Vitor Delphim, da Enermatch: empreendedor estudou energias sustentáveis em Portugal e notou o aumento da discussão sobre eficiência energética (Lia Campello/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de julho de 2023 às 10h40.
Última atualização em 20 de julho de 2023 às 17h09.
A geração de energia solar funciona em uma lógica diferente: em vez de uma grande usina ou parque gerador, como no caso das eólicas e hidrelétricas, a maior parte da produção é distribuída. São várias pequenas usinas que geram energia pela força do Sol. Esse mercado ganhou escala na última década. Já são 2 milhões de sistemas instalados, gerando diversas oportunidades e desafios. Também dúvidas, principalmente pela grande quantidade de informações e dados gerados em usinas espalhadas pelo país.
Foi identificando isso que o empresário carioca Vitor Delphim criou a Enermatch, startup da área de energia criada em junho de 2022. O negócio oferece um dashboard que mostra informações de diferentes usinas, parques e fazendas de energia solar. O sistema reconhece dezenas de sensores que são instalados nesses locais, como de posição solar e de produção de energia, e compila tudo em um único local. O foco é oferecer a solução para as geradoras de energia.
“Nossos clientes são geradores que vendem energia para terceiros”, afirma Delphim. “São empresas que vendem várias usinas para uma única companhia, do varejo por exemplo. Como eles fazem dezenas de usinas para um único cliente, eles precisam de um sistema para gerenciar isso. A nossa plataforma compila todas as informações e entrega para essa geradora”.
Um exemplo é uma rede de farmácia com lojas em todo Brasil. Ela pode fechar um contrato com uma geradora de energia solar para ter várias usinas produzindo eletricidade para suas lojas. Essa geradora — que é a cliente da Enermatch — instala esses parques solares em vários Estados, e usa a tecnologia da startup para compilar as informações.
Além disso, a startup consegue acessar a fatura de cada uma das lojas da marca de farmácia e agrupar isso para a geradora de energia, que cobrará um único boleto para a rede.
A startup foi criada no ano passado, mas a ideia começou a nascer em 2017, quando Delphim viajou a Portugal para estudar sobre sistemas de energias sustentáveis. À época, a Europa já discutia bastante sobre eficiência energética e o assunto foi despertando cada vez mais atenção do executivo. Depois dessa experiência, ele chegou a trabalhar em um outro negócio, onde ficou muito próximo dos empreendedores. Ali, surgiu sua segunda paixão: empreender.
Agora, cerca de um ano após lançar o dashboard, Delphim finalizou a primeira rodada de aporte para a Enermatch. Foram 2 milhões de reais em uma rodada com dois investidores anjos, uma empresa do segmento de energia e um fundo da gestora de venture capital Sai do Papel.
A Enermatch usa sensores e equipamentos já existentes hoje para juntar e centralizar dados das usinas de energia solar. O sistema apresenta um mapa apontando a localização dos sistemas fotovoltaicos, um painel com indicadores de economia, geração e sustentabilidade dos parques solares. Há também dados de geração acumulada (ou seja, quanto aquele parque já gerou de energia). Tudo em tempo real.
Esse sistema pode gerar alarmes, relatórios e comparações.
O faturamento da empresa vem dos planos de uso do sistema. Nos primeiros seis meses de 2022, faturaram 300.000 reais. Agora, já chegaram neste valor e pretendem fechar 2023 faturando 1,2 milhão de reais.
Hoje, a Enermatch tem 12 clientes ativos, mas o plano é crescer nos próximos meses. Um dos mercados potenciais são as empresas que correram para fazer projetos de energia solar durante 2022 para ainda aproveitar os benefícios de isenção de tarifas. Em 2023, voltaram a ser cobradas taxas de uso e distribuição.
“No ano passado, desenvolveram os projetos, e agora precisam executar”, diz Delphim. “É um mercado consumidor imenso, e estamos bem posicionados para ganhar escala”.
Os investimentos serão direcionados principalmente para o desenvolvimento tecnológico da solução e para fortalecer a área comercial da empresa. Além disso, parte do valor, cerca de 500.000 reais, será dedicado a um projeto específico para melhorar a eficiência do consumo energético de uma grande empresa do setor de educação.
Um dos principais atrativos para a Sai do Papel Capital foi a equipe de empreendedores por trás da startup. Guy Gaul, Head de venture capital do grupo Sai do Papel, que aportou 400.000 reais na empresa, destacou que o fato dos fundadores terem experiência prévia no setor ajudou. Outros motivos:
“Há algum tempo queríamos investir em startups que buscam soluções inovadoras para a mitigação das mudanças climáticas, como é o caso da Enermatch", afirma Gaul. "Analisamos a equipe de empreendedores, o planejamento estratégico e a alocação eficiente dos recursos”.
O grupo Sai do Papel fomenta o desenvolvimento de startups ligadas à transição energética desde 2020 quando foi fundado o Energy Hub, um polo de startups de inovação em energia com mais de 120 negócios.
São dois os principais desafios da empresa. O primeiro é tecnológico e envolve ter sistemas mais robustos para ler as faturas dos clientes — uma etapa importante do negócio.
“A fatura muda de layout o tempo todo, e o robô tem problema para ler”, diz Delphim. “Tecnologicamente, esse é o principal desafio que a empresa está enfrentando”.
Do ponto de vista da empresa como todo, o desafio é com recursos humanos.
“A gente entende que se não recrutar bem, vai virar retrabalho. Dedicamos boa parte do tempo a isso”.