Odebrecht diz que não vai se manifestar sobre depoimentos
Em nota, empresa afirmou apenas que não comenta eventuais depoimentos de pessoas físicas
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de março de 2017 às 14h59.
Brasília - Em meio aos vazamentos de depoimentos de delatores prestados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Odebrecht informou nesta sexta-feira, 24, em nota enviada à imprensa, que não se manifesta "sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas físicas, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça".
"A empresa está implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade", diz a nota.
O presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, criticou nesta sexta-feira o vazamento dos depoimentos sigilosos prestados por ex-executivos da Odebrecht no âmbito da ação que pede a cassação da chapa formada em 2014 por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB).
"Eu exijo que nós façamos a devida investigação nesses vazamentos lamentavelmente ocorridos. Isso fala mal das instituições. É como se o Brasil fosse um país de trambiques", disse o ministro ao participar de um seminário sobre reforma política no TSE.
O juiz-auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral Bruno César Lorencini mandou instaurar procedimento interno para investigar o vazamento dos depoimentos.
Dinheiro vivo
Em depoimento prestado ao TSE, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que a empreiteira pagou um total de R$ 21 milhões em dinheiro vivo a três partidos políticos para comprar tempo de TV para a chapa Dilma-Temer 2014. O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso à íntegra do depoimento de Alexandrino Alencar, mantido sob sigilo.
O dinheiro, proveniente de caixa 2, foi entregue em hotéis e flats. Conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo no início deste mês, Alexandrino Alencar disse ao TSE que a empreiteira pagou R$ 7 milhões para cada um desses três partidos: PROS, PCdoB e PRB, em um total de R$ 21 milhões.
Fontes que acompanham as investigações consideram o depoimento de Alexandrino Alencar um dos mais delicados para Dilma e Temer, já que em 2015 o TSE mudou a sua jurisprudência e passou a reconhecer a compra de apoio político como uma forma de abuso de poder econômico.
Em resposta encaminhada ao TSE, o PRB disse não ter recebido caixa 2, propina, ou "recurso financeiro de qualquer origem ilícita" para apoiar a chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014. O PCdoB informou à Corte que o apoio à candidatura de Dilma em 2014 se deveu a "identidade de projetos político-ideológicos." O PROS alega que todas as doações recebidas pelo partido nas eleições de 2014 "foram devidamente declaradas para a Justiça Eleitoral".
Já o ex-presidente da construtora Odebrecht Marcelo Odebrecht afirmou ao TSE que "inventou" a campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014.
A assessoria de imprensa da ex-presidente afirmou, em nota, que ela "não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula".
O texto afirmou ainda que Dilma "sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio".
Padilha
O ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho Filho, por sua vez, disse que o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), passou a ele todos os endereços para o pagamento de R$ 4 milhões destinados ao PMDB durante a campanha eleitoral de 2014. A reportagem também teve acesso à íntegra do depoimento de Filho.
Um dos locais indicados por Padilha foi o escritório de José Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer (PMDB), informou Carvalho Filho ao ministro Herman Benjamin, relator da ação que apura se a chapa Dilma-Temer cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger. Esse pagamento teria sido realizado no dia 4 de setembro de 2014.
"Todos os endereços, esses e os outros que eu não me lembro me foram dados pelo Eliseu Padilha", disse Carvalho Filho.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Padilha disse que o ministro não vai se pronunciar sobre o vazamento do depoimento.