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Mendes, do WeWork: queremos renovar seu escritório

Com operações em mais de 20 países, empresa americana tem 4 bilhões de dólares para continuar sua expansão

Lucas Mendes, do WeWork (Midori De Lucca/WeWork/Divulgação)

Lucas Mendes, do WeWork (Midori De Lucca/WeWork/Divulgação)

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Aline Scherer

Publicado em 15 de agosto de 2018 às 08h14.

Última atualização em 22 de agosto de 2018 às 19h28.

O Itaú Unibanco inaugura nessa quarta-feira, 15 de agosto, um novo prédio. A novidade marca a chegada ao Brasil de um serviço inédito da WeWork, startup global de escritórios. Agora, além de criar escritórios compartilhados, a empresa também desenha e opera escritórios personalizados para empresas.

O novo endereço do Itaú é dedicado ao braço de empreendedorismo e novos negócios, o coworking Cubo, em parceria com a empresa de capital de risco Redpoint Ventures. O prédio fica no número 54 da Alameda Vicente Pinzon, na Vila Olímpia. Com pé direito duplo, o prédio tem capacidade para receber 1.280 pessoas, e conta com novidades como uma escada larga, onde é possível fazer reuniões de trabalho.

Fundada em 2010 por um empreendedor israelense e um arquiteto americano, a WeWork inaugurou sua primeira operação no Brasil em julho de 2017 na Avenida Paulista, e logo conquistou clientes como a gigante de tecnologia Facebook, a química Braskem e a consultoria EY. Hoje tem 10 endereços em São Paulo e Rio de Janeiro e em novembro inaugura sua unidade em Belo Horizonte. A operação brasileira é sua quinta maior no mundo. Ao todo, são 280 unidades em mais de 20 países.

A WeWork, com investidores como a multinacional de serviços japonesa Softbank, cresce em ritmo acelerado e sua avaliação de mercado supera os 20 bilhões de dólares. Já atende mais de 100 das maiores empresas dos Estados Unidos, como as de tecnologia IBM, Microsoft, Facebook e o conglomerado industrial General Electric.

Em entrevista exclusiva a EXAME, Lucas Mendes, diretor geral da WeWork no Brasil diz que a companhia, apesar de anunciar prejuízo consecutivo em seus balanços, tem 4 bilhões de dólares para continuar investindo na sua expansão global. Assim, pode lançar novos serviços, como o de construção e administração de escritórios corporativos para empresas com até 12.000 funcionários localizadas em qualquer cidade do país.

Globalmente, cerca de 25% da receita da WeWork vem de empresas de grande porte como clientes. O foco principal da companhia tem sido atender startups, pequenas empresas e profissionais liberais. Essa estratégia muda com o lançamento de um novo serviço, destinado a atender sobretudo empresas com mais de 1.000 funcionários?

Inauguramos nosso primeiro coworking no Brasil em julho de 2017, e logo empresas grandes começaram a nos procurar. Um dos primeiros clientes foi o Facebook, entregamos em dezembro um andar inteiro personalizado para sua demanda, dentro do nosso prédio de coworking na Avenida Paulista. Inclusive empresas de advocacia, como a Machado Meyer, usam espaços nossos espalhados por São Paulo. O TozziniFreire, por exemplo, criou uma área no escritório para cuidar de novos negócios, de startups e negócios de rápido crescimento, e alguns de seus advogados se tornaram membros da WeWork.

Então já tínhamos clientes no coworking, em salas de acesso exclusivo para seus funcionários, mas esses espaços ficam dentro do nosso prédio. Com o novo serviço, passamos a desenhar, construir e operar o imóvel do cliente. Abrimos 20 vagas para compor o novo time do Powered by We no Brasil, entre vendedores, arquitetos e designers, metade deles já foi contratada. E ao todo estamos com 180 funcionários no Brasil.

Porque a WeWork considerou que haveria espaço para entrar em um novo segmento e qual a expectativa para superar concorrentes?

Há várias empresas no mercado que fazem um pedaço do que nós oferecemos. Nossa visão é que existe espaço para entregar o serviço completo: desenhamos, construímos e operamos. E assim vamos aprendendo a melhorar nosso serviço. Se o desenho funcionar mal e atrapalhar a operação, continuamos vinculados ao cliente e temos dados da operação para reformular o desenho e a construção. Estamos atendendo a uma demanda que estava borbulhando nas empresas.

O banco Itaú é o primeiro cliente nesse novo serviço. O que tem de diferente nesse novo endereço, em relação ao anterior?

O espaço é mais amplo e assim o Cubo vira um dos maiores centros de empreendedorismo do mundo. O uso é exclusivo de seus associados, que podem ter acesso aos escritórios compartilhados da WeWork no mundo. Já tivemos feedback deles sobre como tratamos as reclamações. Por meio de um aplicativo, o membro avisa, com dois cliques, se sua sala está muito quente ou muito fria, se a porta estragou e outras questões. Isso gera uma agilidade de atendimento que eles não estavam acostumados. O prédio tem o pé direito duplo e construímos as escadas para ser um lugar de encontro.  Em tese, as escadas seriam um lugar de passagem. Mas as escadas que criamos para o Cubo Itaú têm espaço adequado para fazer alguns tipos de reuniões e são um elemento central de interação.

Entrar em mais um segmento de escritórios corporativos pode impulsionar em quantos por cento o crescimento da WeWork no Brasil dentro de um ano?

Lançamos globalmente o Powered by We no início de 2018, e até agora temos 30 clientes, se tornando um dos nossos segmentos de crescimento mais rápido. Destes 30 projetos, 11 já estão em construção, como a sede do banco de investimentos UBS em Nova York e a do Standard Chartered em Hong Kong. Esperamos que esse ritmo acelerado de crescimento continue, à medida que mais líderes empresariais entenderem a correlação entre o espaço de trabalho e o desempenho. Assim, vamos poder levar a WeWork para cidades que nem imaginávamos. Por exemplo, se uma fábrica no interior do estado nos contratar para desenhar, construir e operar seu imóvel. Até então, nosso modelo de negócio -- de operar somente em nossos prédios e não nos dos clientes -- nos restringia a atuar em endereços com alta concentração de escritórios, como a Avenida Paulista.

Qual a correlação entre o espaço de trabalho e o desempenho dos funcionários, segundo a WeWork?

No modelo mais tradicional de escritórios e empresas, quando as pessoas vão almoçar com colegas de trabalho, por exemplo, tomam cuidado com o que falam, as conversas e o clima costuma ser diferente de quando se está com amigos. Ao nosso ver, o novo modelo de trabalho favorece que as pessoas se sintam mais livres, à vontade de ser quem são -- o que as torna mais produtivas. São ambientes mais leves e alegres. É óbvio que o design não faze isso sozinho, mas ajuda a estimular uma relação diferente com o trabalho. De não pensar o trabalho como um fardo, uma obrigação, mas como um ambiente que se quer estar para encontrar gente que se gosta que se quer estar perto, que inspira.

Acreditamos que a conexão entre as pessoas gera mais energia e disposição para o trabalho, assim como se estar num espaço onde se enxerga várias reuniões acontecendo, em vez de estar cada um isolado no seu canto. E essas conexões não são somente de trabalho, nossos membros costumam criar grupos de corrida, de partidas de xadrez, organizam eventos juntos. As pessoas querem ter esse senso de pertencimento. O ser humano é social. Nossos espaços estimulam a sociabilidade no ambiente de trabalho e a nossa cultura  [organizacional] ajuda a formar essas comunidades.

Existem estudos concluindo que o uso em excesso de espaços abertos no ambiente de trabalho atrapalha o foco e a produtividade dos funcionários para alguns tipos de tarefas. De que forma a WeWork considera essas contestações?

Nosso conceito de design inteligente leva em conta a jornada de trabalho de cada pessoa ou o que cada empresa acredita que é relevante para si. Então, misturamos espaços abertos com espaços fechados, como cabines telefônicas. Temos salas diferentes para atender de forma produtiva os vários tipos de reuniões que as empresas fazem -- salas com mais ou menos mobília, sofás, infraestrutura tecnológica.

Um estudo que fizemos com a Microsoft, que é nossa cliente, concluiu que 20% das reuniões são feitas nas cozinhas. Então nossas cozinhas não são escondidas, desenhamos as cozinhas como um espaço mais propício para convivência. Por meio de análise de dados, sabemos que as pessoas  gostam de flexibilidade, por isso nossos membros têm acesso aos escritórios compartilhados da WeWork localizados em todo o mundo. Um estudo da Universidade Harvard fala que 80% dos profissionais freelancers preferem estar em escritórios compartilhados do que ficar somente trabalhando de casa.

As pessoas gostam de conversar sobre trabalho, mas também descontrair e falar sobre futebol ou histórias que acham que vale compartilhar. Nas empresas, muitas pessoas trabalham durante anos no mesmo espaço e não conhecem os colegas que ficam no mesmo andar. Nosso objetivo é levar o conceito de comunidade e senso de pertencimento da cultura da WeWork para as grandes empresas também, por meio do design de escritórios corporativos que favorecem a interação.

A WeWork anunciou em seu último balanço, prejuízo 369% maior no primeiro semestre de 2018 em sua operação global, em relação ao mesmo período do ano passado. Existe previsão de quando a empresa vai começar a dar lucro?

A operação da WeWork Brasil é uma das cinco maiores do mundo em número de membros. Temos mais de 10.000 membros hoje e prevemos terminar o ano de 2018 com mais de 15.000. Está sendo um crescimento muito rápido, muito acima da expectativa que tínhamos quando começamos. Já estamos em dez endereços em São Paulo e no Rio de Janeiro,  com ocupação superior a 90%. Vamos inaugurar em breve em Belo Horizonte. Em 2019 vamos abrir operações em Brasília, Porto Alegre, Curitiba. Em termos de resultados globais, em um semestre duplicamos o valor da margem de lucro de cada prédio. Individualmente, nossas unidades são rentáveis, mas estamos reinvestindo os lucros para a expansão. Quanto mais unidades tivermos, maiores serão nossos lucros no futuro.

Existe previsão de fazer abertura de capital da WeWork em alguma bolsa de valores?

Ainda não, mas emitimos títulos de uma dívida no mercado esse ano, de um bilhão de dólares com um investidor, o Softbank. Então, já mudamos nossa governança, passamos a publicar balanço financeiro. É muito bom trabalhar em uma empresa capitalizada, com 4 bilhões de dólares disponíveis para investir.

 

 

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