Fibria: dívida líquida que a Fibria carregava à época de sua formação foi reduzida à metade (foto/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2014 às 17h32.
Nova York - Após quitar US$ 3,3 bilhões em dívidas, a Fibria Celulose SA está pronta para começar a crescer novamente.
A maior fabricante de celulose do mundo reduziu à metade, para cerca de US$ 3 bilhões, a dívida líquida que carregava à época de sua formação, em 2009, quando a Votorantim Celulose e Papel SA resgatou a Aracruz Celulose SA após prejuízos bilionários com derivativos cambiais.
O diretor financeiro da Fibria, Guilherme Cavalcanti, disse que um empréstimo sindicalizado de US$ 500 milhões assinado nesta semana com bancos como o Bank of America Corp. e o Société Générale AS é um “marco” para a empresa.
O dinheiro será usado para pagar o que restava de dívidas consideradas caras, com vencimento em 2019 e 2021.
A Fibria dedicou os últimos cinco anos a quitar dívidas e reconquistar seu grau de investimento, perdido em 2009, após a incorporação da Aracruz, que havia sofrido um prejuízo de US$ 2,1 bilhões com apostas cambiais erradas. Agora, a empresa tem dinheiro disponível para fusões, pagamento de dividendos ou expansão.
O fluxo de caixa livre NOS 12 meses até setembro subiu 20 por cento, para R$ 1,1 bilhão (US$ 431 milhões), informou a produtora de celulose em seu site.
“Estávamos usando 100 por cento do nosso fluxo de caixa livre para pagamento de dívidas”, disse o CEO Marcelo Castelli, em entrevista na sede da Bloomberg em Nova York, antes de assinar o acordo de empréstimo sindicalizado. “Agora temos opções para crescer. Preferimos a consolidação”.
A empresa sediada em São Paulo, que obtém cerca de 90 por cento de sua receita com exportações de celulose para Europa, América do Norte e Ásia, liderou os ganhos no Ibovespa nos últimos três meses, com valorização de 33 por cento, enquanto o real registrou a segunda maior queda entre as principais moedas do mundo.
Um declínio de 10 por cento no câmbio se traduz em um incremento de 24 por cento na geração de caixa da empresa, já que 85 por cento de seus custos são em reais, segundo Cavalcanti.
"Boa jogada"
“Nós recomendamos a ação porque é um bom posicionamento em câmbio”, disse Fernando Góes, analista da Clear Corretora, em entrevista por telefone, de São Paulo. “É uma boa empresa, com resultados fortes.
Vem mostrando disposição para SANAR OS problemas e ficar limpa para aproveitar melhor esse novo patamar de câmbio”.
A Fitch Ratings elevou a nota de crédito da companhia para BBB-, o patamar mais baixo do grau de investimento, em fevereiro, citando uma “abordagem disciplinada” para redução da dívida ao longo dos últimos dois anos. A dívida líquida caiu para o equivalente a 2,5 vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização no terceiro trimestre, ante um pico de 7,5 vezes em 2009, segundo uma apresentação do site da Fibria.
Ao elevar o rating da Fibria, a Fitch, que tem sede em Nova York, considera a expectativa de que a produtora de celulose leve adiante o projeto de uma nova linha de produção em Três Lagoas (MS) para atender a demanda crescente da Ásia.
O investimento pressionaria o fluxo de caixa livre, mas a alavancagem líquida “cairia rapidamente” quando a fábrica começasse a operar, escreveu Fernanda Rezende, analista da Fitch, em um comunicado do dia 19 de fevereiro.
Retorno baixo
O investimento na fábrica não é a melhor forma de usar o dinheiro da empresa por causa do “baixo retorno estimado” do projeto, escreveram Felipe Reis e Renato Maruichi, analistas do Banco Santander SA, em um relatório em outubro.
Uma melhor aposta seria a distribuição do dinheiro para os acionistas por meio de dividendos, disseram eles.
A Fibria espera investir cerca de R$ 1,7 bilhão em 2015, acima dos R$ 1,6 bilhão deste ano.
A produtora de celulose, que tem uma fatia de 9 por cento no mercado global de celulose, visa a dobrar sua capacidade atual para 10 milhões de toneladas, disse Castelli.
O projeto da fábrica de Três Lagoas, com custo estimado de US$ 2,5 bilhões, provavelmente será apresentado ao conselho da empresa até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, segundo o CEO.
O investimento levaria a produção anual total da unidade para 3,05 milhões de toneladas, transformando-a na maior fábrica de celulose do mundo.
“Três Lagoas é um projeto muito competitivo”, disse ele. “Vamos definir ‘quando’ vamos investir e não ‘se’ vamos ou não. O projeto não está em risco de não ser aprovado pelo conselho e colocado na gaveta”.