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Grupo Boticário quer saber se seus xampus e sabonetes ameaçam as águas

Ferramenta I.A.R.A quantifica ingredientes que são prejudiciais ao sistema hídrico e sugere mudanças para reduzir impacto dos produtos enxaguáveis

Inovação: testes de "ecotoxicidade" para identificar ameaças. (Eduardo Moody/ Grupo Boticário/Divulgação)

Vanessa Barbosa

Publicado em 22 de março de 2019 às 13h13.

São Paulo - Todos os dias, usamos uma variedade de produtos de higiene pessoal e cosméticos que, após serem enxaguados, têm como destino final o meio ambiente . Quando efluentes sem tratamento adequado atingem rios e outros corpos d´água, substâncias sintéticas presentes nesses produtos podem afetar negativamente a qualidade do ecossistema e a condição de vida dos seres que nele habitam.

Como parte de sua estratégia de sustentabilidade e em investida inédita, o Grupo Boticário criou uma ferramenta para calcular a chamada “ecotoxicidade” de seus produtos enxaguáveis, que incluem xampus, sabonetes, condicionadores e esfoliantes corporais.

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Batizada de I.A.R.A (Índice de Avaliação de Risco Ambiental), a ferramenta estima o impacto desses produtos no ambiente aquático com base em três eixos: biodegradação (capacidade do ingrediente se degradar na natureza), bioacumulação (como as substâncias tóxicas se acumulam ao longo da cadeia alimentar) e toxicidade aquática (efeitos danosos sobre os organismos vivos).

Como não há no Brasil uma legislação que exija testes de ecotoxicidade de produtos de higiene pessoal e cosméticos (apenas de toxicidade, voltados à segurança em saúde humana), a ferramenta foi construída com base em padrões e normas de controle de química de órgãos do exterior, como a agência americana EPA e a regulação REACH, em vigor na União Europeia.

Os métodos de teste adotados pela empresa incluem técnicas de modelagem de computador avançadas (conhecidas como modelos “in silico”) e ensaios experimentais sofisticados usando amostras de algas ou linhagens de células de peixes (o chamado “in vitro”), um técnica inovadora e alternativa para o uso de animais em pesquisas, que foi desenvolvida em parceria com a Universidade do Paraná.

Análise "in vitro": experimento usa amostras de algas ou linhagens de células de peixes. (Eduardo Moody/ Grupo Boticário/Divulgação)

“Colocamos o ingrediente numa matriz para análise que considera essas três vertentes e para cada uma delas tem um cálculo que classifica a substância em escala de risco baixo, moderado ou alto. Com base nisso, geramos uma pontuação total para a substância, o que permite comparar ingredientes e fórmulas e identificar opções para reduzir o impacto ambiental de nossos produtos”, diz ao site EXAME Márcio Lorencini, gerente de Avaliação de Produtos e Assuntos Regulatórios do Grupo Boticário.

O desenvolvimento da matriz para análise custou em torno de 200 a 300 mil reais, segundo o especialista,  e sua capacidade para testes de ingredientes e fórmulas é praticamente infinita.

Uma das matérias-primas que caiu no “pente fino” da análise de risco em função do alto impacto ambiental aquático foram as inglórias microesferas de polietileno (plástico), comuns em produtos enxaguáveis. O Grupo Boticário baniu essa matéria-prima de todo seu portfólio e não fabrica mais produtos que a utilizam. Como alternativa, desenvolveu processos para adotar matérias-primas biodegradáveis nos produtos de esfoliação, preservando a eficácia, sem prejuízos ao meio ambiente.

A ferramenta começou a ser desenvolvida em 2016 e iniciou os testes no ano passado. Até agora, cerca de 60% das fórmulas enxaguáveis das marcas pertencentes ao Grupo Boticário — Eudora, Quem Disse, Berenice? e The Beauty Box — já foram formuladas com menor impacto ambiental devido à utilização do processo de cálculo da ecotoxicidade. Até 2024, a companhia prevê que 100% dos produtos lançados tenham menor impacto na água.

Além de se antecipar a eventuais marcos regulatórios, a investida do Grupo Boticário vai ao encontro de uma demanda crescente por produtos mais ambientalmente amigáveis e à própria estratégia corporativa da empresa.

“Existem duas tendências para as quais não podemos fechar os olhos: o quanto sustentabilidade está deixando de ser um fator diferenciador e se tornando essencial aos negócios, e o quanto o consumidor, mais consciente, tem buscado transparência das empresas”, pontua Lorencini. “Assim, avaliar o impacto dos nossos produtos sobre o meio ambiente aquático foi uma decisão mercadológica e estratégica”.

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