Carlos Naupari e Edouard Montmort, fundadores da Velvet: startup quer transformar liquidez em benefício de RH (Velvet/Divulgação)
A startup Velvet nasceu para dar fim a um pesadelo comum a acionistas de longa data de startups em estágio avançado: a falta de liquidez. Não raro, os primeiros investidores de uma empresa — muitas vezes, vale dizer, os primeiros funcionários — precisam aguardar por longos períodos até que a companhia esteja capitalizada a ponto de devolver aos primeiros apoiadores o montante investido. Geralmente, isso acontece apenas após a abertura de capital — o IPO.
Para contrapor essa realidade, a Velvet, fundada em setembro de 2021, se dispõe a comprar as ações de startups proeminentes de países como Brasil, Índia e México e criar um ciclo de liquidez bem mais ágil, com duração de, em média, seis meses.
É um modelo de negócio que saltou aos olhos de fundos com certa relevância, como o GFC, um dos investidores da empresa. Em sua rodada mais recente, em fevereiro deste ano — apenas três meses depois de concluir um seed de R$ 17 milhões —, a Velvet captou US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) com a gestora Yolo, da Estônia, e alguns family offices para pivotar de vez a compra de participações acionárias em pelo menos 40 startups do Brasil, África, Índia e outros países asiáticos em 2022.
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A ideia do negócio é dos empreendedores Edouard Montmort e Carlos Naupari, dois executivos com certa experiência no universo de startups e tecnologia. O pontapé para a criação da Velvet veio após os sócios terem contato com investidores de startups americanas que, sem poder ter acesso ao dinheiro investido, viam as ações como um peso morto na carteira “Vimos que havia uma necessidade não atendida de ex-funcionários em busca de liquidez de stock options”, diz Naupari, um dos fundadores, em entrevista à EXAME.
“Nem mesmo grandes bancos, agentes autônomos ou casas de investimento têm acesso a esse recurso”, diz. "Hoje, os poucos players que conseguem colocar a mão nesse dinheiro são os fundos de ventures capital, mas eles cobram taxas muito altas para que investidores possam ter essa liquidez. Para pessoas comuns, ex-funcionários de empresas, isso acaba ficando fora de alcance”. O piloto da Velvet aconteceu meses depois, com alguns ex-funcionários do Nubank antes do IPO da empresa. E foi um sucesso, segundo o fundador.
Hoje, a Velvet mantém acordos de distribuição com plataforma de investimento, uma no México e uma no Brasil, que passam a ter as participações acionárias como um produto a mais para seus clientes.
Os últimos seis meses serviram para que a Velvet enxergasse um novo gap a preencher. Em conversas com 50 fundadores de startups nos países onde a empresa atua, Montmort e Naupari entenderam que havia espaço para criar uma nova vertical de negócio dedicada a startups que desejam levar essa liquidez não apenas a investidores antigos e ex-colaboradores, mas aos funcionários atuais. “A resposta foi uma só: transformar essas ações em um benefício recorrente de RH seria sensacional”, diz Naupari.
Diante da resposta positiva para a ideia, a Velvet decidiu lançar o 360º Program, um programa que visa dar liquidez para funcionários que possuem stock options e participação acionária, transformando esses papéis em benefícios corporativos com algum ganho financeiro e de periodicidade semestral.
Na prática, o que a Velvet fará com o programa é oferecer uma plataforma white label desenvolvida em parceria com as casas de investimento parceiras, na qual empresas podem vender seus papéis ao time interno, decidindo os funcionários elegíveis, preço das ações, porcentagem disponível para saque e outras regras envolvidas no processo.
A expectativa da empresa, segundo Naupari, é movimentar R$ 1 bilhão com o novo produto nos próximos 12 meses. As primeiras empresas a aderirem ao 360º são a mexicana Credijusto, e o Open, da índia — ambas clientes antigas da Velvet. Além delas, a Lummo, da Indonésia, e o banco digital e unicórnio brasileiro Neon também terão vendas semestrais de ações para a startup com intenção de oferecê-las como benefício corporativo para os funcionários.
Segundo Naupari, a principal oferta de valor no novo produto está em ajudar empresas a atrair e reter talentos em tempos de competição acirrada entre startups. “A ideia é acabar com situações que fazem um colaborador questionar, por exemplo, por que ele ainda mora de aluguel, se ele tem ações em uma startup bem-sucedida e com receitas no teto. Ele passa a se sentir valorizado e em uma empresa que também dá retorno aos seus esforços”, diz.
Nesse cenário, oferecer uma vantagem a mais para que funcionários se sintam valorizados em um ambiente competitivo e cada vez mais sedento por talentos é essencial. Destravar esse patrimônio é, portanto, um mecanismo para manter os funcionários e impedir que especialistas e talentos valiosos peçam as contas de olho nas startups ao lado.
“O mercado muda, e os benefícios têm que mudar também. Há alguns anos, pensar em saúde era inimaginável. Hoje, é indispensável. Por isso digo que é hora de reavaliar o que é oferecido como benefício aos funcionários e o valor adicionado a essas ofertas”.