O que pode acontecer com a Sadia... sem a Perdigão?
Salva pela concorrente depois de quase naufragar com prejuízos financeiros, empresa pode terminar nas mãos de outro grupo
Daniela Barbosa
Publicado em 10 de junho de 2011 às 08h14.
São Paulo – Quando a Perdigão e a Sadia fecharam o acordo de fusão, a Sadia vivia a maior de suas crises financeiras. Um ano antes, a empresa havia comprado um volume excessivo de derivativos cambiais, para proteger suas exportações contra a desvalorização do dólar. Tanta cautela resultou em um prejuízo recorde de 2,5 bilhões de reais, em 2008. Na época, não vendo outra opção, a Sadia uniu-se à sua principal concorrente, a Perdigão, o negócio fez com que a marca se reerguesse e continuasse operando no mercado.
Hoje, pouco mais de dois anos depois do anúncio da operação, a Sadia vive outro grande imbróglio após o relator do caso no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Carlos Ragazzo, ter votado contra a operação. Agora, os demais conselheiros precisam apresentar seus votos, mas especialistas consultados por EXAME.com avaliam que o acordo passou a correr sérios riscos de ser vetado.
Se isto acontecer, a grande dúvida é o que como a Sadia poderá sobreviver sozinha. Os observadores lembram que as finanças da empresas só voltaram aos trilhos, depois de a Perdigão aportar 4 bilhões de reais, após o anúncio da fusão. Se o negócio for desfeito, é praticamente certo que a Sadia teria de devolver essa dinheirama. “Só não dá para saber como a Sadia vai levantar essa quantia”, disse Ricardo Inglez de Souza, responsável pela área de direito concorrencial, comércio internacional e consumidor do escritório Dias Carneiro.
Segundo o advogado José Del Chiaro, sócio do escritório que leva o seu nome, ainda é cedo para se tirar qualquer conclusão em relação ao destino da Sadia e até mesmo da Brasil Foods. Mesmo afirmando que dificilmente a operação será aprovada pelos demais conselheiros e até mesmo na Justiça. “Mas existem outras maneiras da companhia se capitalizar. Trata-se de uma grande empresa e com um potencial grandioso”, afirmou Chiaro.
Buscar empréstimos para manter-se no mercado ou até mesmo colocar novamente seus ativos à venda pode ser alternativas viáveis para que a Sadia não volte a sua situação de anos atrás. “Caso o Cade vete a união entre as partes, os ativos que já eram da Sadia, antes da fusão, poderão ser alienados por um controlador independente”, afirmou Bruno Leal professor do curso de pós-graduação de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para ele, com a união, a Sadia livrou-se de um grande problema. “É difícil afirmar se ela sairá perdendo caso o negócio seja desfeito agora. Talvez a Sadia nem existisse mais, se há dois anos, não tivesse se unido à Perdigão”, afirmou Leal. “No entanto, acho difícil que a Brasil Foods aceite a decisão do Cade sem contestar. Muita coisa ainda pode acontecer”, afirmou Leal.
Nesta quinta-feira (9/6), a corretora Fator avaliou que a Sadia vale nada mais nada menos que 8,4 bilhões de reais. Em relatório assinado pelo analista Renato Prado, a corretora diz que o cálculo conta é baseado na “pior das hipóteses, que é a de venda de todos os ativos referentes às operações da Sadia”. Resta saber se haverá interessados em arrematar a marca.