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O que o Santander pode ensinar sobre o Complexo do Alemão

Instituição possui agência na comunidade desde o começo do ano; Caixa e Banco do Brasil instalarão unidades em breve

Agência do Santander no Alemão: entre os motivos que levaram o banco à comunidade, estava a busca por uma alta densidade populacional (DIVULGAÇÃO)

Agência do Santander no Alemão: entre os motivos que levaram o banco à comunidade, estava a busca por uma alta densidade populacional (DIVULGAÇÃO)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2010 às 08h23.

São Paulo - Após o Complexo do Alemão viver um final de semana digno de José Padilha, o diretor de Tropa de Elite 2, a ocupação da comunidade pelas forças policias e a perspectiva de pacificação já despertam o apetite dos homens de negócios. Os primeiros a se manifestarem foram os bancos. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil anunciaram os planos de inauguração de agências na favela. Também há rumores de que o Itaú estaria estudando a instalação de uma unidade local.

Enquanto os bancos públicos estudam como vão entrar no maior complexo de favelas do Rio de Janeiro, o Santander já é um veterano do Alemão. A instituição mantém uma agência no local há cerca de seis meses. Essa foi a primeira comunidade onde o banco abriu uma agência.

Entre os motivos que levaram o Santander ao Complexo do Alemão, estava a busca por uma alta densidade populacional, "onde o banco pudesse fazer a diferença", segundo Robson Rezende, superintendente de expansão de rede do Santander.

Além disso, o banco já possuía uma parceria com a ONG AfroReggae. "Para entrar numa comunidade assim, é preciso ter o apoio da associação de moradores", diz Rezende. Foram estudadas seis outras favelas até o Alemão ser escolhido. O banco pretende abrir novas unidades em comunidades no futuro.

Para ser bem-sucedido numa comunidade como o Alemão, Rezende afirma que é preciso uma série de cuidados. O primeiro é não ser, obviamente, preconceituoso. "Não pode entrar na comunidade com postura preconceituosa ou seletiva, do tipo ‘vou mas não vou levar certos produtos", diz. Além de uma visão estreita do que é uma comunidade, há também a perda potencial de negócios, se essa postura prevalece.

Microcrédito

Os produtos de maior sucesso, além da conta corrente, são o microcrédito, o crédito pessoal e a poupança – que contrariou as expectativas do banco. "Existe uma visão errada de que a pessoa de baixa renda não poupa", diz. Hoje, são aproximadamente 600 clientes, entre pessoas físicas e jurídicas.

O banco não revela o investimento feito na agência, mas a cifra seria semelhante às gastas nas unidades "do asfalto". "A qualidade das instalações é a mesma, é a mesma cadeira da Vila Nova Conceição (bairro de classe alta em São Paulo)". São 10 funcionários no banco e mais quatro especialistas, sendo que 70% do total é da comunidade.


No fundo, tudo se resume ao básico de qualquer negócio: entender o que o cliente quer, segundo Rezende. "O cliente às vezes não sabe do que ele precisa, como ele não é bancarizado ele fala do que precisa para a vida dele (e não qual o serviço bancário)", diz.

A agência disse que não enfrentou nenhum tipo de violência nesses seis meses. "Mesmo com o conflito, a nossa agência não tem um vidro arranhado", diz o superintendente. O Santander não prevê impacto nos negócios após a movimentação do final de semana. Mas vai ter que se acostumar com os novos vizinhos.

Ocupação financeira

O Banco do Brasil vai inaugurar sua unidade no Complexo do Alemão – especificamente no Morro da Baiana - até o Natal. O banco começou sua atuação voltada para o público das comunidades em 2003, com a ação de desenvolvimento regional sustentável (DRS). A Caixa Econômica Federal vai instalar uma agência no Complexo do Alemão em 2011. O banco chegou às comunidades em 1998, quando abriu uma agência na Rocinha.

O Bradesco também já possui unidades em favelas, e, apesar de ainda não ter apresentado nenhum plano concreto para o Complexo do Alemão, não exclui a possibilidade. "A exemplo de outras comunidades, o Complexo do Alemão faz parte dos estudos de avaliação do Bradesco para instalação de postos de atendimento", informou a empresa.

Rumores de mercado apontam uma possível parceria do Itaú Unibanco com o governo do Rio de Janeiro para instalar agências voltadas para comunidades que estão sendo pacificadas. Procurado, o banco não respondeu à solicitação de entrevista até a publicação desta reportagem.

Oferta de serviços

Após a pacificação de uma comunidade, o poder público oferece serviços básicos, como água e luz. O segundo movimento vem do setor financeiro, através de instituições de microcrédito e bancos, segundo Francisco Barone, professor da Ebap/FGV. A pacificação resolve o principal problema das favelas: "se o traficante cismar com seu negócio, você vai entrar na Justiça?", pergunta o professor.

O risco de perder o negócio acaba afastando os empresários, que são atraídos pelo mercado das classes C e D instalado nos morros. No Complexo do Alemão há 89.912 pessoas, segundo a Casa Civil do estado - nas contas do Santander são cerca de 140.000. A Caixa Econômica Federal foi mais generosa e somou 400.000. O Complexo do Alemão deve receber sua unidade de polícia pacificadora daqui a, no mínimo, sete meses, segundo o governo.

O setor que chega às comunidades pacificadas depois dos bancos é o de alimentação, segundo Barone, e outros serviços específicos. "Empresas de fornecimento de botijão de gás, cujo serviço é dominado pelo tráfico, com a pacificação podem voltar a distribuir o produto para a comunidade", diz. Se a ocupação do Complexo do Alemão realmente vingar, o Santander terá muita companhia nos próximos meses - e algumas, como os bancos, virão com bastante vontade de dominar o morro.

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