Negócios

GE é acusada de maior fraude da história, de US$ 38 bilhões

"Acreditamos que a fraude de 38 bilhões de dólares que encontramos é apenas a ponta do icebergue", escreveu o especialista Markopolos

Após as investigações e denúncias, a companhia ainda precisa esclarecer os números em seus últimos balanços (Arnd Wiegmann/Reuters)

Após as investigações e denúncias, a companhia ainda precisa esclarecer os números em seus últimos balanços (Arnd Wiegmann/Reuters)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 06h00.

Última atualização em 21 de agosto de 2019 às 08h44.

A GE está envolvida em mais um escândalo de fraude contábil. Um relatório extenso sobre os balanços da companhia acusa a companhia de esconder mais de 38 bilhões de dólares em perdas nos últimos anos e de mascarar a real situação financeira da companhia. O valor encoberto pela fraude seria superior a 40% do valor de mercado da companhia, que estaria à beira da insolvência. 

O estudo, divulgado na semana passada, foi feito pelo especialista contábil Harry Markopolos, um dos primeiros especialistas a apontar para o esquema o esquema de Bernie Madoff, ex-investidor que criou a maior pirâmide financeira da história, com perdas de 65 bilhões de dólares.

O relatório afirma que a fraude financeira da GE pode ser "maior que a Enron e Worldcom". A Enron, uma companhia de energia, serviços e commodities norte-americana, pediu falência como consequência de um escândalo divulgado em 2001. Investigações descobriram que executivos usavam lacunas contábeis para esconder dívidas e inflar o valor da companhia. O esquema da Worldcom foi descoberto logo em seguida, em 2002, quando auditorias internas descobriram contas falsas para inflar ativos e receitas.

"Meu time passou os últimos sete meses analisando a contabilidade da GE e acreditamos que a fraude de 38 bilhões de dólares que encontramos é apenas a ponta do icebergue", escreveu Markopolos.

A investigação analisou oito dos maiores contratos de cuidado de longo prazo da divisão de seguros, bem como contratos de seus concorrentes. Segundo as acusações, a companhia estaria escondendo perdas de seus investidores por meio de comunicados regulatórios falsos.

Segundo a análise, a GE muda o formato de seus relatórios financeiros com certa frequência para impedir que analistas façam projeções mais longas. A investigação também aponta falta de transparência na divulgação dos custos reais dos produtos vendidos e de despesas administrativas.

No mesmo dia em que o relatório foi divulgado, as ações da GE despencaram 14%. Os papéis já se recuperaram, mas continuam 4% mais baixos que antes da divulgação do relatório.

Resposta

Em comunicado, divulgado em resposta às acusações, a GE afirmou que as acusações de Markopolos não têm mérito. 

"A companhia nunca se encontrou falou ou teve contato com o senhor Markopolos e estamos extremamente desapontados que um indivíduo sem conhecimento direto da GE escolheria fazer acusações tão sérias e infundadas. A GE opera com os níveis mais altos de integridade e confia nos seus balanços financeiros. Continuamos focados em manter o nosso negócio todos os dias, seguindo o caminho estratégico que traçamos", escreveu a empresa.

A companhia ainda menciona que Markopolos reconhece que está sendo compensado por fundos de hedge não nomeados. Segundo a companhia, o objetivo de tais fundos é levar a uma venda das ações da companhia no curto prazo, para gerar volatilidade. Ou seja, Markopolos teria divulgado o relatório para benefício próprio.

Outros casos

Não é a única investigação envolvendo a companhia, que fechou o ano de 2018 com prejuízo. A GE é investigada pelo Departamento de Justiça (DoJ) e o pelo órgão de regulação da Bolsa de Valores nos EUA, a SEC, desde janeiro de 2018.

A SEC iniciou uma investigação sobre as práticas contábeis da divisão de seguros, depois que a companhia anunciou um grande aumento das reservas dessa divisão, com gastos de 15 bilhões de dólares nos próximos cinco anos.

O órgão regulatório aumentou o escopo das investigações em outubro do ano passado, após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2018, que demonstraram um custo alto de 22 bilhões de dólares de seu setor de energia, a Alstom.

O setor energético da empresa não consegue se recuperar da queda dos preços de eletricidade e da redução nas encomendas de turbinas. Por isso, esses ativos sofreram uma desvalorização de 22 bilhões de dólares , o que afetou os resultados da divisão.

Na ocasião, o diretor financeiro da companhia, Jamie Miller, disse que "estamos cooperando com a SEC e o DOJ enquanto eles continuam a trabalhar sobre esses assuntos".

Também no ano passado, ela fechou um acordo preliminar de 1,5 bilhão de dólares com autoridades dos Estados Unidos pela aquisição de hipotecas de alto risco antes da crise financeira de 2008. As hipotecas por uma de suas unidades foram adquiridas entre 2005 e 2007, antes do início da crise financeira global.

Há cerca de dez anos, a SEC multou a companhia por fraude na contabilidade, alegando que a empresa "enganou investidores ao reportar resultados enganosos e materialmente falsos em seus relatórios financeiros".

O órgão afirmou que a GE usou métodos contábeis impróprios para aumentar os lucros e receitas reportados. A companhia concordou em pagar uma penalidade de 50 milhões de dólares para fechar o caso, mas não negou nem confirmou as acusações. 

Após as investigações e denúncias, a companhia ainda precisa esclarecer os números em seus últimos balanços, para comprovar a solidez de sua contabilidade.

Acompanhe tudo sobre:EscândalosFraudesGE - General Electric

Mais de Negócios

Ex-técnico olímpico fatura milhões com empresa gaúcha de cabos náuticos

Com fritadeira elétrica, Shopee bate recorde de vendas no "esquenta" da Black Friday

Com linha de dermocosméticos para pele negra, ela quer empoderar mulheres por meio da beleza

“Disneylândia do Palmito” reúne gastronomia, turismo e lazer no interior paulista