Fiat e Peugeot: montadoras estariam analisando fusão (Eric Gaillard/Reuters - Krisztian Bocsi/Bloomberg/Exame)
EFE
Publicado em 31 de outubro de 2019 às 08h43.
Última atualização em 31 de outubro de 2019 às 09h19.
A Fiat Chrysler e o grupo francês PSA, dono da Peugeot, confirmaram nesta quinta-feira que planejam uma fusão. O negócio, se concretizado, dará origem à quarta maior companhia automotiva do mundo.
Em comunicado, Fiat Chrysler e Peugeot afirmaram que "abriram o caminho" para a criação de um "novo grupo de dimensões e recursos globais". As duas empresas terão partes iguais na nova montadora a ser criada. De acordo com o comunicado, as sinergias entre as duas companhias devem gerar uma economia de 3,7 bilhões de euros. A montadora resultante da fusão terá receita de quase 170 bilhões de euros e lucro de 11 bilhões de euros, com venda 8,7 milhões de veículos por ano.
O novo grupo que será formado terá matriz na Holanda. O presidente, segundo o comunicado, será John Elkann, que atualmente controla a Fiat Chrysler, mas o cargo de executivo-chefe será dado ao presidente do PSA, Carlos Tavares. "A companhia resultante da fusão se beneficiará das margens entre os mais altos mercados onde estará presente, baseada na solidez da Fiat Chrysler na América do Norte e na América Latina e da PSA na Europa", disseram as duas empresas no comunicado.
A negociação já foi autorizada pelos conselhos de administração dos dois grupos. Nas próximas semanas, a expectativa é chegar a um memorando de entendimento vinculante para dar sequência à fusão. "Essa convergência cria um valor significativo para todos os acionistas e abre um futuro brilhante para a companhia resultante da fusão. Estou satisfeito com o trabalho realizado até agora com Mike Manley (executivo-chefe da Fiat Chrysler)", afirmou Tavares na nota.
O novo projeto de fusão ocorre depois de a Fiat Chrysler ter negociado com a Renault. As negociações, porém, fracassaram por falta de apoio do governo da França e da Nissan, acionistas da montadora francesa. O ministro de Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire, disse hoje que vê com bons olhos a fusão entre o Peugeot e Fiat Chrysler. "Essa operação responde à necessidade do setor automobilístico de consolidar-se para enfrentar os desafios de mobilidade do futuro. Permitirá a criação do quarto grupo automobilístico mundial", afirmou o ministro em comunicado. O governo da França, por meio do Banco Público de Investimento (BPI), possui 12% das ações da Peugeot.
Não é de hoje que a Fiat tenta fazer uma nova fusão com outra montadora. A confirmação do acordo com a dona da Peugeot ocorre apenas alguns meses depois da tentativa frustrada de casamento com a Renault. Os episódios, que não foram únicos, reforçam a preocupação que praticamente se instalou como uma cultura na Fiat Chrysler. O objetivo é buscar a sobrevivência em um cenário global de profundas transformações da indústria automobilística.
A obstinação de Sérgio Marchionne, ex-presidente da Fiat, com fusões tinha como premissa um futuro em que somente as montadoras com grandes volumes – acima de 10 milhões de unidades – sobreviveriam em um horizonte de aumento de custos, resultante de novas tecnologias, eletrificação e automação.
Isso sem contar um fenômeno relativamente recente de mudança comportamental do consumidor, que passou a avaliar mais a posse do veículo com a proliferação global dos aplicativos de transporte individual.
“Há muitos anos, o [Sérgio] Marchionne já enxergava que não haveria espaço, no futuro, para tantas montadoras. Com o seu falecimento, esse ‘DNA’ parece que ficou na Fiat”, diz Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo na KPMG do Brasil.
Antes de chegar a um acordo para fusão com a PSA, a FCA chegou a namorar a General Motors, mas recebeu mais de uma negativa. Tentou flertar com a Volkswagen, mas nem foi correspondido. Houve ainda interesse por parte da gigante chinesa Great Wall em uma aquisição da FCA. Nada foi para frente.
No Brasil, o market share da nova empresa ficará em pouco mais de 14%. Por aqui, a Fiat e a Jeep têm ampla participação de mercado, enquanto Citroën e Peugeot são consideradas marcas de nicho.