Negócios

O Yahoo! ainda tem jeito?

Um jantar com uma taça de vinho intocada mudou o destino da empresa de internet Yahoo! em meados de junho de 2012. O palco era o luxuoso apartamento de Michael Wolf, conselheiro do Yahoo!, em Manhattan, onde boa parte da cúpula da companhia estava reunida. A convidada, Marissa Mayer, estrela em ascensão no Google. Naquela […]

MARISSA MEYER, DO YAHOO!: após 48 aquisições, sua empresa capitulou e foi adquirida pela Verizon  / Robert Galbraith/ Reuters

MARISSA MEYER, DO YAHOO!: após 48 aquisições, sua empresa capitulou e foi adquirida pela Verizon / Robert Galbraith/ Reuters

DR

Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2016 às 12h58.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h41.

Um jantar com uma taça de vinho intocada mudou o destino da empresa de internet Yahoo! em meados de junho de 2012. O palco era o luxuoso apartamento de Michael Wolf, conselheiro do Yahoo!, em Manhattan, onde boa parte da cúpula da companhia estava reunida. A convidada, Marissa Mayer, estrela em ascensão no Google. Naquela noite, ela foi convidada para assumir o Yahoo! e de pronto apresentou um ambicioso plano para reerguer a empresa, mudar sua cultura, reformular a diretoria. E, como notaram os presentes, não tocou sua taça de vinho.

Marissa acabou contratada e de imediato devolveu o Yahoo! aos holofotes. Seu ambicioso plano foi executado com uma disciplina germânica, mas nada saiu como o previsto. Nesta segunda-feira, após um longo leilão, o Yahoo! foi vendido ao grupo de telecomunicações Verizon por 4,8 bilhões de dólares. A ascensão e queda da companhia com Marissa é uma da mais espetaculares histórias recentes do mercado de tecnologia – e o futuro do Yahoo!, desde hoje, o assunto da vez no Vale do Silício.

Marissa levou ao Yahoo! uma capacidade de trabalho que andava em falta na empresa. Ela assumiu a presidência grávida de sete meses – daí a taça de vinho intocada no jantar de contratação. E, num movimento que gerou tantos comentários quanto sua contratação, voltou ao trabalho apenas duas semanas depois de dar a luz. Construiu um berçário para seu filho dentro de sua sala, em Sunnyvale, na Califórnia. Poucos meses depois, a chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, lançou Lean In, um livro pedindo que as mulheres fossem mais proativas em seus trabalhos, o que só aumentou o debate em torno da estratégia de Marissa. No fim das contas, sua estratégia ajudou ou atrapalhou a luta de mulheres por melhores condições de trabalho?

Ninguém sabe ao certo. Mas Marissa de fato chacoalhou um negócio que cozinhava em banho Maria. Fundado em 1994 por dois graduados de Stanford, o Yahoo! foi a porta de entrada para a internet para uma geração de usuários. Mas, quando ela chegou, os sites da companhia recebiam menos visitantes a cada ano, e seus aplicativos eram completamente ignorados pela audiência. Os engenheiros e programadores mais talentosos se mudavam em manada para os Googles e Facebooks da vida, ou ficavam e trabalhavam apenas um par de horas por dia. Marissa acabou com o home office e ordenou que todos aparecessem cedo para trabalhar todos os dias — um negócio em apuros, afirmou, precisava de pessoas próximas, discutindo e tentando resolver os problemas em equipe.

Seu plano era recuperar uma empresa que, segundo suas próprias palavras, estava a caminho de quebrar. O plano era fazer do Yahoo! mais uma vez um polo de atração de anúncios capaz de bater de frente com Google e Facebook, especialmente nos smartphones. Para isso, gastou muito em contratações e aquisições que no fim não deram em nada. O novo chefe de operações, Henrique De Castro com um pacote de remuneração de 62 milhões de dólares por quatro anos, sem contar as ações. Uma de suas principais apostas foi a compra do agregador de blogs Tumblr, pelo qual pagou 1,1 bilhão de dólares em 2013. Em quatro anos, Marissa comprou 48 negócios, entre companhias de e-commerce e de vídeos de países como China, Israel, Índia e Estados Unidos.

“O plano dela era construir diversos tipos de ferramentas para as pessoas usarem a internet em seus celulares. Isso foi um erro porque, quando Mayer chegou à companhia em 2012, esse nicho de mercado já estava ocupado: Apple com o iPhone e Google com o Android, além das milhares de pessoas que faziam aplicativos para as duas plataformas. Ela tentou coordenar o Yahoo! para lançar meia dúzia de aplicativos por ano na esperança de que milhões de pessoas os achassem úteis. Mas há milhares de startups fazendo isso. Foi um grande erro estratégico”, disse a EXAME Hoje Nick Carlson, biógrafo de Marissa, em entrevista concedida em maio.

O futuro

A venda do Yahoo! era especulada há meses e a Verizon bateu concorrentes de peso, como a AT&T mobile. O negócio envolve os ativos do grupo na web – buscador, notícias, finanças, esportes, vídeo, e-mail e a rede social Tumblr – e ficam de fora as participações que o Yahoo! tem em outras empresas, como a chinesa Ali Baba e no Yahoo! Japão, que têm um valor combinado de 40 bilhões de dólares.

Para gerir essa parte da empresa, que é basicamente um fundo de investimentos, será criada uma nova companhia também listada em bolsa. O Yahoo!, que antes do estouro da bolha da internet, em março de 2000, chegou a valer mais de bilhões de dólares, estava cotado em cerca de 37 bilhões (incluindo os negócios na China e no Japão).

A Verizon vai adicionar o Yahoo! à divisão que foi criada com a compra de outra gigante da internet dos anos 1990, a AOL, em maio do ano passado. Dessa forma, pretende dobrar sua fatia de mercado na publicidade digital dos Estados Unidos, atualmente em 4,5%. Ainda assim, ficará distante dos dois primeiros colocados do ranking, o Facebook, com 17% e o Google, com 36%. Em 2014, o presidente da AOL, Tim Armstrong, chegou a propor uma fusão com o Yahoo!, mas a ideia foi rejeitada por Mayer.

A compra traz riscos para a Verizon, que é a maior operadora de telefonia celular e internet sem fio dos Estados Unidos, mas não têm experiência no setor de publicidade e mídia digital. Por outro lado, embora o Yahoo! viesse enfrentando dificuldades em sua mudança para o mobile, a empresa ainda é atrativa. “Eu creio que em cerca de um ano estaremos lendo reportagens sobre uma reduzida máquina de lucros chamada Yahoo!. As pessoas vão descrever como uma reviravolta impressionante e os lucros serão grandes. Não é uma grande história sexy, não haverá mais pessoas usando o Yahoo! do que há hoje. Mas o Yahoo! já tem usuários o suficiente e deveria ser considerado uma companhia mais saudável do que é atualmente”, diz Carlson, o biografo de Mayer.

Os dilemas da Verizon são parecidos com os do Yahoo!. A companhia, com sede em Nova York, tenta deixar de ser uma empresa de infraestrutura de telecomunicações para ser somente uma operadora sem fios. Em abril, os trabalhadores desse setor da empresa entraram em uma greve, que durou quase dois meses e foi a maior da história dos Estados Unidos, com cerca de 40.000 pessoas paradas – até advogados e administradores, chegaram a ficar responsáveis pela instalação e manutenção de cabos.

Em uma carta para os empregados da companhia noticiando a venda, Marissa Mayer disse que planeja continuar na empresa. Mesmo com o fracasso de sua gestão, ela deve receber algo em torno de 54,9 milhões de dólares quando de fato sair do Yahoo!. “Ela ainda é uma pessoa muito jovem e tem uma carreira longa e brilhante”, diz Carlson. “Mas não creio que ela administrará uma grande companhia de capital aberto por um longo tempo”. Dinheiro, pelo menos, não será um problema.

Yahooporra22

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Negócios

Imprensa mundial celebra o Dia do Jornalismo com campanha global “Escolha a Verdade”

Ele fatura R$ 245 milhões erguendo condomínios do Minha Casa, Minha Vida com lazer típico de clube

Double 11: e-commerce chinês se prepara para maior festival de compras

Segredos revelados: como a Smart Fit reinventou o modelo de academias e dominou a América Latina