Desfile de Carnaval: desafios semelhantes aos de uma empresa (Alan Betensley/Wikimedia Commons)
Tatiana Vaz
Publicado em 23 de fevereiro de 2012 às 08h38.
São Paulo – Confete no chão, máscaras caindo, últimos compassos de samba no pé e a música no trio cada vez mais longe... aos poucos, os foliões dão o triste adeus ao Carnaval. Por sua vez, é ele quem abre espaço para o ano sem mais desculpas para não começar, bem como para o trabalho que agora engrena de vez.
Fica o cansaço para uns, o descanso para outros e as boas lembranças para todos. Para as empresas, ficam também as lições trazidas pelas escolas de samba, não só nos quesitos básicos de inovação, criatividade, motivação e animação, mas pela maneira de conquistar notas altas suficientes para se destacar no mercado, ou melhor, na avenida.
Na opinião de Carlos Alberto Júlio, professor nos MBA da USP, ESPM e FGV, os dois quesitos mais complexos nesse sentido são os de evolução e harmonia. “Há empresas criativas, inovadoras, capitalizadas, mas que não prosperam porque pecam em evolução e harmonia”, afirma ele em artigo recente sobre o tema.
Abaixo algumas lições que podem ser aprendidas, segundo o professor:
Evolução dos processos
“Ao julgar a “evolução”, o jurado deve verificar se os componentes estão evoluindo de acordo com o ritmo do samba e a cadência da bateria”, diz o professor. “Seus olhos devem estar atentos para o deslocamento coletivo das alas. Deve determinar se há compactação, fluência e coesão”.
Em uma empresa, o descompasso atrapalha a evolução dos processos e pode embolar, com certa frequência, o fluxo de trabalho. É o caso de áreas que deveriam se entrosar, mas não conseguem por só enxergarem seus interesses. Exemplos: áreas de compras e logística; venda e financeiro.
“Uma mercadoria chega e não encontra lugar no estoque. É assim que algumas cadeias de supermercados, volta e meia, apresentam filas de caminhões diante de seus depósitos. É aquele Deus nos acuda para acomodar os produtos adquiridos”, afirma ele.
O contrário também acontece. A área de distribuição não informa sobre o volume de vendas de item, que tem de ser reposto por compras antes que uma lacuna seja formada pela falta do item em estoque. “Se a sua empresa embola as alas, vai ter problemas. Se deixa espaços injustificados entre elas, também vai reduzir sua eficiência”, diz Carlos.
Harmonia entre falar e fazer
A avaliação do quesito é bem simplificada pelo professor: a proposta é verificar o entrosamento entre ritmo e canto. Os integrantes da escola precisam cantar o samba enredo, o tempo todo, em consonância uns com os outros e com o puxador (intérprete).
“Se o gestor disser uma coisa e fizer outra, não há como ele ser seguido pelos colaboradores, muito menos encontrar formas de haver coesão na hora de respeitar valores e perseguir metas”, afirma o professor. “Por vezes, a mensagem é passada, mas demora até ser compreendida e entendida pelo grupo de trabalho.”
Não atravesse o samba
Não é à toa que essa ação virou até uma expressão corriqueira usados no Brasil para deixar claro quando um grupo ou pessoa atrapalha os interesses de outros. O samba atravessa, na avenida, quando as pessoas da comissão de frente cantam uma parte da composição enquanto a ala das baianas recita outro verso.
“Vemos isso cotidianamente nas empresas. Um departamento empolgado, atuando de acordo com o discurso da inovação, enquanto outro ainda recita velhas regras operativas”, afirma Alberto Júlio.
Evitar a situação só é possível quando o puxador, assim como o gestor nas empresas, canta de forma clara e alta o samba enredo da escola. Canta de uma maneira que não deixa dúvidas sobre o que está sendo ouvido e o que precisa ser entoado de maneira sincronizada por toda a organização.
Escola unida, vence unida
É preciso chegar até o final da avenida, no tempo e de acordo com as regras estabelecidas, da forma mais próxima ao impecável e grandiosa. Objetivo que se torna impossível se o gestor não manter seus colaboradores em atividade permanente, na busca por uma ajuda e compreensão mútua e sempre movido para frente.
“Alinhe seus valores, unifique suas metas e trabalhe para que suas equipes cantem sempre a mesma música”, afirma Carlos no artigo. “Abençoados somos nós, brasileiros, que temos exemplos tão claros e efetivos de como gerir para o sucesso”.