Negócios

Lambrecht, da 99: sem medo do Uber

Para Ariel Lambrecht, da 99, passar a oferecer serviços com carros particulares faz parte da evolução do setor de aplicativos de transportes

ARIEL LAMBRECHT, DA 99:  o serviço de táxis caiu 40% este ano  / Germano Lüders

ARIEL LAMBRECHT, DA 99: o serviço de táxis caiu 40% este ano / Germano Lüders

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 24 de agosto de 2016 às 15h28.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.

No final do mês, a empresa de transporte 99 – antiga 99Taxis – lança seu serviço com carros de placa cinza, chegando a um mercado dominado pela Uber, mas que já tem outros concorrentes, como a espanhola Cabify e o Easy, que também veio do mercado de táxis. A empresa demorou a anunciar a mudança, mas se motivou depois de ver as corridas que realiza caírem mais de 40% este ano.

O desafio agora é novo. A 99 não vai conta com um base instalada de carros, como os táxis, e corre o risco de deixar os antigos parceiros enciumados com a possibilidade de os clientes escolherem outros carros no mesmo aplicativo. “Vamos aumentar o bolo para dividir”, diz Ariel Lambrecht, diretor de produto e um dos fundadores do aplicativo. Lambrecht concedeu a seguinte entrevista para o EXAME Hoje.

Vocês estão mudando o modelo de negócios da 99. Deixou de se chamar 99Taxis e agora passará a aceitar outros motoristas, além de taxistas. Por que essa mudança?
Desde o começo da 99, tínhamos uma visão de tentar resolver o problema de transporte das cidades. Tivemos uma conversa logo que criamos o aplicativo – o Uber já era um modelo se consolidando lá fora – e ficamos com a opção de ter somente táxi. Agora, nossa decisão de entrar no mercado de motoristas particulares foi pautada pela queda dos serviços de táxi. As pessoas estão querendo usar outro modelo. Muita gente parou de usar táxi. Devido a essa vontade de mudança das pessoas, estamos nos adaptando. No final do mês, lançamos o novo serviço.

Quando começou a mudança?
Estamos nos preparando há pelo menos quatro meses para criar o 99pop. Mas isso começou ano passado, quando lançamos o 99top, com táxis pretos. É uma mudança difícil, porque exige um taxímetro digital, que é complicado de ser feito. Também dá mais trabalho, porque somos nós que selecionamos os motoristas, não é mais um controle pronto, como é o caso dos taxistas, que são cadastrados na prefeitura. Mesmo assim, foi um processo rápido.

O senhor disse que caiu 40% a procura pelos táxis. O táxi tem futuro no transporte urbano?
Sim. Nós pensamos o transporte urbano de uma forma que cada modelo tem sua funcionalidade. Quando o cliente quer ir para um jantar, uma reunião executiva, usa um serviço mais premium. Já o táxi pode usar o corredor de ônibus. Isso faz dele um sérvio mais rápido se o cliente está atrasado, ou precisa ir ao médico, por exemplo. Para as empresas que fazem parte do pacote corporativo da 99, é melhor que seus funcionários não percam tempo no trânsito, então o táxi pode servir bem. Já a categoria de motoristas de “placa cinza”, como dizem, é a mais barata. Em contrapartida, não é tão rápida por não ter acesso aos corredores.

Quanto mais barato vai ser?
Seremos competitivos com o UberX.

Os taxistas não ficarão insatisfeitos?
Acho que é difícil de entender e eles vão ficar nervosos, mas isso já era esperado. Dando mais opções, as pessoas continuarão no aplicativo e isso vai ser bom para os taxistas também. E não teremos tarifa dinâmica, então se os usuários pedirem um carro do 99pop e não tiver nenhum disponível, vamos perguntar para o usuário se ele aceita um táxi pelo mesmo valor. Assim, traremos demanda para o taxista que estaria parado e faremos a corrida pelo mesmo valor para o passageiro. Vamos aumentar o bolo para dividir com todo mundo.

Muitas empresas estão entrando nesse mercado, além do Uber. Esse mercado não vai ficar saturado?
Isso aconteceu no começo com os aplicativos de táxi. Tinha 15, 20 aplicativos no mercado. Fizemos uma escolha acertada ao focar na tecnologia e no usuário. Não houve nem uma consolidação no mercado, porque os outros aplicativos foram desistindo. Acho que está acontecendo a mesma coisa agora. É uma oportunidade nova, então muita gente entra. Mas esse mercado é ainda mais complicado que o de táxis, porque tem dificuldades diferentes.

Justamente por tantas empresas terem entrado, o movimento de vocês não demorou demais? O Uber está aí há mais de um ano e o Easy, que é o maior concorrente de vocês no mercado de táxis, também já lançou o serviço.

Eu não acredito que nesse mercado o que chega primeiro ganha. De certa forma, quem ganha de verdade é quem está realmente resolvendo o problema do usuário, nesse caso dos passageiros e dos motoristas. Acho que lançar primeiro não é uma grande vantagem. A vantagem é ter uma grande base de usuários na sua plataforma. E o movimento da Easy foi bom para a 99, porque eles acabaram avisando os taxistas que isso ia acontecer com todo o mercado.

O mercado de táxis se consolidou em duas empresas maiores e poucas menores. Com o de carros particulares será a mesma coisa?

Certamente há espaço para duas empresas. Dificilmente três, como diz o exemplo dos Estados Unidos. Não vai ter lugar para muita gente. Dois grandes e uns pequenos vivendo em nichos.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Negócios

15 franquias baratas para quem quer deixar de ser CLT a partir de R$ 6.999

Como o Grupo L’Oréal quer se tornar a beauty tech número 1 do mundo a partir do mercado brasileiro?

De olho em cães e gatos: Nestlé Purina abre nova edição de programa de aceleração para startups pets

ICQ, MSN, Orkut, Fotolog: por que essas redes sociais que bombavam nos anos 2000 acabaram

Mais na Exame