Marcelo Cohen, CEO da BeFly: "Diziam que a viagem corporativa ia acabar numa era de Zoom, Google Meets, Teams e outros, mas essa nunca foi minha aposta. Sempre acreditei no 'shake hands' ao vivo" (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 6 de agosto de 2022 às 08h00.
Última atualização em 6 de agosto de 2022 às 09h49.
Depois de ver os negócios caírem a praticamente zero na fase mais braba da pandemia, a operadora de turismo corporativo Flytour teve vendas de 820 milhões de reais em julho.
É um volume mensal recorde para a empresa, fundada em 1974 pelo empreendedor Eloi D'Ávila de Oliveira e hoje com mais de 670 pontos de vendas espalhados pelo Brasil.
Em outubro de 2021, a Flytour foi vendida por 500 milhões de reais para a Belvitur, agência de turismo tradicional de Belo Horizonte comandada pelo empresário mineiro Marcelo Cohen.
Nos últimos meses, Cohen tem ido com afinco às compras de empresas com algum pé no mercado de turismo.
Em janeiro, Cohen levou a operadora paulistana Queensberry, focada em viagens de incentivos para funcionários e pacotes de luxo.
Fundada em Londres, em 1971, a agência enfrentava um processo de recuperação judicial com dívidas de 50 milhões de reais turbinadas, em boa medida, pela pandemia.
Seis meses depois, Cohen levou a Qualitours, de cruzeiros de luxo.
Tudo isso para formar a BeFly, uma holding com mais de 30 negócios para públicos bem distintos.
Na lista estão negócios de tecnologia como o site Vai Voando, uma rede de franquias para venda de passagens aéreas com desconto voltado a passageiros com orçamento mais restrito — e preferência por viagens baratinhas pelo Brasil.
O recorde de vendas da Flytour tem muito a ver com o ecossistema de negócios de turismo idealizado por Cohen. "O cross-selling antecipou para 2022 números esperados só para 2024", diz.
Cross-selling, de maneira geral, é a estratégia de oferecer para o cliente de uma empresa de uma holding os produtos ou serviços de outros negócios do mesmo grupo.
Trata-se de uma maneira de aliviar o custo de aquisição de clientes — uma conta salgada para muitas empresas.
Na prática, a aposta de Cohen é explorar novas fontes de receita junto à base de 700.000 consumidores com alguma compra mensal na BeFly.
"Tenho uma equipe de Queensberry dedicada aos clientes da Flytour, por exemplo", diz ele. "Uma viagem de incentivo a funcionários de empresas, vendida pela Flytour, pode ter uma programação de lazer comercializada pela Queensberry."
A retomada das viagens nesta fase mais branda da pandemia também colaborou bastante para o resultado da Flytour.
No acumulado do primeiro bimestre de 2022, houve um crescimento de 29% nas viagens frente a igual período do ano passado, segundo dados do IBGE.
"Diziam que a viagem corporativa ia acabar numa era de Zoom, Google Meets, Teams e outros, mas essa nunca foi minha aposta", diz Cohen. "Sempre acreditei no 'shake hands' ao vivo. Tinha dado para isso? Não, mas meu feeling estava certo."
Criada em 1963 pelo empresário David Cohen, pai de Marcelo, a Belvitur era a maior operadora de turismo de Minas Gerais antes de virar o embrião da BeFly.
Conhecida no setor por um olhar atento às finanças, a Belvitur cresceu sem os arroubos vistos na concorrência. Desde jovem, Marcelo atua nos negócios da família.
Com a aquisição da Flytour, Marcelo Cohen chamou a atenção no mercado de turismo.
Uma das mais tradicionais agências de turismo do Brasil, a Flytour sofria com o impacto da pandemia.
Uma dívida de 142 milhões de reais sem perspectiva de quitação num cenário de fronteiras aéreas fechadas obrigou a companhia a entrar numa recuperação extrajudicial.
Entre os credores estavam bancões como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú.
Para 2022, a expectativa é que a BeFly fature mais de 6 bilhões de reais.
Com esse porte, ela é a maior empresa do setor com capital fechado na América Latina.
Em meio ao ‘céu de brigadeiro’, algumas nuvens podem trazer riscos à BeFly.
Um deles é a escalada dos custos — as passagens aéreas subiram 77% nos últimos 12 meses no Brasil, segundo a Anac, agência nacional de aviação civil.
Há ainda o caos enfrentado por turistas em aeroportos dos Estados Unidos e da Europa em pleno verão do hemisfério Norte.
Após dois anos enxugando staff para enfrentar a pandemia, as administradoras de hubs mundiais como Heathrow, em Londres, e Schipol, em Amsterdam, pediram às companhias aéreas para cancelar voos por falta de pessoal de solo para dar conta da demanda.
Tudo isso está longe de incomodar Cohen. “A disrupção dos aeroportos vai ser passageira”, diz ele. “A volta da demanda por viagens, por outro lado, veio para ficar.”
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