Favelas do Rio reabrem aos negócios após expulsão de traficantes
Rio de Janeiro - Uma resplandecente árvore de Natal no cume da favela do Alemão no Rio de Janeiro se transformou num poderoso símbolo da recente expulsão de narcotraficantes armados da comunidade. O fato de que a árvore tenha sido financiada por um banco simboliza algo menos que óbvio: que as populosas favelas cariocas estão […]
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2011 às 13h22.
Rio de Janeiro - Uma resplandecente árvore de Natal no cume da favela do Alemão no Rio de Janeiro se transformou num poderoso símbolo da recente expulsão de narcotraficantes armados da comunidade.
O fato de que a árvore tenha sido financiada por um banco simboliza algo menos que óbvio: que as populosas favelas cariocas estão abertas a negócios depois de estarem parcialmente fechadas à economia formal durante anos pela guerra das drogas na cidade.
Passado quase um mês desde que tropas do Exército expulsaram os traficantes do Complexo do Alemão, os bancos, firmas de serviços públicos e empresas de telecomunicações se somaram aos funcionários do governo numa tentativa de preencher o vazio na favela de 100 mil pessoas.
A operação, parte de uma firme campanha para acabar com o caos na favela, aumenta as probabilidades de que o milhão de residentes de bairros pobres no Rio passem a participar muito mais ativamente da economia formal nos próximos anos.
O incentivo para as empresas é contundente: um executivo de uma empresa de telecomunicações brasileira disse que da noite para o dia surgiu uma pequena cidade inteira de potenciais clientes.
Ainda que os símbolos da vida moderna como cartões de crédito, celulares e até televisores sofisticados tenham se tornado comuns nas favelas do Rio, o acesso dos residentes aos serviços e ao emprego vinha sendo prejudicado pela falta de segurança.
O governo quer levar a presença policial a todos os bastiões do crime organizado restantes até 2014, ano em que o Rio abrigará jogos da Copa do Mundo dois anos antes da cidade sediar as Olimpíadas.
"Os benefícios da integração das favelas são enormes, exponenciais", disse André Urani, economista do Instituto de Estudos sobre o Trabalho e a Sociedade no Rio.
Os custos da energia são um exemplo. Urani diz que a companhia elétrica Light perde 200 milhões de dólares por ano por causa do roubo de eletricidade nas favelas do rio, uma das razões porque a eletricidade é mais cara no Rio do que em São Paulo.
A legalização das favelas deveria permitir à Light reduzir suas tarifas e tornar o Rio mais atraente para o investimento de empresas. Contudo, isso depende de uma mudança cultural nas favelas, onde são comuns os serviços baratos e pirateados como a televisão a cabo e telefones.
A árvore de Natal do Alemão foi financiada pelo Santander, um dos vários que está planejando desenvolver-se nas favelas. O Bradesco e a Caixa também planejam operar no Alemão pela primeira vez. A Oi disse que investirá 15 milhões de reais no Alemão para aumentar seus serviços de telefonia, banda larga e televisão.
As obras estão a todo vapor para consertar cabos de telefonia e eletricidade e dando os toques finais a um sistema de teleférico inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"As pessoas estão entendendo que o Estado não é uma coisa distante. Quando pacificarmos as favelas do Rio de Janeiro e de Sao Paulo (...) o Brasil será um país diferente", disse Lula na ocasião.
"Essa fase se trata realmente de ganhar os corações das pessoas", disse o general Fernando Sardenberg, que comanda uma força de paz de 2 mil homens no Alemão composta majoritariamente por tropas que serviram no Haiti, na missão de paz das Nações Unidas.
Um dos temores persistentes é que o governo e a polícia abandonem o Alemão e deixem os residentes à mercê das represálias do crime organizado.
Funcionários estatais dizem que o Estado chegou para ficar. Polícias especializadas já ocuparam cerca de uma dezena de favelas no Rio nos últimos dois anos, melhorando lentamente a reputação policial de brutalidade e corrupção nos bairros pobres.
Urani diz que é fundamental que o governo dê seqüência às medidas de segurança com uma segunda onda de investimentos para assegurar oportunidades de geração de renda para os residentes.
"Esse é só o primeiro passo. No dia seguinte à entrada da polícia nas comunidades, as razões delas terem acabado sob o controle do crime organizado continuam", disse Urani.