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Flores jogadas no Ganges se transformam em incensos sustentáveis com tecnologia de empresa indiana

Toneladas de resíduos florais vindos dos templos, que agravam a poluição do rio sagrado dos hindus, têm novo uso e ainda empregam dezenas de mulheres

A marca de incensos Phool, feita a partir de flores que seriam descartadas  (Phool/Divulgação)

A marca de incensos Phool, feita a partir de flores que seriam descartadas (Phool/Divulgação)

EXAME Solutions
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Publicado em 1 de novembro de 2023 às 08h00.

No dia 12 de novembro começa na Índia o Diwali, a celebração mais importante do ano no país. Durante a festividade religiosa, conhecida como Festival das Luzes, além de enfeitar as casas, trocar presentes e soltar fogos de artifício, os hindus enchem o rio Ganges de flores. 

Foi pensando em combater o desperdício dessas flores jogadas no rio em celebrações como o Diwali, que poluem ainda mais o Ganges, que o jovem indiano Ankit Agarwal teve a ideia de reciclá-las. Sua empresa, a Phool, é a primeira solução lucrativa do mundo para o problema. 

Diariamente, a companhia coleta mais de 13 toneladas de resíduos florais usadas por templos no estado de Uttar Pradesh, onde fica o famoso Taj Mahal, e os transforma em varetas de incenso sem carvão, biocouro e embalagens orgânicas e biodegradáveis, por meio de uma tecnologia batizada de Flowercycling.

Cada pacote de incenso Phool reutiliza 1,25 kg de flores atiradas no Ganges (Phool/Divulgação)

“Algo tinha que ser feito”

A ideia surgiu em 2015, depois de Agarwal ir a outro tradicional festival com um amigo e, impressionados com a poluição do rio sagrado, notaram a quantidade de flores coloridas que eram despejadas ali, com suas cores desaparecendo rapidamente nas águas turvas. “Algo tinha que ser feito sobre isso”, diz o empreendedor no site da startup. 

Então, uma pesquisa mais aprofundada mostrou que grande parte das flores dos templos é carregada de agrotóxicos e inseticidas que, eliminados nas águas do rio, formam compostos tóxicos que suprimem o nível de oxigénio e, assim, ameaçam gravemente a vida marinha.

“Percebemos que nossa missão era reaproveitar esses resíduos provenientes de locais de culto, e assim nasceu a Phool”, conta.

No início, as pessoas não levaram muito a sério a proposta ou não queriam abandonar os resíduos florais. A empresa precisou trabalhar arduamente para mostrar o potencial da ideia. Foram horas e horas apresentando o projeto a partes interessadas até que fosse colocado em prática. 

Um ano e meio depois, em um laboratório improvisado, o incenso de flores reciclado foi concebido e enfim produzido. Aí, a ideia aparentemente simples emplacou.

Varetas sem bambu permitem a queima completa e menos fumaça de madeira (Phool/Divulgação)

Economia circular, emprego e inspiração

Hoje, já com seis anos, a Phool é um sucesso. “Templos ortodoxos e autoridades religiosas querem fazer parte da nossa missão, apontando para uma mudança contra uma prática religiosa prejudicial, centenária, de despejo de resíduos de templos no rio indiano”, comenta Agarwal.

E não são apenas incensos. A empresa investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento para criar outros produtos a partir das flores recicladas. Ela já fabrica, por exemplo, embalagens biodegradáveis ​​e biocouro com esse insumo. Fora o restante do portfólio, todo ligado às tradições hindus e com foco em sustentabilidade. 

Além dos consumidores diretos, a startup tem clientes corporativos de peso, como Microsoft, Google, Pepsico e Kellogg’s, que presenteiam colaboradores e parceiros com as gift box da Phool, não só pela proposta circular, mas também pela beleza e qualidade dos produtos. 

Todos são feitos à mão, caprichosamente, por funcionárias mulheres, e este é outro diferencial importante: a proposta da Phool extrapola a questão ambiental, de preservação do Ganges, e proporciona também capacitação, inclusão e geração de renda a mais de 70 mulheres indianas.

“Somos a génese do novo modelo de economia circular, um fluxo de resíduos inimaginável que aponta para uma mudança de sistemas”, destaca Ankit Agarwal.

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