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Inadimplência da Eletrobras no Amazonas desafia a privatização

Segundo a Aneel, a elétrica acumula 2,5 bilhões de reais em inadimplência com dívidas e obrigações setoriais

Eletrobras: "As dívidas da Amazonas Energia assustam, e com certeza atrapalham a venda da empresa" (Adriano Machado/Bloomberg)

Eletrobras: "As dívidas da Amazonas Energia assustam, e com certeza atrapalham a venda da empresa" (Adriano Machado/Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 1 de fevereiro de 2017 às 16h46.

São Paulo - Os planos da Eletrobras de privatizar até o final deste ano suas seis distribuidoras de energia que atuam no Norte e Nordeste devem ter como principal obstáculo a dura situação financeira da concessionária responsável pelo serviço no Amazonas.

Segundo a Aneel, a elétrica acumula 2,5 bilhões de reais em inadimplência com dívidas e obrigações setoriais, o que para especialistas pode obrigar o governo federal a socorrer a empresa antes de uma possível venda.

Outra solução seria oferecer a Eletrobras Amazonas Energia aos investidores em um pacote com outros ativos mais lucrativos, o que está em estudo no governo, mas até essa solução pode não ser suficiente para tornar a companhia suficientemente atrativa.

Mesmo a distribuidora goiana Celg-D, vendida pela Eletrobras em novembro passado e vista como a mais saudável dessas empresas, teve do governo e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um benefício na renegociação de suas dívidas junto à hidrelétrica binacional de Itaipu antes de ser privatizada.

"As dívidas da Amazonas Energia assustam, e com certeza atrapalham a venda da empresa... vamos ver se haverá transferência da dívida, como houve com a Celg, e qual será o preço final", disse à Reuters o sócio da LMDM Consultoria, Diogo Mac Faria.

"O due diligence da Amazonas não será nada trivial, e os investidores precisarão tomar muito cuidado", apontou.

A Eletrobras Amazonas acumula prejuízos de 2,3 bilhões de reais até o terceiro trimestre de 2016.

A companhia é considerada um "saco sem fundo" de perdas para a Eletrobras, apesar de ter a maior receita entre as distribuidoras da estatal, com 2 bilhões de reais até outubro em 2016.

Segundo relatório da Aneel sobre a empresa, a dívida líquida alcançava 1,4 bilhão de reais em setembro, sem considerar os 2,5 bilhões em inadimplência.

"O governo tem que preparar a empresa para a venda, ou seja, tem que quitar esse débito, senão não vende. Ou você junta ela com uma empresa que tenha mais valor... ou tem que dar muitos incentivos fiscais, de forma a compensar", aponta o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.

"Por mais que para o público em geral isso pareça muito complicado --o governo colocar dinheiro ou salvar e depois vender-- ou faz isso ou não vende", disse.

Procurada, a Eletrobras e a Amazonas Energia não comentaram imediatamente as dívidas ou os planos de privatização.

Pressa e entraves

Apesar das dificuldades, os especialistas defendem que é possível arrumar interessados na Amazonas Energia e que o governo e a Eletrobras não têm muitas opções, dada a dificuldade que a estatal tem mostrado na operação, da qual tem sido impossível tirar qualquer lucro.

Antes, as perdas financeiras das Amazonas e das demais distribuidoras eram compensadas pelo lucro da Eletrobras em outras áreas, mas a situação mudou após 2012, quando medidas do governo para reduzir a conta de luz levaram a elétrica federal a passar a registrar prejuízos anuais.

Agora a estatal corre para vender as distribuidoras, mas ao menos a Amazonas exigirá uma operação complexa, para separar ativos de geração e transmissão de energia detidos pela empresa das atividades de distribuição que serão privatizadas.

A geração e a transmissão vão compor uma empresa à parte, a Amazonas G&T --o processo é chamado de desverticalização e está em andamento na Aneel.

Para Faria, da LMDM, esse é "um abacaxi enorme para descascar", devido aos detalhes técnicos envolvidos na separação e sua operacionalização pela Aneel.

"Pouco provável que este imbróglio seja resolvido a tempo de vender o ativo em 2017", apontou o consultor.

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