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Não se deve usar recurso do povo para ajudar montadora, diz CEO da Suzano

Walter Schalka acredita que governo deve ser bastante seletivo ao conceder ajuda financeira a empresas durante a crise gerada pelo coronavírus

Presidente da Suzano, Walter Schalka (Patricia Monteiro/Getty Images)

Presidente da Suzano, Walter Schalka (Patricia Monteiro/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de abril de 2020 às 14h58.

Última atualização em 17 de abril de 2020 às 15h11.

O presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou na quinta-feira, 16, na série de entrevistas ao vivo "Economia na Quarentena", do jornal O Estado de S. Paulo, que o governo deve ser bastante seletivo ao conceder ajuda financeira a empresas em consequência da crise gerada pelo coronavírus. "Acho que vai ter um lobby geral para benefícios setoriais, mas o governo tem de ser muito seletivo nos benefícios para grandes empresas. É diferente da pequena, média e principalmente das microempresas. Essas sim precisam de apoio."

Um pacote de R$ 50 bilhões, destinado a segmentos como companhias aéreas, montadoras e empresas de energia elétrica, está sendo desenvolvido pelo governo, em parceria com os principais bancos do País. "Não vejo necessidade de ajudar todas as empresas. O setor aéreo, que é crítico e estratégico, deveria ser apoiado sim. Mas não acho que montadora, principalmente porque grande parte é de multinacionais, deveria receber recurso barato, do povo brasileiro."

Schalka também defende que Executivo e Legislativo não devem perder o foco nos problemas estruturais para o País e prossigam com as reformas ainda em 2020.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A Suzano faz parte de um grupo de empresas que lidera o movimento 'Não Demita'. As empresas terão fôlego financeiro para atravessar esta crise?

A Suzano, desde o início, tomou uma atitude clara de não demitir mas nós somos uma empresa muito privilegiada. Exportamos parte significativa de nossos volumes. Mas não posso fazer uma correlação com outras empresas que estão em momentos mais delicados. Achamos que é importante não demitir, mas entendemos aqueles que precisam fazer isso.

O governo lançou um pacote de ajuda para bancar a folha de pagamento de empresas, além da medida provisória de redução de jornada e salários. Isso ajuda a conter as demissões?

O governo federal acertou nesta MP. Isso permite uma flexibilidade de alternativas para o empresariado e trabalhador para que possamos sustentar o emprego. À medida que as coisas se encaminharem, as empresas vão preferir ficar com os trabalhadores porque elas vão ficar melhores após a pandemia.

O governo está jogando mais dinheiro na economia e, consequentemente, o País vai ficar mais endividado. Como reequilibrar as contas públicas?

Devemos aproveitar esse momento, usar a crise como oportunidade. Queria convidar o Executivo e o Legislativo para redesenharmos sistemas tão fundamentais do Brasil, com as reformas administrativa e tributária. Esse é um momento que podemos fazer a transformação acontecer e sairmos melhor na frente. Grande parte das empresas tem uma ação de redução de gastos. É o momento de o governo fazer isso e dar um salto de produtividade. Não devemos deixar para 2021.

Qual sua visão sobre o pacote de ajuda de R$ 50 bilhões a grandes grupos, como montadoras e companhias aéreas?

Acho que deve ser muito limitado. Não vejo necessidade de ajudar a todos os setores. Posso assegurar que o setor de papel de celulose não precisa de apoio do governo. O setor aéreo, que é crítico e estratégico, deveria ser apoiado. Mas não acho que montadora, em grande parte multinacionais, tenha necessidade de receber recurso barato do povo brasileiro. Vai ter um lobby geral para benefícios setoriais, mas o governo tem de ser muito seletivo nos benefícios a grandes empresas. É diferente da pequena, média e principalmente das microempresas. Essas sim precisam de apoio, é para elas que temos de olhar.

O FMI divulgou uma previsão de queda de mais de 5% no PIB brasileiro em 2020. Como o sr. vê essa piora das perspectivas?

Acho que essas previsões estão ainda muito otimistas. Os números serão ainda piores. Mas isso não é relevante, porque é um choque temporário que vai acontecer na economia global. O mais importante é o que vai acontecer depois. Nós vamos ter de reconstruir esse desenho pós-pandemia.

Suzano e outras empresas estão se mobilizando para doações. Como vê esse movimento?

É maravilhoso a solidariedade do setor privado no Brasil. Estamos vendo emergir o lado bom e positivo da solidariedade brasileira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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