Startup mineira ‘fabrica’ casas em 48 horas e já faturou R$ 120 milhões em um ano de operação
A govtech Hauss Brasil venceu seis editais do programa federal Minha Casa, Minha Vida e utiliza tecnologias já empregadas em outros países
Repórter
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 11h24.
Última atualização em 14 de janeiro de 2025 às 12h19.
Com um déficit habitacional que atinge6 milhões de domicílios no Brasil, segundo a Fundação João Pinheiro, a startup mineira Hauss Brasil acredita ter encontrado uma solução inovadora. A empresa aposta em construções industrializadas para acelerar a entrega de moradias populares.Em seu primeiro ano, a startup faturou R$ 120 milhões e já venceu seis editais do programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Criada em 2024 por Junior Bergamin, Paulo Curió, Jonatas Resende e Gilberto Bergamin, a Hauss combina as experiências de seus fundadores em engenharia, direito e gestão pública. O objetivo do grupo — que não se considera uma construtora, e sim uma govtech —é resolver desafios habitacionais em pequena escala, algo que grandes construtoras raramente conseguem atender de forma viável.
A Hauss atende demandas específicas de municípios pequenos e de famílias com renda a partir de um salário mínimo. O primeiro conjunto habitacional foi finalizado em Itamogi, Minas Gerais, com 150 casas. “Conseguimos levar moradia para cidades menores, onde outras construtoras não atuam por falta de escala”, diz o cofundador.
Este empresário do Paraná vai fazer R$ 650 milhões construindo casas de luxo ‘estilo Lego’Como são as casas da Hauss?
A Hauss utiliza tecnologias como Light Steel Frame e Light Wood Frame, amplamente empregadas nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda pouco difundidas no Brasil. Esses métodos consistem emestruturas leves de aço ou madeira que substituem a tradicional alvenaria.
As casas são “fabricadas” em Curitiba, onde os componentes são pré-montados com alta precisão. No terreno, tudo é finalizado em até 48 horas.A família pode se mudar já no dia seguinte, ou seja, 72 horas depois do início da obra.
As construções da Hauss também têm como pilar a sustentabilidade. Elas consomem 95% menos água e produzem quase nenhum resíduo sólido em comparação às obras tradicionais, que geram grandes volumes de entulho, segundo o cofundador.
As casas mantêm a temperatura interna em torno de 22ºC, mesmo em climas extremos, graças ao isolamento térmico avançado. Já o isolamento acústico é duas vezes superior às normas brasileiras.
“Levamos soluções completas, que combinam urbanização, sustentabilidade e infraestrutura”, explica Bergamin. Isso inclui garantir que as áreas escolhidas já possuam suporte básico, como escolas, creches, coleta de lixo e rotas de transporte público, evitando que novos bairros sejam criados sem a infraestrutura necessária para atender os moradores.
Por que não são mais comuns?
Embora mais rápidas e sustentáveis, essas técnicas de construção enfrentam resistência no Brasil. Por aqui, a"cultura da argamassa e do concreto", uma herança da colonização portuguesa, predomina.
“As pessoas ainda associam concreto a solidez e qualidade, o que cria uma barreira”, explica Bergamin. Essa resistência é maior em regiões como o Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, onde há influência da colonização alemã, o uso de madeira e métodos industrializados é mais aceito.
As tecnologias usadas também são 30% mais caras que os métodos convencionais quando aplicadas em pequena escala. “Por isso, nossa estratégia é operar em linha de produção, como na indústria automotiva, reduzindo os custos por unidade”, diz o cofundador.
Outro obstáculo é a dependência do setor público, que frequentemente apresenta atrasos na aprovação de projetos e pagamentos. “O cronograma não é linear. Às vezes, ganhamos o edital, mas precisamos esperar meses até que a documentação esteja completa para começar a obra. Isso pode criar gargalos na produção”, diz.
Mesmo com esses desafios, a Hauss já planeja o futuro.Depois de ser adquirida pelo grupo logístico Expresso Nepomuceno, a startup deve expandir suas operações para o Sudeste, especialmente São Paulo, e abrir uma nova fábrica na região para atender à demanda crescente.
“Temos capacidade para produzir até 4 mil casas por ano, mas queremos crescer com responsabilidade. É um mercado sensível e precisamos entregar com excelência, porque lidamos com os sonhos das pessoas”, diz Bergamin.