Negócios

MP investiga supervalorização de fundo sócio da Eldorado

Fundo acionista da Eldorado Celulose teve valorização de 184% em 2015 e agora é alvo de investigação


	Eldorado: fundo acionista da empresa começou o ano valendo R$ 2,2 bilhões e terminou valendo R$ 6,3 bilhões
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Eldorado: fundo acionista da empresa começou o ano valendo R$ 2,2 bilhões e terminou valendo R$ 6,3 bilhões (Dado Galdieri/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2016 às 10h38.

São Paulo - O Ministério Público Federal (MPF) investiga a expressiva valorização de 184%, em 2015, registrada pelo FIP Florestal. O fundo, que reúne os fundos de pensão Petros e Funcef, é um dos acionistas da Eldorado Celulose, do grupo J&F.

O Florestal começou 2015 com um patrimônio de R$ 2,2 bilhões e terminou o ano valendo R$ 6,3 bilhões, em função de uma reavaliação do valor da companhia feita pela empresa de auditoria Deloitte.

Com essa supervalorização, os fundos de pensão, que são cotistas do Florestal e haviam investido R$ 225 milhões cada na Eldorado por meio desse fundo, ganharam R$ 1 bilhão a mais em seus balanços de 2015.

O salto foi tão grande que os conselhos fiscais das fundações Petros e Funcef não queriam contabilizar integralmente o valor do investimento registrado pelo Florestal.

O entendimento era de que a avaliação da Deloitte foi otimista demais, ao dar como certa a entrada em operação da segunda fábrica da Eldorado, que sequer saiu do papel.

O ano foi promissor para o setor de celulose e papel, mas, segundo fontes próximas às fundações, justificaria uma alta de apenas 70%. A Deloitte não quis comentar.

Os fundos de pensão acabaram registrando o valor integral em seus balanços e não quiseram se manifestar. A Petros disse que não comenta investigação em curso.

A J&F enviou nota em que afirma que o valor da participação das fundações, de R$ 3 bilhões, foi feito com base em laudos de duas "renomadas auditorias independentes" contratadas pelo FIP e pela J&F. "Esse valor é cerca de seis vezes maior do que o investido por eles em 2009".

No ano passado, a Eldorado iniciou obras de terraplenagem para construir a segunda unidade em Mato Grosso do Sul. Mas, para que a fábrica seja de fato erguida, a companhia precisa angariar R$ 10,7 bilhões. Seu planejamento previa financiamentos do BNDES e do FI-FGTS e lançamento de ações.

"O equacionamento financeiro desta fábrica está longe de ser obtido, ainda mais com as investigações em curso", disse uma fonte ligada à Funcef.

As investigações, no caso, têm como alvo o suposto pagamento de propina para a obtenção de um financiamento de R$ 960 milhões com recursos do FI-FGTS, usado para construir a primeira fábrica da Eldorado.

A história foi revelada por um ex-vice-presidente da Caixa em delação premiada. Além disso, as novas investigações deflagradas com a Operação Greenfield deixaram o cenário mais nebuloso, especialmente com a decisão judicial que afastou os dois principais executivos da J&F, os irmãos Wesley e Joesley Batista, da administração do grupo.

Esquemas

Os procuradores, na Greenfield, apontam três esquemas de avaliação que envolveram as empresas de papel e celulose do grupo J&F, à época Florestal e Eldorado.

O primeiro relato é de que, já na partida, as duas fundações, Petros e Funcef, ignoraram as companhias avaliadoras que elas mesmas haviam contratado e que tinham estimado o valor dos ativos em cerca de R$ 500 milhões.

As fundações optaram pelo R$ 1,17 bilhão estimado pela empresa indicada pelo FIP, a Vitoria Asset, que pertencia ao falido banco BVA.

O segundo momento em que se percebeu problemas foi na fusão da Florestal com a Eldorado. A nova avaliação, feita pelo banco Brasil Plural, foi mais conservadora que a da Vitoria Asset. Dessa vez, as fundações aceitaram a avaliação mais conservadora e foram diluídas em suas participações.

Hoje, o FIP tem 34% da Eldorado e os cotistas são Petros, Funcef e J&F. O grupo da família Batista, além de fazer parte do FIP, detém o restante das ações da empresa.

A supervalorização registrada no ano passado é justamente o terceiro esquema apontado pelos procuradores. Uma das possibilidades levantadas pelo processo de investigação é que a avaliação acabaria beneficiando o gestor do fundo, que recebe taxa de performance.

A Brasil Plural, que é a gestora, explicou por nota que só receberá taxa de performance quando ocorrer amortização de cotas. "Até a presente data, o Brasil Plural não recebeu qualquer valor a título de performance."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasEldorado CeluloseEmpresasFundos de investimentoJ&FMercado financeiro

Mais de Negócios

Os criadores do código de barras querem investir em startups brasileiras de olho no futuro do varejo

Marca de cosméticos naturais Laces aposta em 'ecossistema' para chegar a 600 salões e R$ 300 milhões

Uma vaquinha de empresas do RS soma R$ 39 milhões para salvar 30.000 empregos afetados pela enchente

Ele fatura R$ 80 milhões ao transformar gente como a gente em palestrante com agenda cheia