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Menos estrelas na rede Accor

Enquanto outras redes inauguram hotéis de luxo, a Accor aposta na categoria supereconômica

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de fevereiro de 2011 às 19h46.

O francês naturalizado brasileiro Roland de Bonadona, diretor-geral da hotelaria Accor Brasil, gosta de acompanhar o filho Cristophe em torneios de tênis. Num desses passeios, em agosto, os dois deixavam a capital de carro e avistaram o anúncio de um hotel concorrente, promovendo a diária em números garrafais. O executivo sentiu uma ponta de orgulho ao ver a tarifa estampada em uma placa. "A Accor foi a primeira empresa a divulgar o valor da diária em São Paulo", diz Bonadona. "Hoje outros hotéis nos imitam."

Mas o preço exposto, na faixa dos 60 reais, tinha seu lado desagradável. Retratava a depreciação das diárias na capital e o excesso de hotéis durante um período de retração econômica e, conseqüentemente, de queda do número de executivos em viagem, os principais clientes da hotelaria paulistana. "As tarifas menores também sinalizam que o mercado agora privilegia a categoria econômica", diz Bonadona.

Para se tornar a maior rede de hotéis e flats da região metropolitana de São Paulo, a equipe da Accor trabalhou mirando os cenários do mercado. Procurou antecipar tendências, ler sinais e mudar de direção quando necessário. Não faltam exemplos. O grupo lançou em São Paulo a primeira rede de flats do país, a Parthenon, ainda nos anos 80, dez anos antes do boom imobiliário. O primeiro hotel de luxo da marca Sofitel foi erguido em 1990 no Ibirapuera, numa época em que poucos acreditavam no potencial da área. Com o Plano Real e as privatizações, trouxe à capital a rede econômica Íbis para receber os executivos.

Em 1999, o Íbis São Paulo Expo foi o primeiro hotel da zona norte. Há dois anos, quando os lançamentos hoteleiros se generalizaram, a Accor mudou de rumo. "Ficamos mais criteriosos", afirma Bonadona. "De cada quatro projetos que nos apresentam, recusamos três." Agora, enquanto redes concorrentes inauguram hotéis de luxo, a Accor avança na categoria supereconômica com um novo produto, o Fórmula 1. O único hotel da bandeira está instalado próximo à estação Paraíso do metrô e é tratado como projeto piloto.


A Accor e a construtora Setin tornaram-se sócias num investimento de 15 milhões de reais para inaugurar o empreendimento, em agosto do ano passado. Metade do valor foi bancado com financiamento do BNDES. O hotel prima pela simplicidade e opera com diária média de 49 reais. A taxa de ocupação é de 97%, contra a minguada média de 40% do mercado paulistano. A rentabilidade por apartamento fica em 1% ao mês, contra a média geral de 0,5%. "Mas isso não quer dizer que os outros Fórmula 1 vão oferecer o mesmo retorno", diz Bonadona.

O aviso é para deixar claro aos futuros investidores que cada hotel é um negócio diferente e todos têm seus riscos. Os novos Fórmula 1 serão erguidos pelo sistema de fundo imobiliário, que viabilizou a construção de 95% dos empreendimentos da marca em São Paulo. "Temos de garantir a confiança do investidor num período de sufoco", diz Bonadona. 

As oscilações no humor dos clientes e investidores na Grande São Paulo pesam -- e muito -- no resultado nacional. Mesmo com características próprias, o mercado paulistano funciona como teste e trampolim para outros estados. A região responde por 35% do faturamento da hotelaria Accor, que no ano passado atingiu 362 milhões de reais. No primeiro semestre, a receita em todo o país foi de 190 milhões de reais, uma redução de 7,7% sobre os 206 milhões registrados no mesmo período do ano passado. O faturamento acompanha a queda nas tarifas e no movimento em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A participação paulistana é a mais importante. Do total de 119 hotéis e flats espalhados pelo Brasil, 42 estão na Grande São Paulo. Os viajantes que passaram por aqui responderam por 55% das 600 000 reservas computadas em 2001 pela central de atendimento da Accor, localizada na sede do grupo, no bairro de Santo Amaro. Para atrair esse viajante, a Accor ampara-se na força da marca. Em 2001, investiu 10 milhões de reais na divulgação de seus empreendimentos locais.

Por tudo isso, com ou sem crise hoteleira, São Paulo permanece como base de apoio e de investimentos. Mas prevalece a cautela. Até 2005, o grupo vai abrir na região metropolitana de São Paulo 21 das 73 unidades brasileiras. A lista inclui os empreendimentos voltados para o mercado de escritórios. Todos os projetos paulistanos da área de hospedagem são antigos. Não há hotéis de luxo Sofitel ou Novotel na lista de inaugurações.

Os flats da rede Parthenon previstos para o período são plantas lançadas antes da baixa temporada, e, por ora, serão avaliados apenas novos prédios de escritório da marca. O foco está agora nas bandeiras econômicas. "Os mercados de quatro e de cinco estrelas saturaram", diz Bonadona, ao avaliar o cenário para os próximos três anos. "Nas categorias econômicas, a concorrência não vai crescer na mesma velocidade."

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