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Fim do e-sedex abre lacuna para outras empresas de entrega

Lançado no início dos anos 2000 para suprir a demanda do crescimento do mercado de e-commerce, o e-Sedex era voltado aos grandes centros urbanos

Correios: para os especialistas ouvidos por Exame Hoje, a saída é uma só - tecnologia (foto/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2017 às 09h41.

Última atualização em 28 de junho de 2017 às 19h20.

São Paulo - Os Correios anunciaram no último dia 15 de junho o fim do e-Sedex, um serviço de entregas exclusivo para o comércio eletrônico em grandes centros urbanos. O anúncio não chega a ser surpresa, uma vez que já havia sido antecipado no fim do ano passado. Essa é só mais uma das novidades recentes dos Correios, que vêm sofrendo com problemas financeiros e com o fechamento de agências.

Lançado no início dos anos 2000 para suprir a demanda do crescimento do mercado de e-commerce, o e-Sedex era voltado aos grandes centros urbanos, atendendo 250 cidades.

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Para os lojistas, o e-Sedex sempre foi uma boa alternativa frente às outras opções dos Correios, como o Sedex convencional (mais caro) e o PAC (mais barato, porém de entrega mais demorada). Questionado por EXAME Hoje, os Correios afirmam que a decisão por descontinuar o serviço se deu em função da “reorganização do portfólio”, e que não descarta a possibilidade de reviver o e-Sedex no futuro, como uma marca premium. O fim do serviço faz parte da nova política comercial dos Correios, que a empresa afirma incluir otimização dos custos.

Os Correios, é claro, não vão deixar de atender ao comércio online. A empresa argumenta que cresceu 14% no e-commerce nos últimos doze meses, e que os clientes vão poder continuar usando o PAC e o Sedex tradicional, que ao contrário do e-Sedex, atendem a todos os 5.570 municípios brasileiros.

“Ao invés de um único serviço, todos os serviços de encomendas dos Correios agora são destinados ao comércio eletrônico. O que se pretende é agregar valor à prestação dos serviços para esse setor”, disseram os Correios em nota.

“Quando teve a primeira notícia no ano passado, parecia uma visão do apocalipse, de que as vendas na internet iriam acabar. Mas o impacto foi bem neutralizado”, diz Marcio Eugenio, sócio e fundador da DLoja Virtual, que presta consultoria a pequenos lojistas.

Ele explica que os próprios Correios fizeram mudanças para tornar o PAC e o Sedex mais vantajosos, incluindo pacotes específicos para o e-commerce no PAC e no Sedex.

Mas é fato que o fim do e-Sedex — e a própria crise dos Correios — pode abrir uma lacuna para outras empresas de entrega. Os Correios atendiam, há dois anos, metade dos pedidos do e-commerce, de acordo com dados da eBit, responsável por pesquisas sobre esse mercado.

Embora não haja dados mais recentes, a estimativa é que essa fatia, seja menor hoje — na casa dos 30% ou 40%. “Às vezes os Correios agem como se ainda estivessem num monopólio, como se não houvesse concorrência. Mas o mercado é dinâmico e novas empresas vão ocupar esse espaço”, argumenta o presidente da eBit, Pedro Guasti.

A concorrência, a princípio, comemora a oportunidade. A empresa de entregas JadLog, por exemplo, viu a procura das empresas em seu site crescer de 20 para até 40 interessados todos os dias. “Foi um grande afluxo para nós”, diz Ronan Hudson, diretor comercial da JadLog.

A Confederação Nacional dos Transportes afirma que 60,1% das empresas do setor viram o faturamento cair em 2016, mas a crise parece não ter chegado na JadLog, que cresceu 12,5% — com um faturamento de 406 milhões de reais. “Ano passado foi muito positivo, e o carro chefe disso é o e-commerce”, diz.

Para este ano, após as notícias dos Correios, a empresa projeta crescer até 200% e tem 500 franquias em expansão.

Onde está a concorrência?

Guasti, da eBit, aponta que o movimento das concorrentes aos Correios começou a se fortalecer em 2010, e hoje, já existem muitas alternativas baratas e eficientes. “Para entregar um livro em São Paulo, por exemplo, tem operadora cobrando 7 reais, o que é um preço bastante justo”, diz.

Mas apesar das possibilidades, crescer não vem sendo tão fácil para as concorrentes. Contam pontos para os Correios as agências, que funcionam como pontos de coleta dos produtos — quando eles não podem ser entregues ou recolhidos na porta —, assim como a pontualidade e a força da marca.

Mas uma das maiores vantagens é a capilaridade dos Correios, capaz de chegar a qualquer canto do país, da avenida Paulista ao interior do Pará.

“Como os Correios precisam ter uma malha que atenda a todo o território nacional, eles têm uma estrutura massificada que oferece preços mais competitivos, que uma empresa privada pode não conseguir”, explica Maria Fernanda Hijjar, sócia-executiva da consultoria logística Ilos.

Assim, o principal nicho da concorrência são os grandes centros — onde o e-Sedex atuava — e as entregas de produtos menores, com menos de 20kg. Mas mesmo aí é difícil concorrer. Um dos problemas é que os que mais dependem dos Correios são as pequenas empresas, que por não fazerem tantas entregas, costumam não ser atendidas pelas grandes transportadoras.

A eBit calcula que esses micro e pequenos negócios, que faturam até 10 milhões de reais por ano, representam quase metade do e-commerce nas grandes cidades. E para essa significativa fatia do mercado, os Correios são, na maioria das vezes, a única opção.

“Os pequenos negócios nem sempre têm uma regularidade e um volume que permite um contrato da forma que as transportadoras exigem”, diz Luiz Stephan Junior, consultor de negócios do Sebrae.

Uma empresa de logística pode funcionar de diversas maneiras: existem aquelas sem veículo, que recolhem o produto dos lojistas e os redistribui à transportadora, e empresas com frota própria, o que permite ter um controle mais rigoroso (como é o caso dos Correios).

Para o serviço valer a pena para as transportadoras, é necessário um contrato com volume de entregas muito alto, que os pequenos não conseguem alcançar.

Enquanto isso, o e-Sedex funcionava com uma pré-lista: os lojistas compravam, por exemplo, 150 entregas, e iam despachando os produtos à medida que tinham demanda. Stephan explica que é como “comprar espaço no caminhão”. Segundo Stephan, do Sebrae, alguns contratos do e-Sedex chegavam a ser 30% mais baratos. “As empresas de logística já enxergaram uma lacuna a preencher, mas aí, o modelo de contratação tem de ser diferente”, afirma o consultor.

Um exemplo de modelo pensado para atender a esse mercado é a Mandaê, startup de logística fundada há três anos e com foco no pequeno e médio e-commerce. A empresa recolhe o produto com o lojista, o embala se necessário — já que os pequenos negócios muitas vezes não dispõem desse serviço — e, por fim, o envia ao comprador por meio de uma das diferentes transportadoras parceiras. Como essa operação cria um leque de opções e volume que os pequenos negócios não teriam sozinhos, o preço do frete fica mais competitivo.

“A Mandaê nasceu exatamente nesse gap de oportunidades no mercado”, explica Douglas Carvalho, diretor de operações da empresa. Carvalho afirma que, no acumulado dos três anos da Mandaê, a empresa cresce, em média, 15% ao mês.

E com todas essas movimentações, o que muda na vida dos consumidores que compram seus produtos na internet? As grandes varejistas são menos afetadas pelas indas e vindas dos Correios, já que muitas possuem seus próprios serviços de entrega.

É o caso da B2W — dona dos sites de varejo Submarino, Shoptime e Americanas.com —, que comprou em 2014 a Direct Express Logística Integrada, por 127 milhões de reais.

A B2W também oferece um marketplace, espaço onde os lojistas podem oferecer seus produtos na vitrine online do Submarino ou da Americanas, ao mesmo tempo em que a B2W se responsabiliza pelo processo de entrega. Empresas como o Mercado Livre também oferecem opções de marketplace e entrega — com o MercadoEnvios.

“O marketplace é um movimento mundial: a pequena empresa ganha visibilidade dentro daquele grande portal de vendas, e o consumidor ganha a segurança de comprar de um grupo conhecido. E no caso da logística, faz com que se tenha possibilidade da contratação em maior escala de operadores logísticos”, explica Maria Fernanda, da Ilos.

Mas dada a grande fatia que o e-Sedex detinha no mercado, é possível que os lojistas menores repassem o aumento do frete ao consumidor final num primeiro momento — a estimativa é que o frete cresça cerca de 12%. Para empresas maiores, que possuem seus próprios serviços de entrega, nada muda.

Atualmente, os clientes pagam em frete cerca de 5% do faturamento total do e-commerce, cuja previsão da eBit para 2017 é de 50 bilhões de reais. Hoje, cerca de 40% dos pedidos têm frete grátis, um número que vem caindo constantemente.

O frete grátis não vai desaparecer, mas a tendência é que os lojistas passem a fazer programas de fidelidade — como os da Amazon — e promoções sazonais — como na Black Friday ou no Natal.

É claro que, para o consumidor final, quanto menor o frete e mais eficiente a entrega, melhor. As empresas privadas, aos poucos, começam a entrar nesse setor e modificar os serviços.

E os Correios também admitem que precisam se modernizar, e afirma que suas operações “não acompanharam, nos últimos anos, as mudanças na forma de comunicação da nossa sociedade”. Mas temos trabalhado para agilizar essa transformação”, diz a empresa.

Para os especialistas ouvidos por Exame Hoje, a saída é uma só: tecnologia. “Uso de smartphone na ponta de quem contrata e de quem entrega, racionalizar as rotas de entrega, aumentar a escala para reduzir o frete. Precisa de tecnologia”, resume Guasti, da eBit. A diversificação e a modernização, aos poucos, começam a chegar no setor. Quem ganha, no fim, é o consumidor.

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