Luana Lopes Lara, COO da Kalshi: jovem de 29 anos passou a adolescência estudando balé no Teatro de Bolshoi, em Joinville (SC) (Edição EXAME)
Repórter
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 16h04.
Última atualização em 5 de dezembro de 2025 às 16h12.
Luana Lopes Lara, aos 29 anos, é uma das mais novas bilionárias brasileiras. Na última semana, a fortuna da jovem foi estimada em cerca de R$ 6 bilhões após a Kalshi, plataforma americana que ela cofundou, alcançar um valuation de US$ 11 bilhões.
A EXAME noticiou a nova rodada e, consequentemente, a entrada de Lara no 'clube dos mais ricos do mundo', com exclusividade no Brasil. A matéria original gerou repercussão, com questionamentos sobre o que faz a empresa e se a brasileira teria ficado rica com bets, ou apostas esportivas.
"Não somos uma casa de apostas", afirma Luana Lopes Lara em entrevista exclusiva realizada nesta sexta-feira, 5. Segundo ela, a Kalshi, que acaba de levantar US$ 1 bilhão em uma rodada Série E, sempre teve que rebater esse tipo de comentário.
Quem é Luana Lopes Lara? Brasileira, bailarina de Bolshoi e agora, bilionária
A Kalshi permite a negociação de contratos baseados em eventos do futuro (por exemplo, eleições, recessões, resultados esportivos).
A lógica não é de casa esportiva, mas sim de corretora. Se o evento ocorrer, o contrato paga US$ 1; se não, paga zero. A casa não ganha se os usuários perderem.
Apesar de ter enfrentado desafios regulatórios inicialmente, a Kalshi é uma plataforma totalmente legalizada nos Estados Unidos.

A seguir, a entrevista com Lara na íntegra, onde ela detalha o que é a Kalshi, a polêmica envolvendo a plataforma, e os planos da empresa para o Brasil.
EXAME: Como a Kalshi funciona na prática?
Luana Lopes Lara: A Kalshi funciona como uma bolsa de valores, onde as pessoas compram e vendem com base em sua previsão do futuro. E é mais do que esportes. Pode ser sobre economia, política, saúde, qualquer evento futuro mensurável.
Imagine que você acredita que a economia dos Estados Unidos entrará em recessão no próximo ano. Você pode comprar um contrato na Kalshi que paga caso isso aconteça. Se você estiver certo, ganha o valor; se não acontecer, perde.
O que é importante entender é que a Kalshi não está apostando contra você, ela apenas cria o mercado onde você pode negociar com outros usuários. O preço desses contratos varia com o tempo, conforme novas informações surgem e as previsões vão mudando, e você pode tirar sua negociação quando quiser.
É diferente de bets?
O que fazemos é completamente diferente. Quando você aposta em um jogo, por exemplo, você está apostando contra a casa, que tem um incentivo para vender uma probabilidade desfavorável para o usuário.
Não estamos competindo com ninguém. Você compra, você vende, a gente não ganha dinheiro nenhum. Se um usuário perde, só estamos conectando pessoas de um lado e do outro. Então, nunca pensamos nisso como uma casa de apostas, mas gostávamos muito desse lado de gestão de risco e financial exchange. Eu, na verdade, não aposto de jeito nenhum.
Mas esportes ainda ocupam 80% das transações realizadas na plataforma. Qual a diferença aí?
O mercado esportivo, embora atraia muita atenção, é apenas uma das muitas áreas em que atuamos. Não apostamos contra ninguém, não compramos nem vendemos nada de ninguém, e não ganhamos dinheiro se as pessoas perdem. Isso é uma grande distinção das apostas tradicionais: você só pode comprar e apostar contra a casa, e ela ganha dinheiro quando você perde.
Tem casos que, se você começa a ganhar muito dinheiro, eles [plataformas de bets] começam a tirar você do jogo. Todas essas coisas são muito predatórias, e o que a gente faz é completamente diferente.

Então para você e o cofundador, o libanês Tarek Mansour, é uma bolsa de ações, mas com aquelas perguntas de conversa de bar?
Exatamente. Acreditamos que é por isso que ainda vamos crescer muito mais, e ter algo muito mais amplo do que o mercado de ações. Isso porque, com qualquer pergunta ou divergência de opinião, pode-se construir um mercado. Os dados extraídos a partir disso também são valiosos: quem está colocando dinheiro pesquisou, então o resultado serve como uma informação do que vai acontecer no futuro.
A notícia do seu status de bilionária gerou bastante repercussão no Brasil, com críticas sobre a Kalshi ser uma forma de apostar. O que você tem a dizer sobre isso?
Eu acho que a maior questão é que, se as pessoas acham que a gente é uma bet, elas têm que entender que o seguro-saúde é uma forma de bet, e o mercado de ações também.
Somos um mercado, só que, em vez de comprar ações da Apple, você pode comprar ações do Trump ganhando a próxima eleição. Isso é completamente regulado e legalizado nos Estados Unidos, assim como outros mercados financeiros. A diferença é que o nosso mercado tem previsões sobre o futuro, e, claro, existe especulação nele, como em qualquer outro mercado financeiro.
A Kalshi tem planos de expandir para o Brasil?
O Brasil é um mercado muito importante para mim, sendo brasileira. No entanto, ainda estamos começando a olhar para a expansão internacional. Não temos um plano concreto para anunciar ainda, mas é algo que está em nossos planos.
Há algum receio, depois da repercussão dessa última semana?
Eu vi pessoas falando do negócio de tigrinho. Eu fui Google [sic] o que era negócio de tigrinho, porque não sabia o que era. Completamente diferente do que a gente faz. Esse não tem paralelo nenhum.