Essa startup quer fazer R$ 25 milhões com comida para pets que até você pode comer
Empresa aposta num mercado conhecido como "human grade", em que alimentos são produzidos seguindo os mesmos padrões de segurança exigidos ao consumo humano
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de junho de 2024 às 14h30.
Última atualização em 17 de junho de 2024 às 17h30.
Sabe quando você dá o restinho da sua comida para seu animal de estimação? A startup A Quinta, de São Paulo, elevou isso à enésima potência e fez disso um negócio.
A empresa, fundada em 2020, criou um produto de alimentação para pets feito apenas de comidas que humanos também comem. Tem arroz, carne, cenoura.
É um novo mercado que surge no Brasil e que já tem uma certa representatividade nos Estados Unidos, chamado Human Grade. Nele, os alimentos são produzidos seguindo os mesmos padrões de segurança e qualidade exigidos para alimentos destinados ao consumo humano. Por exemplo, são adquiridos de fornecedores que atendem aos regulamentos de segurança alimentar para humanos e a produção deve ocorrer em instalações registradas e aprovadas para a fabricação de alimentos para humanos.
No caso da startup brasileira, os produtos naturais destinados aos pets têm um slogan que representa bem a ideia do conceito: “Tão natural que até você pode comer”.
Com o negócio, já faturaram 2,2 milhões de reais em 2023, miram chegar até 10 milhões de reais em 2024 e bater 25 milhões de reais em faturamento no ano que vem.
Como o A Quinta nasceu
O negócio pet começou a nascer numa visita que o empreendedor Tiago Tresca fez ao seu irmão Diego em São Paulo em 2019. Na época, percebeu o quanto o mercado para animais de estimação estava aquecido e decidiu investir nele.
Antes disso, Tiago morava em Portugal. Nascido no Brasil, se mudou para o país lusitano aos quatro anos de idade. Por lá, chegou a iniciar os estudos em arquitetura, mas viu que seu negócio, mesmo, era empreender. E com tecnologia. Por isso, montou uma desenvolvedora de softwares.Em 2017, lançou um outro negócio: uma rede de restaurantes de produtos naturais. Um fast-food saudável, que em dois anos cresceu para 10 lojas.
Foi nessa aproximação com alimentação, mas ainda com uma pegada em tecnologia, que Tiago chegou ao Brasil em 2019 para visitar o irmão.
“Conversamos sobre o mercado pet e eu me apaixonei. Decidi ficar no Brasil e empreender aqui”, diz.
Nos estudos, analisou mercados fora do Brasil. Nos Estados Unidos, encontrou a Human Grade, uma tendência de alimentar os pets com comida que poderia ser consumida também por humanos.“Começamos a fazer esse estudo e o que achei mais gostoso foi o segmento ‘comida de verdade’. Você vê o arroz, a carne. É a humanização levada ao extremo”.
Os meses seguintes foram de estudos de mercado para entender se havia público por aqui. Em 2020, nascia A Quinta. O nome é uma referência a como fazendas são chamadas em Portugal.
A operação começou com a captação numa rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em 2,5 milhões de reais, e possibilitou o lançamento ao mercado em 2021.
No ano seguinte, porém, veio o “inverno das startups”, com retração nos investimentos de venture capital no Brasil e no mundo. Não foi diferente para a Quinta. A startup tentou captar numa rodada seed, mas não conseguiu.
“Mas considerando o aquecimento do mercado de pet food no Brasil, o caminho era seguir ou seguir, e bancar o negócio”, diz Tiago.
A Quinta oficialmente entrou no mercado com investimento próprio, e cresceu assim.
A sacada para serem percebidos no mercado foi resolver um problema: a logística.
“Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato congelado dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está pronto, para esse modelo devido à sua ineficiência logística”, diz. “Petshops não querem receber esse produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali, estava nossa oportunidade”.
Qual foi a solução? Criar um produto que não precisa ser guardado e vendido no congelador.
Qual é a estratégia de crescimento
Sem a necessidade de bancar congeladores, a Quinta começou a chegar aos pet shops em 2021. Inicialmente, em 50 pontos, todos na região de São Paulo. Ao mesmo tempo, lançaram um plano de assinatura que totalizou 140 clientes em 2022.
O crescimento mais acelerado, porém, veio ano passado, com a chegada, como board of advisor, de Michel Mellis, ex-diretor de Transformação Global da Unilever.
Ele entrou no negócio com aporte numa avaliação de 10 milhões de reais, o que possibilitou a aceleração das assinaturas. Hoje, são 680 assinantes, com previsão de chegar aos 1.500 até o final do ano. Já os pontos de vendas, somam atuais 500.
“Todo mês somos lucrativos. Em menos de dois anos de operação, crescemos dois dígitos ao mês, com taxa de retenção acima de 90%. Isso indica que acertamos no produto”, diz Tiago. “Hoje, não estamos necessariamente procurando abrir capital, a não ser que surja uma oportunidade de investimento relevante”.
Mirando no público AB, com assinatura mensal a partir de 95 reais, ticket médio de 450 reais, e o pacote de 300g vendido avulso a 24,50 reais, a linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dietas voltadas para cães adultos e idosos.
Três delas são dietas de manutenção, como risoto suíno com abóbora, e picadinho de frango.Já as outras, dietas dirigidas para necessidades especiais, a exemplo de cães com restrições alimentares ou portadores de doenças.
Os ingredientes vêm principalmente de pequenos produtores que vivem no entorno da fábrica, que funciona no interior de São Paulo.
A meta faz parte do plano robusto que será colocado em prática a partir do segundo semestre para alcançar os 25 milhões de reais de faturamento em 2025.
Isso inclui uma participação mais agressiva no mercado, com o crescimento de portfólio e a expansão para outros estados fora de São Paulo, o que acontece até então organicamente.
Mas a dúvida é: humano pode, realmente, comer?
“Até pode, porque é tudo que um humano pode comer, mas pode ser que não seja gostoso”, brinca o empresário. “Mas já teve algumas situações, como um cara que pegou o pacote, esquentou, colocou sal e foi comendo”.