Carlos Ghosn: executivo foi proibido de deixar o Líbano após prestar depoimento às autoridades locais (Regis Duvignau/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2020 às 08h44.
Última atualização em 9 de janeiro de 2020 às 10h02.
A Justiça libanesa proibiu nesta quinta-feira (9) o ex-magnata do setor de automotivo Carlos Ghosn de deixar o país, depois de ser interrogado pela Procuradoria Geral no âmbito de uma ordem de prisão da Interpol - informou uma fonte judicial à AFP.
A Procuradoria Geral adotou uma decisão que proíbe Carlos Ghosn de viajar e solicitou seu dossiê judicial ao Japão, onde o ex-CEO da Renault-Nissan foi acusado de desfalque financeiro, segundo a fonte.
O Líbano, que indicou não ter um acordo de extradição com o Japão, anunciou na semana passada que havia recebido um pedido de prisão da Interpol referente ao empresário de 65 anos.
Ghosn, detentor de nacionalidades francesa, libanesa e brasileira, é alvo de quatro acusações no Japão: duas por sonegação e duas por abuso de confiança agravado.
Uma segunda fonte judicial disse à AFP que Ghosn "permanecerá proibido de viajar até o recebimento de seu processo judicial do Japão".
"Dependendo do conteúdo do caso, se for comprovado que os crimes dos quais é acusado no Japão exigem procedimentos legais no Líbano, ele será julgado", informou a fonte.
"Se nenhuma ação legal for exigida, em virtude da legislação libanesa, ele ficará livre", acrescentou a fonte.
Ghosn também foi ouvido a respeito de um relatório apresentado à Justiça libanesa por advogados libaneses, relacionado a uma visita a Israel.
Países vizinhos, Líbano e Israel estão tecnicamente em guerra, e Beirute proíbe seus nacionais de irem a Israel, ou de terem contatos no Estado hebreu.
Preso em novembro de 2018 no Japão, o empresário foi solto sob fiança em abril de 2019, após 130 dias de detenção.
Em prisão domiciliar, foi proibido de deixar o Japão até o julgamento.No final de dezembro suspeita-se que fugiu pegando um jato particular no Aeroporto Internacional de Kansai, perto de Osaka (oeste do Japão).
Na quarta-feira, Carlos Ghosn denunciou um "golpe" orquestrado contra si e afirmou que está determinado a "lavar sua honra", durante sua primeira aparição pública em Beirute desde que fugiu do Japão.
Também denunciou ter sido "presumido culpado" pelo sistema de Justiça japonês assim que foi preso em 2018 e que não teve "outra escolha" a não ser fugir das acusações "infundadas".
"Eu era refém" no Japão, acrescentou, insistindo em sua "inocência".
"Fui arrancado da minha família e dos meus entes queridos", declarou ainda.
Tóquio, que tardou em condenar oficialmente à fuga, reagiu rapidamente ao que chamou de "espetáculo midiático" promovido por Ghosn em Beirute.
"Quero que ele enfrente a Justiça japonesa. Mas fugiu, mesmo quando não estava preso e podia ver seus advogados livremente. Essa atitude da parte dele é indescritível", declarou a ministra da Justiça, Masako Mori.
"Em todo caso, sua fuga é injustificável", acrescentou em coletiva de imprensa.
"Se o acusado Ghosn tem algo a dizer sobre seu processo, deve apresentar seus argumentos abertamente em um tribunal japonês e apresentar provas concretas", afirmou a ministra.
Os procuradores japoneses também reagiram à entrevista de Ghosn e classificaram suas críticas como "inaceitáveis".
Em uma nota, a Procuradoria de Tóquio considerou "categoricamente falsas e contrárias aos fatos" as acusações feitas pelo ex-CEO de que a Justiça japonesa e a Nissan teriam armado um complô para afastá-lo do cargo.