Negócios

Itaú faz jogada de mestre ao desistir do Sudameris

Cancelamento do negócio deixa o banco italiano em posição difícil e gera um grande lucro

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

O fato relevante divulgado pelo Banco Itaú no início da tarde da terça-feira, anunciando o encerramento das negociações para a compra do Sudameris, foi uma surpresa para quase todo o mercado financeiro. Quase, porque pelo menos um dos candidatos anteriores à compra --Bradesco, Unibanco e ABN Amro bateram às portas da sede do IntesaBCI em Milão-- já sabia da desistência. "Os italianos vieram conversar conosco há poucos dias", disse um executivo de um desses bancos. "Quiseram saber se ainda dava para fazer negócio, porque as coisas estavam difíceis com o Itaú."

A resposta, claro, não foi exatamente a que os vendedores queriam ouvir: o ex-candidato pediu um desconto generoso em relação ao 1,6 bilhão de dólares oferecidos pelo Itaú no fim do ano passado. "As conversas devem começar ao redor de um bilhão de dólares, se é que vai sair negócio."

Foi um desfecho ruim para os italianos. Quem sabe como os bancos tomam suas decisões acredita que será muito difícil encontrar um comprador para ficar com as 297 agências, 6.348 funcionários e 15,5 bilhões de reais em ativos do Sudameris. Vai ser difícil encontrar algum banco internacional que esteja com tanta vontade de entrar no Brasil. "Não há muito interesse estrangeiro por países emergentes hoje em dia", diz um profissional do mercado. "Isso reduz muito a possibilidade de venda."

Os candidatos nacionais também não resolvem o problema dos italianos. O que fez o IntesaBCI decidir-se a favor do Itaú foi a disposição do banco das família Setubal e Villella de ficar com todas as operações fora da Itália. Além do banco no Brasil, o Itaú compraria, a princípio, bancos em quase todos os países da América Latina, uma operação local nos Estados Unidos, em Miami, e um negócio de "private bank" em Paris, algo que não interessava aos outros candidatos.

Com o passar do tempo, o Itaú foi gradativamente reduzindo seu interesse de compra. Em fevereiro passado, ele anunciou que não iria comprar os bancos na Argentina e no Peru, e elevou sua oferta em 75 milhões de dólares (o IntesaBCI teve de repassar o problemático banco argentino ao Banco da Patagônia em outubro, e ainda pagar 150 milhões de dólares para livrar-se do negócio).

A compra do BBA pelo Itaú, anunciada na semana passada, foi o último golpe nas negociações com os italianos. Ao assumir o banco brasileiro, o Itaú conseguiu obter tecnologia e recursos humanos para tocar uma ambiciosa operação corporativa, algo que buscava no Sudameris. "Depois do BBA, o Sudameris tornou-se redundante na operação do Ita", diz um analista. O cancelamento, segundo a agência de classificação de risco Standard & Poors, não afeta os "ratings" do Itaú.

Além de terem satisfeito suas necessidades com a compra o BBA, os engenheiros do Itaú fizeram as contas e descobriram que poderiam ganhar mais desistindo do Sudameris. Ao anunciar que iria comprar um banco estrangeiro, o Itaú foi autorizado pelo Banco Central em dezembro passado a fazer uma grande operação de hedge contra a desvalorização do câmbio.

Nessa época, o dólar estava cotado a 2,30 reais. Se desfizer a operação com o câmbio de 3,60 reais de hoje, o Itaú vai lucrar "um bilhão de reais na estimativa mais conservadora", diz um auditor. Consultado, o Itaú não faz comentários além do fato relevante divulgado à tarde. O Sudameris só deverá divulgar uma nota oficial nesta quarta-feira.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame