BRF: sem envolvimento de autoridades, o ônus desta fase da Carne Fraca ficará, por ora, nas costas das pessoas físicas / Divulgação (BRF/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 10 de outubro de 2018 às 08h55.
São Paulo - A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, divulgou novo plano para se recuperar de uma série de prejuízos, margens baixas, e embargos de venda para a Europa. Entre as estratégias, há uma constante: melhorar o que já é feito. Os planos incluem fazer a lição de casa para deixar o balanço mais saudável e fortalecer a presença onde ela já é forte.
A reviravolta na empresa deve demorar mais do que esperava o mercado e o crescimento de forma inorgânica, por meio de aquisições, vai ficar apenas para 2021.
Durante o Investor Day, evento voltado a investidores que aconteceu no dia 8, os diretores da empresa focaram grande parte da sua apresentação na melhoria de eficiência e rentabilidade da companhia. Os próximos dois anos serão dedicados à recuperação de lucro e margem, com melhoria operacional e de eficiência.
Uma das maneiras de alcançar um balanço mais positivo é o plano de desinvestimento da empresa, já anunciado, que pretende levantar cerca de 5 bilhões de reais com vendas de ativos. Esse plano deve ser completado até dezembro e deve ajudar a reduzir seu nível de endividamento, para uma meta de alavancagem (relação entre dívida e receita) de 1,5 a 2 vezes.
A empresa ainda sofre com embargos para a venda para a Europa, por conta da Operação Trapaça da Polícia Federal, que investiga fraudes em testes de salmonela em lotes de carne de frango voltados à exportação. A empresa está aberta a colaborar com as autoridades sobre as investigações da chamada Operação Trapaça, disse o presidente Pedro Parente durante evento com investidores.
Dessa forma, planeja fortalecer mercados em que já tem uma presença robusta. No Brasil, que corresponde a cerca de 50% da receita, as estratégias envolvem "potencializar crescimento nas categorias em que atuamos, com marcas e inovação", além de impulsionar alimentos com valor agregado, congelados, embutidos ou alimentos preparados e mais práticos.
Outro foco é no segmento Halal, no qual a empresa já é líder. Os produtos preparados de acordo com preceitos muçulmanos são vendidos principalmente no Oriente Médio, Norte da África, Sul e Leste da Ásia. Com o crescimento dessa população, a receita da empresa também deve crescer.
Além disso, ela pretende lançar novos produtos, como congelados, produtos temperados, porcionados e em bandejas, também com maior valor agregado. A previsão é que clientes que já compram produtos in natura passem a ser consumidores das novas linhas.
Essas estratégias só poderão ser alcançadas se tiver mais continuidade e estabilidade na diretoria, diz Parente. Segundo ele, o turnover é muito alto e isso tem repercussões na empresa inteira. Ele também anunciou o atual COO, Lorival Luz, como seu sucessor na presidência executiva da companhia. Parente acumula os cargos de CEO e diretor do conselho de administração, situação que só poderia se manter por um ano.
Os projetos não animaram analistas. “Enquanto elogiamos o foco da administração em melhorar a eficiência e recuperar o poder de precificação, continuamos a não ver uma saída fácil ou rápida para a margem e a partir de 6p.p. margem bruta, e que a trajetória de curto prazo da BRF permanece excessivamente dependente de melhorias cíclicas”, diz o BTG Pactual em relatório. “Apesar da mensagem positiva da empresa, faltaram atualizações quantitativas sobre plano de reestruturação”, diz relatório da Rico investimentos.
Com planos voltados ao longo prazo e a fazer bem o que já faz, a BRF pode levar um tempo para provar que escolheu a estratégia correta.