Qualicorp: “Nosso papel é facilitar o acesso a planos de saúde privados", diz Blatt (Andrei Vasilev/Getty Images)
Karin Salomão
Publicado em 22 de maio de 2020 às 14h18.
Última atualização em 22 de maio de 2020 às 15h34.
Para o presidente da Qualicorp, Bruno Blatt, a pandemia do novo coronavírus ampliou a relação e parceria entre o setor público de saúde e as empresas privadas. "Claro, a iniciativa privada tem como objetivo distribuir lucro para os seus acionistas, mas tem um enorme papel na sociedade. Nesse momento de tragédia, da pandemia, acho que o privado mostrou sua participação na sociedade", disse, em entrevista à EXAME.
A Qualicorp, administradora de planos de saúde coletivos e líder desse mercado, foi fundada em 1997, tem 2.000 funcionários diretos e 2,5 milhões de beneficiários. Reúne 522 entidades de classe, 32.000 empresas como clientes e 64 operadoras parceiras.
Blatt falou aos jornalistas João Pedro Caleiro e Gabriela Ruic em entrevista para a série EXAME Talks, no YouTube, sobre o papel dos planos de saúde na crise do coronavírus. Segundo Blatt, diversas empresas privadas realizaram doações para o setor de saúde, como respiradores, e se uniram para construir hospitais de campanha voltados para cuidar de pacientes de covid-19.
A Qualicorp realizou uma doação de 9 milhões de reais, tanto para uma reforma na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em conjunto com a Rede D'Or, SulAmérica e outros, quanto para a construção de um hospital de campanha no Parque dos Atletas, no Rio de Janeiro.
Além disso, lançou um fundo solidário de 2 milhões de reais. voltado para o corretor de planos de saúde, que muitas vezes viu sua renda encolher com a pandemia — são 35.000 vendedores parceiros.
Com a redução de emprego e de renda, o acesso a planos de saúde pode ficar mais restrito. “Nosso papel é facilitar o acesso a planos de saúde privados. Não somos tomadores de risco e não teremos hospitais e clínicas para a verticalização da empresa, mas buscamos tudo o que pudermos fazer para o usuário ter mais acesso a planos mais baratos”, disse Blatt.
A pandemia também motivou propostas de criação de fila única em UTIs de hospitais públicos e privados, já que vários hospitais já não comportam receber novos pacientes de covid-19. "É momento de se unir e atacar esse enorme desafio, cada um em seu universo", diz o presidente.
Menos de 25% dos brasileiros têm um plano de saúde privado, enquanto mais de 75% — cerca de 160 milhões de pessoas — dependem exclusivamente do SUS.
O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta a maior prova de fogo desde que foi criado pela Constituição de 1988 com a missão de oferecer saúde a todos os brasileiros. Não é preciso ser um observador arguto para constatar que essa meta está longe de ser alcançada.
Conforme a pandemia do novo coronavírus avança no país, mais a saúde pública se aproxima de um colapso. O Brasil tem cerca de 50.000 leitos de UTI, metade pertencente ao SUS, metade à rede privada.
Além disso, embora os hospitais estejam com leitos de UTI em estado crítico, outras cirurgias eletivas e tratamentos estão sendo adiados, o que pode prejudicar as receitas. Um estudo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que analisa dados de operadoras de planos de saúde, mostrou que, até agora, o principal impacto da doença para essas empresas tem sido mais leitos vazios. A taxa média de ocupação de leitos caiu de 69% em abril de 2019 para 50% em abril de 2020.
Bruno Blatt está na Qualicorp desde novembro de 2019, em substituição ao fundador da companhia, José Seripieri Junior. Ele foi um dos principais executivos da Rede D'Or São Luiz e o responsável por levar a D'Or Consultoria à condição de uma das cinco maiores corretoras de saúde do Brasil. A mudança ocorreu depois que a Rede D'Or adquiriu uma participação de 10% da Qualicorp, em outubro do ano passado.
Com a aquisição, a Qualicorp quer desenvolver novos produtos regionais, customizados e que possam caber melhor no bolso dos consumidores nesse momento. Ao assumir a empresa, uma das estratégias de Blatt era digitalizá-la e torná-la mais ágil. Mesmo antes da pandemia, investiu em notebooks para os colaboradores e criou uma cultura de home office algumas vezes por semana. Ainda assim, "foi um desafio enorme se adaptar, porque nós, latinos, gostamos de proximidade", disse o executivo.
A empresa ocupava um prédio de 15 andares. Com o aumento na eficiência, reduziu custos fixos e devolveu sete andares do prédio. "Acabamos com algumas salas de reunião e criamos espaços abertos", diz Blatt. Com a pandemia, a companhia estuda diminuir ainda mais o espaço de trabalho.
No primeiro trimestre do ano, a Qualicorp teve queda no lucro de 27%, para 70,7 milhões de reais, pressionada por despesas extraordinárias, como um pagamento de 42 milhões de reais em rescisão de um executivo.
A receita líquida subiu 7,7%, para 502,5 milhões de reais no primeiro trimestre. O presidente diz que, embora a empresa não faça guidance, em abril teve um volume surpreendente de vendas e que não vê, por enquanto, nenhuma preocupação em relação aos indicadores de cancelamento dos planos.