Negócios

Nextel, Claro e fim da guerra dos preços: setor de telefonia se consolida

A participação de mercado da Nextel não é tão relevante a ponto de movimentar profundamente o mercado, mas garante à Claro uma chance rara de ganhar espaço

Celular: O aumento de preços dos pacotes de telefonia não vem da competição menor, mas sim do momento mais positivo para o mercado (F.J. Jiménez/Getty Images)

Celular: O aumento de preços dos pacotes de telefonia não vem da competição menor, mas sim do momento mais positivo para o mercado (F.J. Jiménez/Getty Images)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 19 de março de 2019 às 06h00.

Última atualização em 19 de março de 2019 às 06h00.

A compra da Nextel Brasil pela dona da Claro, a mexicana América Móvil, traz ainda mais consolidação para um mercado já maduro. Com concorrência menos acirrada e a melhora da economia, os preços dos planos de telefonia celular tendem a aumentar, segundo especialistas ouvidos por EXAME.

O negócio, fechado por 905 milhões de dólares, ainda depende da aprovação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), bem, como deliberação em assembleia dos acionistas da NII Holdings, que era controladora da Nextel Brasil.

A participação de mercado da Nextel não é tão relevante a ponto de movimentar profundamente o mercado de telecomunicações, mas garante à Claro uma chance rara de ganhar espaço de forma inorgânica.

A Nextel tem cerca de 1,5% das linhas de celular do país, cerca de 3 milhões de clientes, enquanto a líder do setor, a Vivo, tem cerca de 73 milhões de clientes em celular, segundo a consultoria Teleco.

A Telefônica Vivo tem cerca de 32%, a Tim, cerca de 24,4% e a Oi, 16,4%. Com a compra, a Claro passa de 24,6% a 26% do mercado. "Ela chega indiscutível ao segundo lugar no mercado, depois de competir cabeça a cabeça com a Tim", afirma Eduardo Eduardo Ribeiro Silveira Guimarães, especialista da corretora Levante.

Fim da guerra de preços

Ainda que o setor se concentre na mão de quatro grandes operadoras, a competição continuará presente, diz Pasquini. “O mercado móvel no Brasil é um dos mais competitivos no mundo, com quatro grandes players bem distribuídos”, afirma Renato Pasquini, diretor da consultoria Frost & Sullivan na América Latina.

Assim, o aumento de preços dos pacotes de telefonia não vem da competição menor, mas sim do momento mais positivo para o mercado. A aquisição ocorre no meio de um movimento de maior racionalização do mercado de telecomunicações, ou seja, de competição menos acirrada e menos guerra de preços.

Durante os anos de crise econômica, muitos consumidores deixaram os planos pós-pago para aderir ao pré-pago, mais baratos. Enquanto isso, as operadoras de telefonia abaixaram os preços dos planos para brigar pela assinatura do consumidor.

Esse movimento parece ter chegado ao fim. Recentemente, a Vivo anunciou que aumentou em 20% o preço de seu pacote pré-pago válido para duas semanas. A Vivo também aumentou os preços dos planos híbridos de Controle em 11%.

"Esse é o primeiro grande movimento de uma das grandes operadoras para recuperar os preços do pré-pago, que estavam sob tremenda pressão depois que a própria Vivo  lançou pacotes super agressivos em setembro. Pode restaurar um ambiente de competição mais benigno para o setor", escreve o banco BTG Pactual em relatório.

De acordo com o banco, a Tim e a Claro devem seguir a tendência e aumentar os preços dos próprios pacotes pré-pago. A Tim deve ser a maior beneficiária do ambiente menos competitivo, já que uma grande parte de suas receitas vem de contas pré-pagas, seguidas pela Vivo e pela AMX, a América Móvil dona da Claro.

Apesar do aumento geral do valor dos pacotes de ligações e dados, para os clientes Nextel a operação deve ser positiva. "A Claro poderá oferecer seus serviços para os clientes da operadora, como banca digital e música e, assim, aumentar ainda mais a receita por cliente", diz Pasquini.

Nextel Brasil perdeu o bonde do Whatsapp

A Nextel Brasil foi colocada à venda em setembro do ano passado pela sua controladora, a norte-americana Nii Holdings. Essa é a última operação latino-americana ainda sob o controle da NII depois que a empresa deixou operações no Peru, Chile e México, onde sua unidade foi vendida para a norte-americana AT&T por 1,9 bilhão de dólares há quatro anos.

A NII entrou em recuperação judicial em 2014, após lutar com uma dívida de 5,8 bilhões de dólares e concorrência acirrada no Brasil e no México. Depois de negociar com bancos, ela conseguiu sair do processo no ano seguinte.

Chegar ao mercado de telecomunicações brasileiro é caro: é necessário investir pesadamente em infraestrutura para garantir cobertura nacional, o que inibe a vinda de outras operadoras internacionais. "O mercado de telecomunicações é bem maduro e consolidado. A cobertura nacional e o poder da marca fazem a diferença, o que dificulta a concorrência", diz Guimarães.

Além disso, a Nextel perdeu espaço durante a corrida pelo mercado de 3G e 4G, de acordo com Pasquini. Foi com o foco no crescimento da banda larga que a Telefônica Vivo chegou à liderança de mercado.

Com comunicação principalmente via rádio, chegou a conquistar profissionais liberais e empreendedores, diz ele, mas perdeu o diferencial com o crescimento da internet, uso de dados e o envio de áudio pelo Whatsapp.

“A empresa não tinha estrutura e continuava com uma tecnologia defasada. Demorou três anos a mais que as concorrentes para embarcar na concorrência pelo 3G", diz Pasquini.

Agora, nas mãos da América Móvil, dona da Claro, a empresa famosa pelo rádio entra no mundo do 4G.

Acompanhe tudo sobre:América MóvilClaroNextelOperadoras de celularTelecomunicações

Mais de Negócios

De hábito diário a objeto de desejo: como a Nespresso transformou o café em luxo com suas cápsulas?

Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro: o que aconteceu com as grandes lojas que bombaram nos anos 80

O negócio que ele abriu no início da pandemia com R$ 500 fatura R$ 20 milhões em 2024

10 mensagens de Natal para clientes; veja frases