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Mudança de mentalidade da alta gestão ainda é desafio no ESG

Marcus Nakagawa, coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, comenta sobre a agenda corporativa de sustentabilidade para 2022

<b>Marcus Nakagawa, especialista em sustentabilidade : </b> é preciso descer a temática do ESG não só “top down”, mas também para fornecedores e terceirizados  (JBS/Divulgação)

<b>Marcus Nakagawa, especialista em sustentabilidade : </b> é preciso descer a temática do ESG não só “top down”, mas também para fornecedores e terceirizados (JBS/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2022 às 09h00.

Qual o viés que as grandes empresas do país darão ao ESG neste 2022? Para ter uma perspectiva sobre o tema, EXAME conversou com Marcus Nakagawa, coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS).

Especialista em sustentabilidade, ele é idealizador e conselheiro da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps) e da plataforma Dias Mais Sustentáveis.

Para Nakagawa, o Brasil ainda enfrenta desafios nessa agenda, como a mudança de mindset da alta liderança para que o tema se torne transversal nas companhias. Confira a entrevista completa:

O que se espera em relação às práticas de ESG em 2022, do ponto de vista corporativo?

Cada dia mais o ESG é uma realidade dentro das empresas e tem que ser um tema discutido e implementado internamente nos diversos departamentos. Algumas organizações, como as do setor bancário, de produtos e serviços para o público final ou que lidam com os recursos naturais diretamente, serão cobradas por mais ações, projetos ou relatos ligados ao tema. Existem muitas companhias que estão focando no ESG, inclusive, inserindo metas e bonificação de seus executivos para as questões de descarbonização, diversidade, gestão de águas, entre outros indicadores. Vejo, por meio das redes sociais, muitas vagas sendo abertas para essa área ou solicitação de consultorias, o que pode ser um indicador de investimento das marcas. Entretanto, ainda existe uma longa jornada a ser trilhada, com muito investimento, a uniformização dos vários índices em um indicador mundial e, principalmente, a mudança de mindset da alta gestão de que o tema é transversal e é a nova forma de gestão empresarial. E não somente alguns indicadores a mais para gerenciar ou um departamento a ser criado ou, ainda, um projeto bacana para ganhar visibilidade.

A pauta da sustentabilidade, de fato, não é nova, mas recentemente ganhou espaço a sigla ESG. Práticas relacionadas ao tema vieram para ficar?

A sustentabilidade continua sendo o alinhamento para a busca da perenidade da empresa por meio da sua missão, visão, valores e credo. O ESG é uma linguagem que vem muito mais do mercado financeiro e dos investidores para a verificação de indicadores e estratégias para garantir essa continuidade das organizações. O tema é totalmente estratégico, pois as maiores instituições de investimento, fundos e grandes investidores estão cobrando o ESG das organizações. Um bom exemplo é a BlackRock, a maior empresa de investimento, que gerencia o valor de quase 10 trilhões de dólares no mundo e 102 milhões de dólares na América Latina de investimentos, cujo principal executivo global desafia anualmente, por meio de uma carta aos CEOs das grandes marcas, para buscarem um verdadeiro desenvolvimento sustentável. Além de bancos aqui no Brasil que, para darem crédito a alguns tipos de empresas, já pedem os relatórios ligados ao acrônimo ESG.

Que pilares dentro da temática do ESG no mundo corporativo brasileiro ainda estão defasados ou atrasados na comparação com países que têm essa agenda mais desenvolvida?

No Brasil, umas das referências para empresas que possuem a sustentabilidade corporativa e que, anualmente, apresentam os seus relatos e indicadores de ESG para estar neste índice, são as listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE B3. No começo deste ano a B3 divulgou um ranking das companhias com as melhores notas nesse índice e disponibilizou os valores das notas nas suas várias dimensões. Nomes como EDP, Lojas Renner, Telefonica, Natura, Klabin, Ambipar, entre outros estavam nessa lista. As menores notas da maioria dessa lista no ISE no Score Base eram da dimensão Capital Humano. E nas questões de Meio Ambiente e Carbono eram notas altas, ou seja, temos ainda muito a evoluir e colocar esse tema como fundamental na gestão, pois se nas referências de ESG do país temos algumas defasagens, imagine nas outras milhares que ainda estão engatinhando com o tema. Lembrando que no ecossistema das empresas no país a maioria é formada por micro, pequenas e médias, muitas delas fornecedores dessas grandes que estão fazendo o ESG. Precisamos descer a temática não só “top down” dentro dos negócios, mas também para os fornecedores, terceirizados e “quarteirizados”.

Por outro lado, é possível dizer que empresas brasileiras são exemplos em algumas frentes ligadas ao ESG? Quais?

Sim, temos várias organizações como essas listadas e outras não listadas no ISE B3 que são referência em tópicos específicos do ESG. Por exemplo, as companhias de energia no país estão investimento muito para cada dia mais serem carbono zero ou ainda serem positivo ou regenerativo. Empresas de celulose têm criado projetos e produtos para substituir o uso de embalagens à base de recursos não renováveis como o plástico. O setor de varejo tem feito ações afirmativas na hora da seleção de funcionários para deixar o seu público interno e seus conselheiros com mais diversidade. A indústria alimentícia continua fazendo parceria com ONGs e criando produtos que todo o lucro vai para a causa social ou ambiental. Enfim, temos exemplos muito bacanas que são levados para as suas matrizes, no caso de multinacionais, e viram projetos institucionais globais.

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