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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
No primeiro trimestre, a Grendene vendeu 34,3 milhões de pares de calçados. O volume é quase 10% inferior aos 38,1 milhões comercializados no mesmo período do ano passado. O recuo foi mais acentuado no mercado externo, onde os 15,7 milhões de pares representaram uma redução de quase 16%. Os brasileiros absorveram 18,6 milhões de pares, 4,2% menos. À primeira vista, isso poderia significar queda de resultados, mas a empresa fechou março com uma receita líquida de 321 milhões de reais, 15% maior, e o lucro líquido, 64,3 milhões, saltou quase 57%.
O que permitiu à Grendene elevar seus resultados foi a decisão de redirecionar seu portfólio para produtos mais sofisticados e, portanto, de maior valor agregado. O preço médio dos pares vendidos subiu 24,3%, de 8,70 reais para 10,81 reais na comparação. O reajuste foi mais acentuado no mercado externo, onde a empresa praticou um preço médio de 8,40 reais - 58,5% maior. "Já no quarto trimestre, identificamos uma redução de pedidos e maior cautela dos varejistas; por isso, procuramos trabalhar com produtos mais sofisticados", afirma Francisco Schmitt, diretor de Relações com Investidores da empresa.
Ao contrário de outros segmentos, como os fabricantes de eletrodomésticos, alterar a carteira de produtos é relativamente rápido em uma calçadista. E essa flexibilidade foi chave para a Grendene, segundo o executivo. A Grendene lança entre 500 e 600 produtos por ano. Algumas linhas têm três ou quatro coleções nesse período. Assim, ao programar os lançamentos seguintes, a empresa pode adotar novas políticas de preço ao longo do ano. "Sempre conseguimos adequar os preços à conjuntura esperada", afirma Schmitt.
Por isso, ele observa que a aposta em produtos mais caros, neste trimestre, pode não se repetir nos demais. "Esta não foi uma decisão para todo o ano; na próxima coleção, pode ser diferente", diz.
Menos chinelos
Desde o agravamento da crise, em meados de setembro do ano passado, economistas e investidores apostam na força do mercado interno para sustentar o crescimento do Brasil em 2009. Mais precisamente, as esperanças estão sobre a classe C, que parece resistir mais à turbulência do que as camadas de maior renda, que foram afetadas, em parte, pela perda dos rendimentos financeiros.
Mas, para Schmitt, a queda do volume de vendas pode ser explicada, em parte, justamente pela menor procura por produtos mais simples - aqueles ao alcance dos consumidores populares. O executivo explica que, no Brasil, 50% do mercado calçadista é representado pela venda de chinelos. "Se esse segmento cai, tem impacto imediato sobre todos", diz. "A queda do volume vendido mostra que o consumo de massa foi afetado pela crise", completa.
Resultados
O lucro e a receita não foram as únicas rubricas do balanço da Grendene que cresceram. O ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) avançou 83%, passando de 23,3 milhões para 42,6 milhões de reais. A margem de ebitda subiu 5 pontos percentuais, para 13,3%.
A empresa também anunciou que passará a distribuir dividendos trimestralmente. Segundo Schmitt, a decisão não vai comprometer o fluxo de caixa da companhia. No trimestre, o caixa líquido (receitas menos dívidas) da empresa foi de 157,2 milhões de reais, um incremento de 27%. "Somos uma empresa muito líquida", afirma.
Por volta das 16h40, as ações ordinárias da Grendene (GRND3, com direito a voto) operavam com alta de 1,72% e eram cotadas a 14,75 reais. Até aquele momento, os papéis haviam sido negociados 92 vezes. No mesmo instante, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, recuava 0,94%, a 48.983 pontos.