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GM do Brasil terá de aprender a se virar sozinha com a concordata da matriz

Filial brasileira precisará buscar recursos para investimentos e também pode ficar sem a ajuda da GM europeia no desenvolvimento de novos modelos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A empresa que ocupou o posto de maior montadora do mundo durante sete décadas e que também já foi a maior empregadora dos Estados Unidos sofreu, segundo o jornal britânico Financial Times, uma “humilhante queda” ao pedir concordata à Justiça de Nova York nesta segunda-feira. A decisão pragmática da GM de reconhecer a nada glamourosa realidade faz parte de um acordo com o governo americano, que terá de emprestar mais 30,1 bilhões de dólares à montadora. Em troca, os EUA e o Canadá passarão a deter 72,5% das ações da GM. A concordata permitirá que a montadora separe os ativos ruins naquilo que vem sendo chamado de “Velha GM”.

Espera-se que a “Nova GM” passe por um período intenso de reestruturação que lhe permita voltar a ser competitiva. A montadora, que hoje possui 230.000 funcionários e fabrica 20.000 carros por dia em todo o mundo, deverá fechar mais 11 fábricas. Parte das operações como a divisão europeia Opel e alguns modelos como o jipão Hummer deverão ser vendidos a concorrentes.

O destino da unidade brasileira da GM ainda é uma incógnita. A filial acompanha de perto as negociações sobre a venda da Opel para a fabricante canadense de autopeças Magna - que está praticamente fechada. Esse acordo é de extrema importância para a GM do Brasil porque a Opel desenvolveu todos os modelos da marca lançados no país - com exceção do Celta e de picapes. Por isso, a unidade brasileira da GM terá de iniciar negociações com a Magna para estabelecer as regras de uma nova parceria.

Segundo Paulo Cardamone, vice-presidente da consultoria CSM, a venda da Opel à Magna também tornou mais distante o sonho da Fiat de assumir a GM na América Latina. Se esse negócio fosse fechado, pela primeira vez em décadas uma montadora lideraria o mercado brasileiro com folga. Juntas, Fiat e GM fabricariam mais de 45% dos veículos vendidos no país - contra 26% da Volks. A favor do negócio estavam os acordos de troca de tecnologia e também um antigo vínculo entre GM e Fiat, que já tiveram até participações societárias uma na outra - o descruzamento foi concluído em 2005.

No entanto, pesou contra a Fiat as dúvidas sobre sua capacidade de digerir ao mesmo tempo a compra de ativos da Chrysler e da GM e a forte oposição do governo alemão à venda da Opel para os italianos. “Com a venda para a Magna, a Fiat perde qualquer possibilidade de comprar as unidades da América Latina", diz Cardamone.

Quem dá mais?

Segundo fontes consultadas pelo Portal EXAME, outros quatro grupos internacionais, inclusive de fora do setor automotivo, estariam interessados na compra da unidade brasileira. A GM não quis comentar os rumores nem outras perguntas sobre a situação da filial. A aposta dos analistas, no entanto, é que as unidades que compõem a divisão GM LAAM (que reúne América Latina, Oriente Médio e África) continuem sob o comando americano.

A diferença é que a matriz deve parar de ajudar a filial a investir e a desenvolver modelos. "Com a concordata, a unidade brasileira vai ser forçada a se autofinanciar. Para isso a GM do Brasil poderá contar com o BNDES, que não deve colocar empecilhos à liberação de empréstimos já que a unidade brasileira tem operações rentáveis”, afirma Cardamone.

Apesar de trabalhar com quase a capacidade plena em suas fábricas no Brasil, a GM tem perdido mercado nos últimos anos, segundo dados da Anfavea (a associação das montadoras). Enquanto a Fiat e a Volkswagen se mantiveram praticamente estáveis desde 2005, com a venda de 26% do total de veículos no mercado brasileiro cada uma, a participação da montadora americana passou de 22,53% há quatro anos para 18,91% em 2009. "A GM perdeu mercado nos últimos anos porque saiu da guerra de preço, que é uma aposta da Fiat e da Volks, que oferecem mais descontos", diz Cardamone.

Segundo balanço divulgado pela companhia, o ano passado foi excelente para as unidades GM LAAM. O grupo atingiu níveis recordes com a venda de 1,2 milhão de veículos, uma alta de 3,2%. Corsa, Celta e Aveo - da Chevrolet - representaram 41% das vendas da GM. O Brasil representa o segundo maior mercado para a Chevrolet fora dos Estados Unidos, com vendas de 549.000 unidades em 2008.

Já em 2009, a GM LAAM, encerrou o primeiro trimestre com faturamento de 3,4 bilhões de dólares, contra 4,8 bilhões no mesmo período de 2008. "A GM diminuiu um pouco as compras, mas não foi algo muito significativo. É natural que diante dos problemas nos Estados Unidos ela tenha colocado um pouco o pé no freio", afirma Carlos Rodolfo Schneider, vice-presidente da Ciser, maior fabricante de fixadores da América Latina e que integra a lista de fornecedores da montadora no Brasil.

Em entrevista à rádio CBN, o consultor e ex-presidente da GM no Brasil André Beer também afirmou que a imagem da filial pode sair desgastada com a concordata nos EUA. No entanto, ele afirmou que o consumidor brasileiro não será afetado de maneira nenhuma. "Eu mesmo estou comprando um Vectra modelo 2010 neste momento", disse. O consultor acredita, no entanto, que a GM terá de fazer algum investimento em marketing para explicar a situação para os brasileiros.

Capacidade quase plena

Em São José dos Campos (SP), apesar de haver 250 funcionários em licença remunerada e do número de horas do terceiro turno da fábrica ter sido flexibilizado, são produzidos diariamente 750 veículos, um patamar próximo da capacidade máxima, segundo o sindicato local dos metalúrgicos. A unidade produz os modelos de maior valor agregado da GM - Corsa, S-10, Blazer, Meriva e Zafira – e emprega 8.700 funcionários.

A linha de produção em São Caetano do Sul também opera a todo vapor: são 800 veículos por dia dos modelos Vectra, Astra, Corsa Classic e Corsa Sedan. Segundo o sindicato dos metalúrgicos, a jornada foi estendida de 40 para 41,5 horas semanais e no próximo sábado os funcionários foram convocados para fazer hora-extra. Nessa unidade, a GM emprega 10.000 pessoas.

Em Gravataí (RS), também segundo o sindicato, o clima é de tranquilidade nas linhas de produção que fabricam diariamente em torno de 890 veículos dos modelos Celta e Prisma, volume próximo à capacidade máxima instalada. Além de manter a jornada de 44 horas semanais, a unidade retomou a produção aos sábados. Atualmente, a GM emprega cerca de 2.300 funcionários na unidade.

Uma nova fábrica?

A GM planeja construir uma fábrica de motores e autopeças em Joinville (SC). As obras estão atrasadas, mas não devido à crise. Em virtude das fortes chuvas que atingiram o Estado em novembro de 2008, parte dos trabalhos de terraplenagem terá de ser refeita. O morro localizado no terreno no qual será construída a fábrica desmoronou, o que exigiu da empresa a realização de um novo estudo de impacto ambiental (EIA-RIMA) para dar continuidade à implantação da nova fábrica.

Pelo cronograma original, as atividades começariam no quarto trimestre deste ano. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura da cidade, o diretor de Assuntos Institucionais da GM, Luiz Moan, declarou, em visita ao município catarinense em fevereiro deste ano, que o início da operação deverá ocorrer só no primeiro semestre de 2011.

Avaliada em 500 milhões de reais, a nova da unidade da GM em Joinville foi projetada para produzir 120.000 motores e 200.000 cabeçotes por ano e empregar 500 pessoas. A construção da fábrica seria a maior prova de que a filial brasileira mantém o interesse no Brasil - independentemente da situação da matriz.

 

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