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"O Brasil virou um país sério", diz presidente da GE

Para o presidente da GE na América Latina, a crise na Europa e nos Estados Unidos só reforça uma tendência - o Brasil se tornou um dos motores da economia mundial

Reinaldo Garcia, da GE: com crise na Europa e nos EUA, o Brasil se tornou um dos motores da economia mundial (Alexandre Battibugli/EXAME)

Reinaldo Garcia, da GE: com crise na Europa e nos EUA, o Brasil se tornou um dos motores da economia mundial (Alexandre Battibugli/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2012 às 09h02.

São Paulo - Nos últimos 30 anos, o brasileiro Reinaldo Garcia, presidente e CEO da GE na América Latina, morou nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Quando saiu do Brasil, em 1981, para estudar economia na Universidade da Carolina do Norte, o país ainda era presidido pelo general João Baptista Figueiredo.

De volta a São Paulo desde janeiro, Garcia muitas vezes se surpreende com as mudanças das últimas décadas. Com um português ainda pouco fluente, Garcia falou a EXAME sobre o ambiente de negócios que encontrou e o que faz do Brasil um mercado crucial para as multinacionais estrangeiras 

Qual foi o grande marco da economia brasileira em 2011? 
Reinaldo Garcia - O Brasil tem uma economia diversificada, em grande parte movida pelo consumo interno, que tem na classe média ascendente uma enorme força. Por outro lado, o país é rico em recursos naturais. Essa conjunção de fatores são fundamentos muito positivos no longo prazo. Especificamente sobre este ano, sabíamos que o país não repetiria o crescimento de 2010, que foi muito alto. A surpresa de 2011 foi o que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos. Nesse ambiente, o marco da economia brasileira foi a sua robustez. 

Muitas empresas estrangeiras estão se instalando no Brasil e parte das que já estavam por aqui incrementou seus investimentos. A competição aumentou em 2011?
Reinaldo Garcia - Sim, aumentou, mas isso é positivo. No final das contas, é a competitividade que gera progresso. Chegou, finalmente, a hora de o Brasil ter um lugar ao sol. Várias empresas de infraestrutura estão chegando. O Brasil, no contexto da América Latina, vive uma situação interessante. Tem um mercado interno de tamanho continental para explorar e, ao mesmo tempo, está ao lado de países que também crescem muito, como é o caso de Peru, Chile e Colômbia.

O senhor passou três décadas fora do Brasil. De que forma o ambiente de negócios mudou por aqui?
Reinaldo Garcia - Aumentamos a nossa relevância política, econômica e cultural. O Brasil não é mais só o país do futebol. É o país de grandes multinacionais, de executivos inovadores e empreendedores. São pessoas que se desenvolveram em uma época muito difícil no Brasil – de inflação, pacotes, crises. Isso criou uma geração de pessoas muito capazes. A continuidade da democracia e da política econômica nas últimas décadas também merece destaque. De modo geral, as instituições estão mais evoluídas. O Brasil hoje é um país muito sério.

O que deveria ter mudado e não mudou?
Reinaldo Garcia - O problema brasileiro é a burocracia. Os processos são complicados. As regras não são claras e, às vezes, acabam sendo contraditórias. É isso o que impede que o cenário brasileiro seja excelente. As pessoas que querem inovar acabam correndo como se tivessem bolas de ferro atadas aos pés. Isso tudo sem falar na carga tributária, que diminui a competitividade do país. 


É muito diferente ser o presidente da operação brasileira de uma multinacional do que ser o presidente de uma empresa similar local?
Reinaldo Garcia - Uma companhia como a GE tem uma presença e uma visão global. Em um dia típico, falo com pessoas na Itália, nos Estados Unidos, em Hong Kong e na Austrália. Do ponto de vista de carreira, faz diferença estar numa empresa global. É possível ir de um segmento para outro, de um país para o outro. Vejo isso acontecer em algumas empresas locais, como Vale, Votorantim e Embraer, que estão se tornando realmente multinacionais a partir do Brasil. A diferença é que a GE faz isso há 100 anos. 

Qual foi o executivo brasileiro que mais se destacou em 2011? 
Reinaldo Garcia - É difícil escolher um. Consigo pensar em uma dúzia. Gente que está à frente de empresas como Vale, Gerdau, Votorantim, Embraer, EBX, Petrobras, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Gol, TAM... Os bancos brasileiros também são incríveis. O setor bancário é muito forte, um modelo para o mundo. Mesmo como cliente, fiquei muito impressionado. É uma delícia voltar ao país nesse momento. Estou redescobrindo o Brasil. Mesmo com problemas como trânsito e segurança, fico, de certa forma, surpreso com as coisas positivas.

Os resultados da GE no Brasil tem ficado dentro do esperado? 
Reinaldo Garcia - O Brasil vai crescer acima de 30% esse ano. Provavelmente 35%. Vamos ficar entre 3,5 bilhões e 3,7 bilhões de dólares em faturamento, o maior da América Latina. Isso está um pouquinho acima do crescimento regional da região. Em 2007, o faturamento da operação brasileira era de 2,7 bilhões de dólares. A diferença é significativa. Esperamos manter esse ritmo nos próximos anos. Até há pouco tempo, a operação do México era maior que a brasileira. Houve uma mudança significativa.

O Brasil tem chamado a atenção de Jeff Immelt, presidente e CEO da GE?
Reinaldo Garcia - O nosso CEO mundial veio duas vezes ao Brasil em 2011. Ele acredita que o país é um dos motores do crescimento mundial. O Brasil tem muitos recursos naturais e uma grande capacidade de se industrializar ainda mais. Na sua próxima visita, prevista para o começo de 2012, vamos tratar do nosso plano de investir 550 milhões de dólares no Brasil entre 2011 e 2013. É a continuação da nossa estratégia dos últimos anos. O Brasil precisa resolver seus problemas de infraestrutura e isso irá criar muitas oportunidades. Essa é uma perspectiva muito diferente da dos Estados Unidos e Europa. Os países ricos vivem uma realidade de atualização de tecnologia. Aqui tem mais um perfil de criação, de realização de projetos. Há muito por fazer e isso impressiona.

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