Negócios

Marisa tem prejuízo de R$ 3,2 mi: cenário macro segura aumento de vendas

Companhia foi mais rentável em relação ao período mais crítico da pandemia — expectativa de executivos é atingir o breakeven no curto prazo

Companhia investe no digital para crescer (Marisa/Divulgação)

Companhia investe no digital para crescer (Marisa/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 16 de março de 2022 às 20h03.

Última atualização em 17 de março de 2022 às 14h48.

A volta do comércio físico conseguiu impulsionar as vendas da Marisa, mas o cenário macroeconômico atrapalhou o crescimento da receita no quarto trimestre. Essa é a leitura que o balanço da varejista de moda mostra. O prejuízo líquido nos últimos três meses de 2021 foi de R$ 3,2 milhões, 88,8% menor do que o registrado no mesmo período de 2020 — auge das restrições impostas pela pandemia, que afetaram principalmente o varejo físico. Com mais atenção à eficiência operacional, a companhia conseguiu, mesmo assim, ter ganhos em Ebitda e em margem na comparação com o 4T20. 

O que puxou o resultado para baixo foi o descompasso entre o aumento de despesas com pessoal e vendas com o crescimento tímido da receita. Sem inaugurar novas lojas no período, a Marisa gastou R$ 187,2 milhões em vendas, valor 25,8% acima do registrado no quarto trimestre de 2020. As despesas com varejo também subiram 12,3% na comparação ano a ano, mesmo com a renegociação de aluguéis não atrelados ao IGP-M.

Esse dinheiro foi direcionado, principalmente, para renegociações de contratos, automação de processos e para o investimento em eficiência operacional em lojas (com mais digitalização). Além disso, a companhia também aumentou os investimentos em ações de marketing e nas estruturas para apoiar a operação digital, como na operação do app da Marisa, inaugurado em 2020 e que conta com cerca de 15 milhões de usuários. Hoje, as vendas digitais representam 9,6% da receita total da companhia, uma evolução de 4 pontos percentuais ante o resultado de 2019 — o que prova que o investimento já fez, afinal, algum efeito. 

Ao mesmo tempo, em um ritmo menor, as vendas cresceram. A receita avançou 6,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior, fechando o trimestre em R$ 702,2 milhões. As vendas em mesmas lojas tiveram variação positiva de 7,3%, ante variação negativa registrada no ano passado. Novamente, a reabertura colabora para esse cenário, mas a alta da inflação faz com que consumidores segurem o ritmo de compras de itens não relacionados às necessidades básicas diárias. 

Como consequência desse cenário, o Ebitda ajustado de varejo foi 4% menor do que o registrado no quarto trimestre de 2020, fechando o ano passado em R$ 95,3 milhões. Considerando apenas aspectos operacionais, o Ebitda foi de R$ 22,9 milhões, quase o dobro do registrado um ano antes. Novamente, coleções acertadas e atenção à eficiência operacional possibilitaram a melhora de um ano para o outro. 

A margem bruta avançou em 5,2 pontos percentuais na comparação com os mesmos três meses de 2020. A evolução está relacionada, segundo o comunicado, a uma gestão mais rigorosa dos estoques e a uma estratégia comercial de antecedência ao mês de Natal. Também interferiu positivamente a boa aceitação dos produtos que entraram em comercialização de Black Friday.

A atenção extrema aos fatores operacionais permitiu que a companhia registrasse essa evolução, mesmo represando boa parte do aumento de custos com a inflação. “Temos uma ampla gama de produtos nos permitiu o repasse de inflação de forma diversificada por toda a coleção, visando atingir a consumidora dentro do mínimo possível. Fizemos boas negociações com fornecedores e buscamos maior eficiência na operação interna, com automações e melhorias no processo logístico”, afirma Adalberto Santos, CFO da Marisa, à EXAME. 

Para 2022, a companhia também deve investir em dark stores (modelo fundamental para vendas na pandemia) e no marketplace, inaugurado em novembro de 2021 e que já responde por 6% das vendas digitais e tem 16 parceiros ativos. Para apoiar esse plano de expansão, a Marisa captou R$ 250 milhões em fevereiro, a partir de emissão de ações. “Também oferecemos aos acionistas participantes um bônus de subscrição, exercível entre 15 de setembro a 15 de novembro, que poderá resultar em uma captação adicional de até R$ 250 milhões para a companhia, dependendo das condições de mercado”, afirma Marcelo Pimentel, CEO da Marisa, em comunicado. 

Por último, em relação à fintech da varejista (o MBank), houve recuperação: o Ebitda teve evolução positiva de 26,6% em relação a 2020. Os juros de empréstimo pessoal foram a maior contribuição positiva no trimestre, enquanto as perdas por inadimplência mais do que triplicaram, saindo de R$ 2,8 milhões em 2020 para R$ 10,9 milhões em 2021. No cartão de crédito, a falta de pagamento foi menor, com uma variação de 3% nas perdas em comparação ao mesmo período de 2019.

Inclusive, a varejista já se programa para mais provisões ao longo dos próximos semestres. “Parece que a virada de ano foi um pouco mais dolorosa para o cliente. Começamos a perceber um aumento de inadimplência no quarto trimestre, mas deve repercutir também no primeiro trimestre deste ano. É uma yellow flag, tanto no processo de concessão de crédito como de recuperação”, afirma Adalberto. 

O dinheiro custando mais caro também afetou a companhia, de modo geral. No trimestre, a despesa financeira da companhia foi de R$ 18,4 milhões para R$ 26,5 milhões. O aumento de juros pesou, bem como o ajuste de AVP. 

Em um ano complicado para o varejo, com o combo de inflação, incerteza política com eleições à vista e os impactos de logística e aumento de preços devido à guerra na Ucrânia, a Marisa dá mais um passo em direção à recuperação. Resta acompanhar a adesão de consumidores ao canal digital ao longo do ano, bem como a disposição para comprar nas lojas físicas. 

Acompanhe tudo sobre:Marisa

Mais de Negócios

Peugeot: dinastia centenária de automóveis escolhe sucessor; saiba quem é

Imigrante polonês vai de 'quebrado' a bilionário nos EUA em 23 anos

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira

A força do afroempreendedorismo