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Pontas-de-lança de marcas conhecidas, os quiosques ganham espaços alternativos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Depois de invadir os corredores dos shopping centers, os quiosques começam a ocupar outros tipos de estabelecimento na metrópole. Nos últimos anos eles passaram a conquistar espaços alternativos, como escolas, academias de ginástica, postos de gasolina, clubes, livrarias e cafés. Qualquer lugar que receba um grande fluxo de pessoas virou alvo das mais diversas redes de franquias interessadas em multiplicar sua presença por meio dessas pequenas lojas.

Um exemplo é a Livraria Nobel. Com uma rede de mais de 90 lojas no país, entre livrarias e megastores, a empresa lançou no fim do ano passado uma nova opção de franquia, a Nobel Express, um quiosque de 9 metros quadrados. As duas primeiras unidades foram abertas em São Paulo -- uma dentro de uma loja de conveniência de um posto de gasolina no bairro de Pinheiros e outra numa academia de ginástica no Brooklin. Livro combina com malhação? "Academia é um bom lugar para abrir um negócio. Além de movimentado, seus freqüentadores têm poder aquisitivo elevado", diz Marcelo Lifschitz, dono do quiosque da Nobel na Companhia Athletica. Além de livros, ele vende revistas, CDs, DVDs e bijuterias. Para atender a clientela típica de academia, há sempre títulos relacionados a temas como saúde e alimentação.

Os quiosques da Nobel Express mantêm em estoque cerca de 100 títulos de livros. Numa megastore, esse número chega a 50 000. Se não encontrar o que procura, o cliente pode encomendar o produto e recebê-lo em 48 horas na Grande São Paulo. "Com os quiosques, esperamos chegar a espaços alternativos, como cafés, hotéis e supermercados", diz Flávio Milano Benclowicz, diretor de desenvolvimento da Nobel. Até o fim do ano, a meta é abrir pelo menos 50 franquias da Nobel Express no país, a maioria nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Os quiosques poderão ser implantados também em shoppings onde não haja mais espaço para uma grande livraria porque outras se instalaram antes. "O mercado livreiro é muito conservador", diz Benclowicz. "Com os quiosques, buscamos quebrar alguns paradigmas."

Casamento de interesses

O conceito de store in store (uma loja dentro de outra) tem como palavra de ordem a sinergia: aproveitar a estrutura existente para dar sustentação a um novo negócio. Para o dono do espaço, a vantagem é obter uma nova fonte de receita -- o aluguel --, além de ampliar os serviços e produtos oferecidos ao cliente. Para o dono do quiosque, o principal atrativo é instalá-lo num lugar que já possui clientela cativa.

"A instalação de quiosques nesses novos locais permite a racionalização de espaços e custos, além de ser um meio de estar mais próximo dos consumidores", diz Gerson Keila, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Dirigente também da Dunkin Donuts do Brasil, o próprio Keila está negociando uma parceria de sua empresa com a Nobel. "Podemos ter uma livraria nas nossas lojas e um coffee shop nas megastores da Nobel", diz. "Nada mais sinérgico que comprar um livro e tomar café."

Parcerias desse tipo estão se multiplicando por toda a cidade. No clube A Hebraica, há uma filial da Pizzaria Cristal e um quiosque do McDonalds. O campus da FMU em Santo Amaro também abriga um quiosque da rede americana de fast-food. "Em breve, acredito que poderemos ver também uma rede de café ou de fast-food dentro de hospitais", diz Marcelo Cherto, consultor especializado em franchising.

O paulistano que freqüenta shopping centers já deve ter visto algum carrinho da rede americana The Nutty Bavarian, que vende amêndoas e outros produtos torrados e glaçados em quiosques de 2 metros quadrados. Trazida ao Brasil em 1996 por Daniel Miglorancia e sua mulher, Adriana, a marca tem hoje cerca de 80 quiosques no país (60 deles franqueados), a maioria em shopping centers. O próprio casal é dono de 20 unidades, todas na cidade de São Paulo. Segundo Miglorancia, com a alta do dólar no ano passado, ficou evidente a necessidade de reestruturar o negócio e buscar parceiros fora dos corredores dos shoppings. A empresa já fechou um contrato para implantar 20 quiosques na rede de cinemas UCI. Está fazendo uma parceria similar com a Cinemark. O custo de implantação de um quiosque é fixado em moeda americana (10 000 dólares). "A maior despesa é com a máquina que faz o glacê, importada dos Estados Unidos", diz Miglorancia. O plano é fornecer agora os produtos já glaçados, para que os franqueados não tenham de comprar o equipamento. Assim, os custos de implantação devem cair para menos da metade.

Na maioria das vezes, quem abre um quiosque em vez de uma loja convencional o faz por causa do menor custo de implantação. Para abrir uma Livraria Nobel, por exemplo, o investimento estimado é de 69 000 reais, sem incluir o aluguel e o valor do ponto comercial. Uma megastore não sai por menos 158 000 reais. Para montar uma Nobel Express, esse valor cai para cerca de 30 000 reais.

Pequenos notáveis

No entanto, nem tudo é fácil para o empreendedor. O valor do aluguel, por exemplo, está afastando os quiosques dos corredores dos shopping centers. "Por serem muito procurados, esses espaços têm aluguel mais elevado, o que é um grande fator inibidor", diz o consultor de varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial. O metro quadrado de um quiosque chega a custar mais que o dobro do de uma loja no mesmo shopping center. A justificativa para essa diferença: por estarem nos corredores, os quiosques têm visibilidade maior que as lojas.

Outro problema dos quiosques em shoppings é que os contratos raramente são assinados por prazos superiores a um ano, enquanto os das lojas duram no mínimo cinco anos. "Isso gera uma grande insegurança. Os empreendedores não sabem se, ao término do prazo, vão conseguir renovar o contrato", diz Sérgio Barbi Filho, gerente de franchising da empresa de cosméticos O Boticário. Segundo ele, embora os quiosques possam proporcionar excelente retorno de vendas -- quase equivalente ao de uma loja --, O Boticário não tem incentivado muito a abertura desse tipo de loja. "Fechar um quiosque após um ano de funcionamento é prejudicial para a marca. Para o consumidor, fica a imagem de que o negócio não deu certo", diz. Claudio Guaranys, vice-presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), reconhece que os shoppings não têm interesse em manter quiosques fixos em seus corredores. "A tendência é que esses espaços sejam usados mais para estandes promocionais. Isso evita conflitos de interesse com os lojistas, que reclamam da poluição visual e, muitas vezes, da concorrência", afirma Guaranys.

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