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Demanda aquecida justifica reajuste, diz Vale do Rio Doce

No momento em que começam as negociações para ajustar a tabela de preços de 2006, companhia rejeita projeções de que demanda mundial desacelerará

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.

Embora as negociações formais sobre o reajuste do minério de ferro só comecem em dezembro, a temperatura entre a Companhia Vale do Rio Doce e seus clientes já subiu. Para a mineradora, o aumento dos preços para os contratos de 2006 não é uma decisão arbitrária, mas baseia-se no incremento da demanda e na alta dos custos. Fábio Barbosa, diretor-executivo de Finanças da Vale, criticou nesta quinta-feira (11/11) o que chamou de "sincronia de declarações" dos clientes, que não vêem necessidade de um reajuste.

"Essas declarações não capturam a essência do que o mercado está mostrando", afirma. Segundo Barbosa, o mercado mundial de minério de ferro continua aquecido, puxado pela expansão dos mercados asiáticos sobretudo China e Japão , americano e europeu. Para o executivo, a maior prova de que a demanda não pára de crescer é o aumento das vendas de minério no mercado spot aquele de compras para entrega rápida e pagamento à vista. "O preço spot está quase 50% maior em relação ao dos contratos de longo prazo", afirma.

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De acordo com o americano The Wall Street Journal, as três maiores mineradoras de ferro do mundo a Vale, a britânica Rio Tinto e a australiana BHP Billiton, que detêm 70% da produção do setor pleiteiam um reajuste de 10% a 20% nos preços. O tom das conversas é expresso pela troca de farpas entre Guy Dolle, presidente da Arcelor segundo maior grupo siderúrgico do mundo e representantes da Vale. Para Dolle, um reajuste de 20% seria "uma intoxicação" nos negócios. O executivo prevê que os contratos sejam fechados por preços semelhantes aos de 2004. Em 2005, as mineradoras conseguiram uma alta média de 70% em suas tabelas.

Em resposta, José Carlos Martins, negociador-chefe da Vale, afirmou que "o período colonial, quando algumas nações definiam os preços pelos quais outras nações venderiam seus produtos, já terminou. O aumento é uma questão de mercado."

O consultor Giovanni Fiorentino, especialista em siderurgia da Bain&Company, afirma que a Vale está fazendo seu papel, ao defender o reajuste de preços. Mas, para Fiorentino, não há muitas chances de que a mineradora seja bem-sucedida. "Não vejo espaço para aumentar os preços. Com as negociações, é possível até que eles recuem", diz. O motivo é que a demanda mundial por produtos siderúrgicos e por minério desacelerou. Além disso, novas jazidas devem começar a ser exploradas em breve, elevando a oferta do mineral.

Na entrevista que concedeu hoje para analisar os números do terceiro trimestre da Vale, Barbosa seguiu a mesma linha de argumentação. O executivo descartou que a economia chinesa irá desacelerar fortemente no próximo ano, o que reduziria a demanda por minerais e produtos siderúrgicos. Alguns analistas afirmam que o país crescerá 5%, contra os 9% registrados até o terceiro trimestre deste ano. Mas Barbosa aposta em um incremento mais robusto, ao redor de 8%. "A única chance de a China crescer pouco é sofrer uma escassez de matérias-primas e serviços como energia", diz.

Custos e resultados

Cerca de 70% dos custos da mineradora são denominados em reais. Por isso, a valorização da moeda brasileira pressionou mais algumas despesas, como a compra de equipamentos, locomotivas e combustíveis. "Existe uma perda relativa de competitividade", diz Barbosa.

Foi justamente o câmbio desfavorável que gerou resultados um pouco abaixo do esperado pelos analistas, no terceiro trimestre. Mas, no acumulado do ano, o desempenho ainda foi satisfatório. A empresa obteve uma receita bruta de 26,146 bilhões de reais, 23,1% maior que a de igual período de 2004. As exportações cresceram de 4,170 bilhões de dólares para 5,01 bilhões.

A empresa vendeu 184,578 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas, contra 169,499 milhões na mesma comparação. A companhia elevou também a produção em outras áreas, como bauxita, alumina, alumínio primário, cobre e potássio. Os negócios em logística também cresceram 3,7% somente no terceiro trimestre, sobre o mesmo período de 2004. Segundo Fiorentino, da Bain&Company, a diversificação de atividades é bem-vinda, porque "dificilmente a Vale manterá o mesmo patamar de lucros, se se concentrar apenas em minério de ferro".

O lucro líquido acumulado até setembro, 7,806 bilhões de reais, representou um crescimento de 58% sobre os 44,933 bilhões de 2004. A cifra é, até o momento, o maior lucro líquido já registrado por uma companhia privada não estatal no Brasil, para o acumulado de nove meses, segundo a consultoria Economática.

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