iFood aposta em lojas e ser "banco de restaurantes" para acelerar expansão
A ofensiva acontece cerca de um ano após o maior aplicativo de entrega de refeições do país ter iniciado entrega de itens de supermercado
Reuters
Publicado em 9 de abril de 2021 às 10h14.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 11h57.
O iFood está ampliando a aposta em lojas de conveniência e numa prateleira reforçada de serviços financeiros para restaurantes, tentando capitalizar novas oportunidades de negócios surgidas desde o ano passado com os efeitos da covid-19 .
A ofensiva acontece cerca de um ano após o maior aplicativo de entrega de refeições do país ter iniciado entrega de itens de supermercado, uma vez que as medidas de isolamento tomadas para conter a pandemia impulsionaram o comércio digital no país.
Diante disso, o iFood entrou logo depois no segmento de conveniência, plano que estava inicialmente previsto para este ano. Agora, com cerca de 5 mil pequenos mercados e lojas de conveniência distribuídos em 300 cidades, a companhia prevê multiplicar esse número por oito nos próximos 12 meses.
"Nós já enxergávamos supermercado como uma vertical de expansão natural do negócio", disse á Reuters o vice-presidente de estratégia e finanças do iFood, Diego Barreto. "A pandemia acelerou isso", acrescentou, citando que as entregas totais feitas pela empresa no mês passado atingiram 60 milhões, o dobro em relação ao mesmo mês de 2020.
Empresas de comércio eletrônico estão fazendo uma forte ofensiva sobre o setor de supermercados no Brasil desde o ano passado, à medida que buscam ampliar a recorrência de uso de seus aplicativos, após campanhas massivas para formar bases de dezenas de milhões de usuários.
Assim, o segmento cujas vendas pela internet representam só 5% do total no país tornou-se alvo prioritário de Mercado Livre, Magazine Luiza, B2W, sem contar movimentos feitos pelas próprias cadeias supermercadistas, como GPA e Carrefour Brasil.
A ofensiva sobre supermercados é também uma forma do iFood tentar manter o ritmo de crescimento, à medida que sofre ataque de rivais, como o próprio Magazine Luiza e a B2W, que entraram no segmento de entregas de refeições. Isso, sem contar a expectativa de entrada de competidores globais em pouco tempo.
"Imaginamos a entrada de três a cinco empresas internacionais de entrega de refeições no Brasil nos próximos 12 meses", afirmou Barreto, sem citar nomes.
Uma forma de procurar se fortalecer no setor neste ano será ampliar o relacionamento financeiro com os restaurantes clientes do iFood. Atualmente, a empresa já presta serviços de pagamentos para cerca de 100 mil dos 250 mil restaurantes que atende.
Um das ações nesse sentido tem sido a expansão da oferta de crédito, seja para os próprios restaurantes ou para os funcionários deles. Segundo Barreto, o iFood já emprestou 200 milhões de reais. A meta é chegar a 500 milhões ainda neste ano.
De alguma forma, os efeitos da crise, que suspenderam as atividades presenciais e encolheram as receitas de milhares dos restaurantes cadastrados no iFood já têm ampliado esse relacionamento financeiro, uma vez que a companhia tem estendido iniciativas como antecipação de recebíveis sem juros e redução de taxas.
"Vamos seguir com o que foi feito por mais tempo até que tudo volte ao normal, mesmo que isso afete nossa rentabilidade", afirmou o executivo.
De todo modo, Barreto avalia que o momento do mercado de entregas de refeições e itens de supermercado ainda é de expansão acelerada por alguns anos no Brasil, não havendo necessidade dos atuais grupos defenderem seus mercados.
"Ainda estamos longe de um processo de exaustão", afirmou.
DELIVEROO
O negócio de aplicativos de entregas, em forte expansão no mundo todo, teve um anticlímax na semana passada, quando a ação do aplicativo britânico de entregas Deliveroo despencou até 30% em sua estreia na bolsa, levantando dúvidas no mercado sobre se o futuro do setor é ainda tão brilhante.
Para Barreto, porém, o revés da Deliveroo refletiu sobretudo receios de investidores envolvendo a governança da Deliveroo, cujo capital é dividido em distintas classes de ações, e questões regulatórias no próprio Reino Unido.
"Outras empresas do nosso setor estão performando muito bem na bolsa", disse Barreto. "O nosso modelo de negócios é também bastante diferente."
De todo modo, o executivo contou que o iFood, controlado pela brasileira Movile, não tem planos para abertura de capital, apesar da enxurrada de IPOs vista nos últimos meses e que incluiu empresas de comércio eletrônico como Enjoei e Mosaico, dona de sites de comparação de preços. "Esse assunto não existe dentro da empresa", disse Barreto.