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Gerdau investe R$ 10,8 bi em capacitação e novas tecnologias

Em entrevista, André Gerdau, diretor-presidente, fala sobre a vontade de aumentar a competitividade da empresa e reclama da concorrência com países como a China

André Gerdau, CEO do grupo: internacionalização da empresa foi decisão acertada (Kiko Ferrite/EXAME)

André Gerdau, CEO do grupo: internacionalização da empresa foi decisão acertada (Kiko Ferrite/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 17h42.

Porto Alegre - O grupo siderúrgico Gerdau está investindo pesado em ganhos de competitividade para contornar problemas na concorrência com o mercado externo. O diretor-presidente André Gerdau explica que 10,8 bilhões de reais serão investidos no sentido de capacitar a força de trabalho e atualizar a empresa tecnologicamente.

Entre as carências com as quais a Gerdau começa a sofrer, está o número de engenheiros especializados. "Mas fazemos um trabalho muito forte com os nossos trainees e estagiários", afirma André.

Para melhorar a eficiência da empresa, o CEO espera que já no ano que vem a auto-suficiência em minério de ferro seja alcançada. Essa decisão partiu após a volatilidade do mercado de commodities afetar os negócios do grupo, que atualmente compra 7,5 milhões de toneladas da matéria-prima por ano. A ideia é que também, no futuro, o excedente do produto possa ser vendido para concorrentes.

Segundo André, um dos maiores problemas hoje no mercado exterior é a política agressiva de protecionismo que alguns países realizam. Ele cita a China como um dos governos que oferecem grande quantidade de subsídios ao setor siderúrgico. "A gente consegue competir com empresas privadas, mas com governos a coisa é diferente", reclama.

Confira a entrevista:

EXAME - A Gerdau compra hoje 7,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, e a previsão é de que não compre mais nada já no ano que vem. Por que a empresa está perseguindo a auto-suficiência em minério de ferro?

André Gerdau - Este objetivo foi definido há três anos por conta do alto custo do minério de ferro no mercado. A competitividade da Gerdau irá crescer bastante se ela não precisar mais comprar este produto de fornecedores.

Os preços do minério de ferro vêm crescendo desde 2003 ou 2004, e tiveram apenas uma leve queda durante a crise financeira de 2008, subindo rapidamente de patamar logo depois disso. Esta tendência veio pra ficar por muitos anos. A Gerdau pretende não só ser auto-suficiente na matéria-prima como vender o excedente para outras empresas.

EXAME - Esta estratégia envolve também outras matérias-primas?

André Gerdau - Sim. A Gerdau está buscando acesso direto a fontes de sucata e está prospectando carvão coque em uma das unidades produtivas na Colômbia. Este carvão servirá inclusive para abastecer a produção no Brasil.


EXAME - Quais os desafios da Gerdau hoje no que diz respeito à produção de aço?

André Gerdau - Na produção de aço, a idéia é trabalhar cada vez mais na capacitação da força de trabalho e na atualização tecnológica dos processos. O investimento total nessas duas frentes é de 10,8 bilhões de reais. A Gerdau quer buscar as melhores práticas, trabalhar com qualidade total e agregar serviços para o cliente.

Uma das formas de se fazer isso é entregar o aço no melhor formato possível para a necessidade específica de cada um desses clientes - que podem estar na indústria da construção, na indústria de linha branca, no setor automotivo e assim por diante.

EXAME - O senhor é diretor-presidente do grupo Gerdau desde 2006, quando o seu pai, Jorge Gerdau Johannpeter, passou para o conselho de administração. Qual o balanço da sucessão?

André Gerdau - O processo de sucessão da quarta pela quinta geração da família foi iniciado no ano 2000, seis anos antes de eu assumir o atual posto. A transição ocorreu de forma controlada e sem afetar o negócio. A empresa vem funcionando muito bem.

EXAME - Por ser uma das companhias mais internacionalizadas do país, a Gerdau hoje precisa lidar com o mau momento econômico dos países ricos. Como está sendo isso?

André Gerdau - A internacionalização da empresa, que começou nos anos 80, foi uma decisão bastante acertada, mesmo analisada sob a ótica de hoje, em que mercados como o europeu e o americano vivem uma crise. Optamos pela internacionalização exatamente para diversificar o nosso risco e não depender apenas de um mercado.

No passado, era o Brasil que não crescia tanto. Ter um portfólio diferente ajuda bastante, esta diversificação se provou acertada. De qualquer forma, a retomada nas economias ricas já está acontecendo. Ela é apenas mais lenta do que a verificada em mercados como a América Latina. No longo prazo, o cenário é positivo.

A Gerdau vem sofrendo com a tão comentada falta de engenheiros no Brasil?

André Gerdau - A gente já começa a ver algumas carências, mas fazemos um trabalho muito forte com os nossos trainees e estagiários. Buscamos aqui o envolvimento da pessoa com a empresa, a identificação dela com os valores presentes na cultura da empresa há anos.


Em um mercado disputado, isso faz diferença. E os valores da Gerdau só atraem e retém as pessoas porque valem na prática. Não adianta eleger os valores, colocá-los em um quadro e pregar o quadro na parede. É preciso dar o exemplo e praticá-los. Isso vale para a família e para todos aqui.

EXAME - Quais as armas da Gerdau para enfrentar a concorrência?

André Gerdau - A estratégia da Gerdau para vencer os concorrentes é chegar antes deles aos clientes e oferecer qualidade máxima em seus produtos e serviços. Estamos acostumados a concorrer com empresas; o problema é quando precisamos competir com países. A China, por exemplo, tem muitos artificialismos, muitos subsídios.

O governo ou é sócio dos negócios ou está diretamente envolvido na gestão deles. A gente consegue competir com empresas privadas, mas com governos a coisa é diferente. E esta concorrência não se resume às atividades da Gerdau. Ela atinge toda a cadeia, ela atinge os nossos clientes.

Enquanto nós concorremos com siderúrgicas chinesas, os nossos clientes na indústria automotiva e na fabricação de linha branca, por exemplo, também se vêem prejudicados pelos artificialismos que regem as atividades dos seus concorrentes chineses.

EXAME - É um problema para o Brasil, portanto.

André Gerdau - Exatamente. Fica colocada aqui uma questão para o Brasil: como nós vamos enfrentar isso? É preciso perseguir uma reciprocidade. No final das contas, estamos falando de desenvolvimento, da geração de empregos. Estamos vendo os empregos serem gerados na China.

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