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Não faltarão rivais para a Embraer e a Bombardier

Russos, chineses e japoneses vão entrar no mercado de jatos regionais de médio porte. Eles devem incomodar, mas não terão vida fácil

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2013 às 12h54.

O mercado de fabricação de aviões civis segue, por tradição, uma lógica duopolista. Da mesma forma que a americana Boeing e a europeia Airbus dividem o segmento de aeronaves grandes, a brasileira Embraer e a canadense Bombardier praticamente só competem entre si pelas encomendas globais de aviões comerciais de médio porte.

E esse é um mercado que tem as dimensões de um Jumbo. Segundo estimativas da própria Embraer, nos próximos 20 anos serão vendidos em todo o mundo 6.750 jatos com capacidade de transporte de 30 a 120 passageiros. Essa imensa frota custará algo em torno de 220 bilhões de dólares - um valor superior a duas vezes o PIB anual da Argentina.

Tanto dinheiro chamou a atenção de importantes centros de engenharia aeronáutica. Já estão se movimentando para abocanhar fatias desse bolo empresas da Rússia, China e Japão. Não que exista alguma ameaça imediata à posição de dominância da Embraer e da Bombardier. Mas é possível que o céu de brigadeiro que tem clareado o caminho das duas empresas nos últimos anos dê lugar a rotas muito mais turbulentas no futuro.

A desafiante mais recente é a Sukhoi - uma referência russa na área de aviação de defesa. A empresa lançou nesta semana na Paris Air Show o primeiro modelo para o segmento comercial desde o fim da União Soviética: o Superjet 100. O avião vai competir no segmento dos regionais que possuem de 75 a 110 assentos. Segundo a fabricante, já foram feitas mais de 120 encomendas pelas companhias aéreas Malev (da Hungria), Avia (da Rússia) e Gadair (da Espanha). Só com a Malev, o acordo alcançaria 1 bilhão de dólares.

Já o consórcio chinês AVIC 1 inspirou-se no jato ERJ-145 da Embraer para desenvolver o ARJ-21. Voltado à categoria de jatos comerciais de até cem assentos, o jato começará a ser entregue no início de 2011. Como é tradicional em se tratando de produtos chineses, o diferencial será o preço. O ARJ-21 deverá custar, em média, 20% menos que os valores cobrados por Embraer e Bombardier.

A japonesa Mitsubishi, por sua vez, aposta no acabamento refinado. Com capacidade de 78 a 98 passageiros, o MRJ90 terá grande comodidade, telas e controles de climatização individuais e mais espaço para bagagens. As primeiras entregas devem acontecer até 2014. Essas são algumas mordomias que fazem o modelo japonês ser apontado por consultores ouvidos pelo Portal EXAME como o novo principal rival da família de jatos regionais da Embraer.


Já a Bombardier tem seus passos monitorados de perto pela Embraer devido ao desenvolvimento de um novo avião turboélice. Com um design antiquado, os turboélices perderam espaço nos últimos anos, mas agora, em tempos de petróleo caro, voltam a atrair a atenção por gastarem menos combustível. A Bombardier recentemente encerrou a produção dos turboélices Q200 e Q300 e aposta na atualização do Q400 NextGen, que possui de 70 a 80 assentos.

Reação

É lógico que Embraer não está de braços cruzados esperando o ataque dos novos concorrentes. Tanto a empresa brasileira quanto a Bombardier investem milhões de dólares por ano para atualizar e melhorar seus atuais modelos. A Embraer aposta que a empresa que obtiver o maior ganho no desenvolvimento de um motor mais econômico e menos poluente será a vitoriosa nesse jogo.

Atualmente os motores do tipo "turbofan" são os mais usados na aviação comercial. Tanto a GE - que produz os motores dos jatos regionais da Embraer - quanto a Rolls-Royce apostam no sistema conhecido como "advanced turbofan" para reduzir de forma significativa o consumo de combustível, a emissão de gases poluentes, os ruídos e os custos de manutenção.

No entanto, as duas principais concorrentes da Embraer - a Bombardier e a Mitsubishi - veem mais potencial nos motores que estão sendo desenvolvidos pela Praat & Whitney Canada e que entram em operação até 2014. Esses motores serão menores, o que vai reduzir o peso das aeronaves e facilitar a navegabilidade.

A Embraer ainda avalia qual tecnologia usará e sabe da importância de fazer a escolha certa. "Ainda não sabemos qual será a tecnologia em desenvolvimento que vai trazer os maiores ganhos, mas não podemos reagir aos nossos concorrentes de forma prematura", disse ao Portal EXAME o vice-presidente executivo da Embraer para o Mercado de Aviação Comercial, Mauro Kern.

Barreiras

Segundo especialistas, a situação não é preocupante para a Embraer no curto prazo porque há barreiras de mercado que ainda protegerão a empresa brasileira por muito tempo. A Embraer foi pioneira no segmento de jatos comerciais de até 120 assentos e soube construir uma marca forte e confiável - o que lhe renderá frutos nos próximos anos. "A Embraer construiu uma imagem de solidez, inovação e credibilidade ao interpretar o mercado como nenhuma outra", afirma o consultor e especialista em transporte aéreo, Mauro Ricardo Nascimento Martins.


Outra ação que a Embraer adotou para manter a liderança foi o programa contínuo de melhoria dos jatos comerciais regionais que já estão no mercado. "Dar assistência técnica de qualidade aos jatos foi muito importante, uma vez que o ciclo de vida de um avião é bastante longo. A presença forte no pré e no pós-venda são formas de a Embraer manter a competitividade", afirma o especialista em setor aéreo da consultoria Bain & Company, André Castellini.

Já as empresas da China, Rússia e Japão terão de construir uma marca e uma tradição de confiabilidade - o que leva tempo. "Os russos têm tecnologia, mas carecem de confiabilidade dos operadores ocidentais. A imagem da Sukhoi, fabricante que acaba de lançar o Superjet 100, ainda está muito associada ao segmento militar ", afirma o consultor Martins.

Da mesma forma, o jato chinês teria, em um primeiro momento, a imagem associada a um produto de segunda linha. "Mas, isso tende a mudar. Primeiro porque o ARJ-21 foi inspirado em um modelo da Embraer, durante o período em que a brasileira manteve uma joint-venture no país asiático. Segundo porque os chineses de ontem prometem ser os japoneses de amanhã", afirma o engenheiro aeronáutico e ex-chefe de gabinete da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Jorge Leal Medeiros.

Especialistas acreditam que as maiores vantagens comerciais de russos e chineses em relação à Embraer será vista nos mercados domésticos - devido à possível ajuda de medidas nacionalistas dos governos da Rússia e da China. Mauro Kern, da Embraer, diz, no entanto, que isso vai dificultar, mas não vai impedir a empresa de fechar negócios nos dois países. Prova disso é que a Embraer está em processo de entrega de 55 jatos ERJ-190 para a China.

Gigante estratégico

A China, por sinal, é estratégica para a Embraer e para qualquer outra empresa de avião que deseje se manter grande. O país asiático é hoje o terceiro principal mercado para aviação comercial - atrás dos Estados Unidos, que tem aproximadamente 40% de participação, e da Europa, com 20%.

Mas a Embraer, a Bombardier e os consultores ouvidos por EXAME apostam que o país será um dos principais pilares para a retomada do crescimento da aviação nos próximos 20 anos. Uma prova de que a representatividade dos Estados Unidos no mix das fabricantes está em declínio é que até 2005 o país respondia por 60% das vendas da Embraer, enquanto hoje a participação é de apenas 38%.

Os jatos comerciais regionais são cada vez mais procurados devido à relação custo/benefício e a possibilidade de flexibilização de frota, de forma a alternar modelos de maior capacidade em rotas de grande fluxo com jatos de menor capacidade em trajetos e horários com procura inferior.

Esse é um diferencial importante em tempos de crise, uma vez que, em geral, um voo só é lucrativo caso a companhia aérea garanta a ocupação de pelo menos 60% dos assentos. Além disso, aeronaves para até 120 passageiros gastam menos combustível e são peças-chave no processo de renovação das frotas. Por todas essas vantagens é que há cada vez mais gente de olho nesse mercado.

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