O que disse a Odebrecht aos funcionários após recuperação judicial
Após entrar com plano de recuperação judicial, Odebrecht envia comunicado encorajando os 48.000 funcionários a continuarem atividades normalmente
Carolina Riveira
Publicado em 17 de junho de 2019 às 19h18.
Última atualização em 19 de junho de 2019 às 13h39.
A Odebrecht formalizou um pedido de recuperação judicial nesta segunda-feira, 17, em meio a dívidas entre 80 e 90 bilhões de reais. E enquanto o caso era divulgado pela imprensa, o braço de comunicação interna da empresa enviava a seus 48.000 funcionários um comunicado oficializando o caso, explicando o tamanho das dívidas e motivando os empregados a continuarem "desempenhando as suas atividades normalmente".
O comunicado disparado via e-mail e obtido por EXAME lembra aos funcionários que as empresas da holding Odebrecht S.A "continuarão desempenhando as suas atividades normalmente". "Para isso, é importante que vocês mantenham a mesma dedicação e concentração jamais negadas na execução e superação dos seus programas de ação", diz o texto, assinado pelo diretor-presidente da Odebrecht S.A, Luciano Guidolin.
A possibilidade de recuperação judicial da empresa já vinha sendo aventada há algum tempo diante da má situação financeira, mas aumentou na última sexta-feira, 14, quando a Caixa Econômica Federal executou sua parte nas dívidas e deixou a empreiteira em maus lençóis.
O valor das dívidas da Odebrecht torna seu processo de recuperação judicial, formalizado na Justiça de São Paulo, o maior do tipo no Brasil.
O próprio quadro de funcionários da Odebrecht vem sendo uma das vítimas dos problemas financeiros originados, sobretudo, dos processos de investigação por corrupção e perda de valor que a empresa vive nos últimos anos.
Em 2014, ano em que as investigações da operação Lava-Jato começaram a ganhar os holofotes e implicar a Odebrecht, o grupo tinha quase quatro vezes mias funcionários do que tem hoje. O grupo tinha em 2014 181.556 funcionários (sem incluir terceirizados), ante 58.000 em 2017 e 48.000 nos números mais recentes.
Essas dificuldades também são lembradas no comunicado interno. "Há tempos vocês acompanham os esforços, que são de todos nós, para enfrentar os desafios empresariais surgidos a partir de 2016. Estamos fazendo o nosso dever de casa."
O comunicado ressalta as reformas administrativas feitas pela empresa (como reformulação do conselho de administração, com mais conselheiros independentes) e pelas quais, diz o texto, "ainda não recebemos pleno reconhecimento por termos nos transformado inteiramente e superado os erros cometidos no passado".
A crise econômica brasileira também é apontada como um dos motivos para os problemas da Odebrecht. "É claro que, durante esse tempo, a mais grave crise econômica em décadas impactou de forma significativa a recuperação dos negócios".
Para tentar motivar os funcionários a seguir cumprindo as funções sem desanimar, a empresa reafirma sua esperança de que o fim do túnel da recuperação judicial não será a falência. "A própria lógica do instituto da recuperação judicial tem como imperativo preservar a empresa", diz Guidolin no texto. "Tenho confiança de que superaremos esta etapa com sucesso. Vocês, integrantes, são uma parte importantíssima desse processo."
Confira abaixo o comunicado completo enviado aos funcionários da empresa.
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Comunicado enviado aos funcionários da Odebrecht S.A sobre pedido de recuperação judicial da empresa
Caras (os) integrantes,
Em respeito ao compromisso que assumi de manter vocês atualizados, agindo sempre com transparência, informo que a Odebrecht S.A., em conjunto com suas sociedades controladoras e certas controladas, foi obrigada a entrar hoje, 17/06, com pedido de recuperação judicial, devido ao vencimento de algumas dívidas e a ataques judiciais que trariam prejuízos significativos às nossas empresas.
O pedido de recuperação judicial, que visa proteger a empresa, seus integrantes, empregos e patrimônio tangível e intangível, inclusive tecnológico, não impacta as empresas operacionais do nosso Grupo, como Braskem, OEC, Ocyan, OR, OTP, Enseada, OLI e Atvos, esta última já em recuperação judicial, nem OCS, Odebrecht Previdência e Fundação Odebrecht. O pedido de recuperação ajuizado contempla R$ 51 bilhões de créditos concursais, excluídos os créditos entre as próprias empresas do Grupo e créditos extraconcursais.
Tanto estas empresas como a própria holding Odebrecht S.A. continuarão desempenhando as suas atividades normalmente. Para isso, é importante que vocês mantenham a mesma dedicação e concentração jamais negadas na execução e superação dos seus programas de ação.
Gostaria que entendessem que, para nós, a recuperação judicial é a medida mais adequada neste momento. Representa uma mudança de ambiente para dar continuidade ao nosso esforço de reestruturação financeira. A partir de agora, a negociação se dará em forma coletiva com os credores e se desenrolará com proteção judicial para a empresa e os seus integrantes, e com mais coordenação, segurança e transparência. O nosso objetivo continua sendo o mesmo: a busca de uma solução definitiva e sustentável para o nosso equilíbrio econômico-financeiro, uma etapa indispensável para voltarmos a nos dedicar em breve aos nossos planos de crescimento.
Há tempos vocês acompanham os esforços, que são de todos nós, para enfrentar os desafios empresariais surgidos a partir de 2016. Estamos fazendo o nosso dever de casa. Fortalecemos a nossa governança corporativa, criando ou revigorando conselhos de administração nos Negócios, inclusive com integração de mais conselheiros independentes para dentro do Grupo, e com a adoção de novas políticas e diretrizes. Implantamos o nosso sistema de conformidade, buscando referências internacionais de melhores práticas, e estamos aperfeiçoando-o continuamente com a melhoria de processos internos e o uso de ferramentas necessárias para assegurar o nosso compromisso com a atuação ética, íntegra e transparente e o cumprimento de todas as obrigações dos acordos de leniência firmados no Brasil e no exterior.
Vocês percebem também, no dia a dia, como procuramos, permanentemente, reduzir despesas administrativas. Também buscamos liquidez e a redução da alavancagem, com a desmobilização de ativos. Neste ponto, concluímos as alienações de Odebrecht Ambiental, Embraport, Via Rio, Via 4, Ótima, Galeão, Rota das Bandeiras, Supervia, Logum, Complexo Eólico Corredor do Senandes, Rutas de Lima e Chaglla.
Além disso, no mesmo período, fizemos aportes de recursos em apoio a vários dos nossos Negócios, visando apoiar as suas atividades. São exemplos, desde 2016, R$ 6 bilhões na Atvos; R$ 1 bilhão na OEC; US$ 530 milhões na Ocyan; R$ 900 milhões na Enseada; e R$ 500 milhões na OR.
É claro que, durante esse tempo, a mais grave crise econômica em décadas impactou de forma significativa a recuperação dos Negócios. Adicionalmente, ainda não recebemos pleno reconhecimento por termos nos transformado inteiramente e superado os erros cometidos no passado, o que nos traz mais dificuldades de acesso a novas fontes de crédito e liquidez.
Neste cenário, a recuperação judicial dará à Odebrecht S.A., garantidora de uma parcela importante dos financiamentos tomados pelas empresas operacionais, tranquilidade, transparência e resiliência para reorganizar a sua estratégia de forma coordenada com os seus credores. A própria lógica do instituto da recuperação judicial tem como imperativo preservar a empresa, para que ela, mantendo normalmente as suas atividades, possa superar com o seu próprio esforço a sua crise econômico-financeira. Tenho confiança de que superaremos esta etapa com sucesso.
Vocês, integrantes, são uma parte importantíssima desse processo.
Conto com vocês.
Abraços,
Luciano Guidolin
Diretor-Presidente
Odebrecht S.A.