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"O mercado que prevíamos é passado", diz presidente da Volkswagen

De acordo com Pablo Di Si, presidente da montadora na América Latina, receita neste mês é de "praticamente zero"

Pablo Di Si: "Nunca tínhamos visto uma crise dessa magnitude, em que todos os países e todas as indústrias pararam ao mesmo tempo" (Leonardo Benassatto/Reuters/Reuters)

Pablo Di Si: "Nunca tínhamos visto uma crise dessa magnitude, em que todos os países e todas as indústrias pararam ao mesmo tempo" (Leonardo Benassatto/Reuters/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de abril de 2020 às 13h20.

Última atualização em 8 de abril de 2020 às 13h30.

Nas últimas três semanas,o presidente da Volkswagen América Latina, o argentino Pablo Di Si, só saiu de casa uma vez, para acompanhar a esposa ao supermercado.

Defensor do isolamento social como alternativa para evitar a propagação do novo coronavírus, ele mantém conversas diárias com executivos das fábricas do grupo em toda a região, por teleconferência, e com a matriz alemã, de quem já ouviu que a filial brasileira não vai mais receber socorro financeiro. "Acabou", diz.

O novo programa de investimento para o Brasil foi congelado. O executivo reclama da falta de liquidez por parte dos bancos e defende uma intervenção no sistema financeiro. Para ele, sem crédito para as empresas, em especial as de menor porte na cadeia de autopeças, vai faltar dinheiro para pagar salários.

Ele vai se reunir com dirigentes sindicais para discutir novas formas de flexibilização do trabalho, medida que vai implicar em conte de salários e mudanças em projetos que estavam definidos. "Temos de esquecer o que planejamos. O mercado que prevíamos é passado."

Qual sua avaliação sobre o cenário atual?

Nunca tínhamos visto uma crise dessa magnitude, em que todos os países e todas as indústrias pararam ao mesmo tempo. Mas, no momento, uma grande preocupação é que uma indústria com capital intensivo como a nossa tem problemas de caixa em toda sua cadeia produtiva, que é longa. É absolutamente necessária uma intervenção do sistema financeiro, como estão fazendo na Alemanha, nos Estados Unidos, para que os bancos liberem crédito.

O que pode ocorrer se os bancos não liberarem crédito?

Imagina, por exemplo, o que vai acontecer com os empregos se as empresas de autopeças não tiverem dinheiro para pagar os salários. Elas estão sem encomendas porque nós, montadoras, estamos paradas. Elas têm dívidas com fornecedores, que também terão problemas se não receberem. É preciso uma solução imediata.

A situação da Volkswagen também é complicada?

Neste mês, até agora, nossa receita é praticamente zero. No Brasil foram vendidos 200, 300 carros. Mas, como fabricante, é mais fácil para nós conseguirmos uma linha de crédito.

A matriz pode ajudar?

Não existe mais socorro da matriz. Acabou. Essa crise é diferente porque pegou todo mundo e todos precisam de dinheiro.

Como fica o plano de investimento negociado com a matriz?

Está congelado. Quando voltar a normalidade no mundo vamos reavaliar o mercado, nosso fluxo de caixa e a necessidade de investimentos. Não podemos pensar em gastar dinheiro em abril, maio, junho para desenvolver um produto para daqui a dois ou três anos no cenário que temos hoje.

E os projetos já anunciados?

Serão mantidos. O Nivus (SUV que será produzido no ABC paulista) será lançado ainda neste semestre. O Tarek (outro SUV), feito na Argentina e previsto para o fim do ano, também está confirmado. Já o que viria a partir do início de 2021 está congelado.

Como a VW está se preparando para a retomada da produção?

Vamos seguir os procedimentos adotados na China, onde quase 100% das nossas fábricas retomaram atividades. Vamos aumentar a frota de ônibus fretados para que ninguém venha sentado um perto do outro. Teremos gente organizando a entrada nos portões para não haver aglomeração.

Um grupo vai medir a temperatura dos funcionários diariamente. A linha será preparada para que os trabalhadores mantenham distância de dois metros um do outro. Todos usarão máscaras e demais equipamentos de segurança. De início, não precisaremos de todos na fábrica, por isso metade do pessoal administrativo continuará em home office. Na produção, em vez dos três turnos previstos, teremos apenas um. Assim limitaremos o fluxo de pessoas.

O que vai acontecer com o pessoal excedente?

Precisaremos discutir medidas de flexibilização, como lay-off, redução de jornada e possivelmente de salários. Temos de esquecer o que planejamos. O mercado que prevíamos é passado. A velocidade do mercado será muito menor e não sabemos como ficará a confiança do consumidor daqui para a frente.

Quando será a negociação?

Nos próximos dias vou realizar uma reunião presencial com as lideranças sindicais de todas as fábricas na quadra de basquete da unidade Anchieta. Será ao ar livre, com cadeiras e mesas dispostas bem distantes umas das outras. Há um senso coletivo de urgência que precisaremos ter após a quarentena.

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