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MRV mantém aposta no Minha Casa mesmo com risco de cortes

A construtora fará a mesma aposta no programa habitacional ao mesmo tempo em que há uma maior pressão para redução do gasto público


	Minha Casa, Minha Vida: cerca de 2 milhões de casas foram construídas por meio do programa
 (Ricardo Stuckert/Presidência da República)

Minha Casa, Minha Vida: cerca de 2 milhões de casas foram construídas por meio do programa (Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2014 às 13h57.

São Paulo - Uma aposta no programa habitacional de baixa renda de US$ 87 bilhões da presidente Dilma Rousseff ajudou a MRV a registrar o melhor fluxo de caixa entre as construtoras do Brasil. A MRV fará a mesma aposta em 2015 ao mesmo tempo em que há uma maior pressão para redução do gasto público.

Apesar de os bancos que oferecem empréstimos subsidiados do “Minha Casa, Minha Vida” terem restringido os padrões e de a economia estagnada possivelmente tirar alguns compradores do mercado, a demanda por casas a um custo médio de R$ 150.000 ainda vai superar a oferta, disse o diretor financeiro da MRV, Leonardo Correa.

Ele diz que a pipeline de projetos já anunciados se estenderá por muitos anos.

“Obviamente sempre há detalhes que serão otimizados, mas a política continuará a existir, haverá um programa de habitação”, disse Correa, em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. “Continuaremos lançando novas construções e vendendo”.

A MRV Engenharia Participações SA está seguindo adiante enquanto empresas como a fabricante de aviões Embraer SA dizem que podem ser espremidas pelos esforços para reduzir o orçamento do Brasil.

Os investidores estão exigindo que Dilma corte despesas depois que o setor público teve um déficit nominal de R$ 69,4 bilhões (US$ 27,2 bilhões) em setembro.

“O governo está gastando muito mais do que arrecada, mas ainda não está claro se está disposto a reduzir essa diferença”, disse José Márcio Camargo, economista chefe da Opus Gestão de Recursos, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro. “Programas sociais como o MCMV podem ser afetados”, disse ele.

Déficit surpresa

O déficit nominal de setembro foi de mais de duas vezes a estimativa média de R$ 31,1 bilhões registrada em uma consulta da Bloomberg a seis analistas.

A diferença é a maior desde o início da série, em dezembro de 2001, e pela primeira vez na história o Brasil registrou um déficit primário nos primeiros nove meses do ano, totalizando R$ 15,3 bilhões.

Na semana passada, a Embraer disse a analistas em uma teleconferência que a empresa poderá não receber do governo US$ 300 milhões devidos até o final do ano por causa dos esforços para reduzir os gastos.

As casas do programa “Minha Casa, Minha Vida” custam em média R$ 150.000 e ajudaram a solidificar a nova classe média do Brasil na última década.

Agora, o governo precisa focar no reforço das contas públicas, disse André Perfeito, economista chefe da Gradual Investimentos, por e-mail, de São Paulo.

“Assim como com a maioria dos programas do governo, a administração pode precisar moderar seu zelo, mas sem acabar com o programa”, disse Perfeito, em resposta a questões, por e-mail.

Lucros amanhã

Correa acredita que isso não acontecerá -- pelo menos não de uma forma que prejudique os resultados da MRV, empresa com sede em Belo Horizonte.

A MRV provavelmente reportará que os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização subiram 14 por cento, para R$ 173,8 milhões, quando divulgar seus resultados amanhã, segundo a estimativa média de quatro analistas consultados pela Bloomberg.

“Quando eu olho para diferentes países -- EUA, Inglaterra, México --, vejo que todos têm algum tipo de programa habitacional”, disse Correa. “O governo terá algum tipo de política como resultado dos empregos, dos impostos e da importância socioeconômica do setor”.

A MRV subiu no início do ano juntamente com o Ibovespa e em um determinado momento as ações haviam avançado mais de 15 por cento.

Os ganhos foram perdidos nas últimas semanas, deixando a ação em baixa de 7,5 por cento até ontem. O Ibovespa subiu 2,4 por cento.

Mensagens deixadas ontem à noite na presidência, no Ministério das Cidades e no banco estatal Caixa Econômica Federal para comentários sobre o programa habitacional não foram respondidas.

Foco da MRV

Cerca de 2 milhões de casas foram construídas por meio do programa, segundo a Caixa Econômica Federal.

Como empresas como a Gafisa SA e a Rossi Residencial SA deixaram o segmento de baixa renda para focar na oferta de apartamentos de luxo, a MRV agora tem 85 por cento de seus projetos dentro do MCMV, disse Correa.

A renda familiar mensal do programa é de até R$ 5.000. O restante dos projetos tem público “um pouco acima” dessa faixa, disse Correa.

A MRV teve o melhor fluxo de caixa operacional em 12 meses até junho entre as 14 maiores construtoras com ação em bolsa do Brasil, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Correa não é o único a acreditar que o programa “Minha Casa, Minha Vida” será mantido e até mesmo expandido para incluir casas mais caras, segundo Eduardo Silveira, analista do banco BESI Brasil que recomenda a compra de ações da MRV.

“Muitos dos clientes da MRV estão buscando sua primeira residência”, disse Silveira. “E a verdade é que eles ainda estão comprando e isso é muito positivo para a empresa”.

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