Negócios

Os desafios do Magazine Luiza após o IPO

Ao reagir tarde a seus rivais, Magazine Luiza vai encontrar cenário mais difícil para crescer

Luiza Helena Trajano, presidente da varejista: cenário mais difícil para crescer  (Germano Luders/EXAME)

Luiza Helena Trajano, presidente da varejista: cenário mais difícil para crescer (Germano Luders/EXAME)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 1 de março de 2011 às 23h43.

São Paulo – A abertura de capital do Magazine Luiza, anunciada ontem (28/2), é um dos movimentos mais esperados no setor de varejo. Ainda não se sabe quanto a empresa vai levantar na operação, mas o IPO não deve ser a solução mágica para todos os problemas da varejista. Mesmo com o caixa reforçado, o Magazine Luiza vai enfrentar um cenário mais difícil para crescer.

No prospecto preliminar, protocolado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa afirma que vai destinar recursos, entre outros, para duas estratégias: a abertura de novas lojas e a eventual aquisição de concorrentes no setor eletro-eletrônico.

O ponto é que, após a acelerada consolidação do setor de varejo nos últimos dois anos, ficou mais difícil para o Luiza encontrar espaço. Nesse intervalo, o Grupo Pão de Açúcar saltou para a liderança do setor, ao comprar o Ponto Frio e fundi-lo com a Nova Casas Bahia. Já a Ricardo Eletro e a Insinuante uniram-se na Máquina de Vendas, tornando-se um desafiante de peso. Com rivais mais fortes, o Magazine Luiza precisará mais do que dinheiro para avançar.

Mercado aquecido

Seguindo a velha lei da oferta e da procura, a corrida dos gigantes do setor para comprar redes menores elevou os preços dos negócios. “As redes de médio porte, possíveis alvos do Magazine Luiza para aquisição, estão supervalorizadas”, afirma Cláudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/Fia). Segundo Felisoni, o setor de varejo de bens duráveis vive um de seus melhores momentos e deve continuar aquecido nos próximos anos. “Não será fácil encontrar um bom negócio”, diz.

O tempo, contudo, parece estar contra o Luiza. A aquisição de redes menores é o caminho mais curto para reduzir a distância entre a rede de Luiza Helena Trajano e os líderes. Depois de perder a briga com o Pão de Açúcar pelo Ponto Frio, a empresária viu o grupo de Abílio Diniz disparar na dianteira. Assim, Luiza talvez seja obrigada a ir às compras em um momento de preços altos, mas pode não haver outra saída. “A estratégia de aquisições é a maneira mais ágil de ocupar espaços”, afirma Marcos Gouvêa, sócio da GS&MD – Gouvêa de Souza, consultoria especializada no setor de varejo.

Se der prioridade às aquisições, as melhores oportunidades estariam em redes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Nessas regiões, a competitividade é menor e a rentabilidade pode ser maior, já que é mais fácil ter clientes mais fiéis”, afirma Gouvêa.


A primeira aquisição realizada pelo Magazine Luiza, como resposta à consolidação do setor, seguiu esse roteiro. Em julho do ano passado, a empresa comprou a paraibana Lojas Maia por 290 milhões de reais.

Lojas próprias

O outro caminho destacado pelo Magazine Luiza em seu prospecto é a expansão via abertura de lojas próprias – o que, no jargão dos administradores, é o crescimento orgânico. Para os especialistas, a empresa não pode abrir mão desta estratégia, mas sempre se lembrando de que é o caminho mais longo.

“Crescer por meio da expansão de lojas próprias pode demorar mais. Isso exige da rede uma estrutura sólida, com uma equipe de profissionais voltada somente para sustentar o crescimento orgânico”, afirma Gouvêa. E o primeiro gargalo que a empresa encontrará é a falta de mão-de-obra. “O varejo enfrenta, atualmente, uma grande carência de bons profissionais”, diz o consultor.

O outro gargalo é bem conhecido: a falta de bons pontos para abrir novas lojas. “Faltam bons locais para instalar pontos-de-venda”, afirma Felisoni, do Provar. Além disso, nas cidades mais disputadas, como São Paulo, a própria concentração de lojas impõe outro desafio: não basta apenas encontrar um bom ponto – é preciso também saber se ele não vai atrapalhar. “Qualquer nova loja aberta em São Paulo, por exemplo, corre o risco de autofagia”, diz Gouvêa. Traduzindo: lojas da mesma rede podem virar concorrentes entre si.

A rede também parece compreender a situação. Marcelo Silva, superintendente da varejista, afirmou recentemente à imprensa que, entre os planos de expansão, estão a inauguração de lojas nos estados de Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde a rede ainda não está presente.

Possíveis negócios

De acordo com uma fonte consultada por EXAME.com, que prefere ter seu nome não publicado, a Lojas Colombo, com mais de 70 unidades no estado de São Paulo e forte presença também na região Sul do país, é um dos principais alvos da Magazine Luiza. “Há perspectivas de que um negócio entre as duas redes possa acontecer”, diz.


No setor de comércio eletrônico, existem também possibilidades de fusões ou aquisições, principalmente para que o Magazine Luiza comece a vender produtos que hoje não são ofertados nas lojas físicas.

Segundo Gouvêa, o comércio eletrônico deve crescer muito mais que o varejo convencional nos próximos anos. “Uma fusão ou aquisição neste segmento é positiva, uma vez que a varejista já tem tradição no mercado e passa confiança para os consumidores”, afirma.

Futuro

Com o IPO, o Magazine Luiza pretende sustentar o crescimento da rede nos próximos cinco anos. Até 2015, a companhia quer triplicar a receita e faturar cerca de 15 bilhões de reais. No ano passado, a rede faturou 4,8 bilhões de reais, com ganhos de 68,8 milhões de reais.

Neste ano, a varejista quer aumentar o faturamento em 20% na comparação com 2010. A inauguração de 50 unidades está prevista para este ano. Mais de 30% das novas lojas devem ser abertas na Grande São Paulo. Segundo Luiza Trajano, presidente da varejista, o faturamento de São Paulo em dois anos foi o mesmo que a rede demorou para conquistar em 46 anos de atuação.

Como toda empresa de capital aberto, o Magazine Luiza vai precisar dar retorno aos investidores que participaram do IPO – e àqueles que comprarão seus papéis depois. Ao perder o Ponto Frio para Abílio Diniz, Luiza declarou que a maior lição que tirou do episódio é que deveria ser mais ousada nos negócios. Os acionistas talvez cobrem essa ousadia – mas vão cobrar muito mais o retorno de seu investimento. O IPO é apenas o primeiro desafio do Magazine Luiza.

 

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