Gustavo Piccinini, Leonardo Zamboni, Guilherme Enck e Paulo Deitos Filho, sócios da Captable: em dois anos, plataforma já alcançou R$ 1,1 bilhão em valor de portfólio (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de novembro de 2023 às 11h42.
Última atualização em 27 de novembro de 2023 às 12h06.
Acessar uma plataforma na internet e, rapidamente, investir numa startup. Esse é, no fim do dia, o negócio da Captable, uma plataforma de equity crowdfunding criada em Porto Alegre em julho de 2019. A empresa permite que investidores pessoas físicas e jurídicas aportem capital em negócios de inovação por participação societária.
Agora, quatro anos depois de sua fundação, a empresa está comemorando os primeiros R$ 100 milhões em captações para startups. Já foram 60 negócios impulsionados com aportes de 7,5 mil investidores.
Na maioria das captações, o aporte mínimo é de R$ 1 mil. Em algumas rodadas, já houve quem colocasse R$ 1 milhão nas startups. A maior rodada de captação ocorreu com a agritech gaúcha CowMed em que R$ 5,9 milhões foram aportados por 500 investidores.
Veja outras rodadas:
A meta da empresa, porém, é bem mais ousada. O desejo da companhia é alcançar a captação de R$ 1 bilhão para startups nos próximos anos.
Cofundador e CEO da Captable, Paulo Deitos, já trabalhava no mundo do crowdfunding, numa plataforma imobiliária que permitia a investidores pessoas físicas investirem em projetos da construção civil.
Foi lá que pegou as primeiras experiências na área. “Estou há dez anos no crowdfunding, sou pioneiro nisso no Brasil”, diz. “E ajudei lá atrás a constituir duas associações da área e a CVM a criar a regulação, a edição, a evolução dessa regulação”.
Em 2018, Deitos saiu da plataforma imobiliária, mas continuou com vontade de trabalhar com crowdfunding. Foi quando se juntou a Guilherme Enck, seu sócio no projeto, para desenvolver a Captable.
“A nossa ferramenta permite que negócios de volumes menores consigam trabalhar com fundos e viabilizar projetos que antes não seriam viáveis, a não ser com financiamento bancário”.
Há etapas para acontecer uma captação via crowdfunding pela Captable. A primeira, claro, é a seleção das startups que poderão participar das rodadas. Essa fase é feita por um time interno da empresa e analisa números, informações de mercado e concorrência.
As startups preenchem um formulário, que já automatiza alguns critérios e classifica as empresas, descartando as que não estão ainda na fase para serem avaliadas. Depois, acontece uma etapa com uma série de entrevistas para validar aqueles dados que foram disponibilizados no formulário. “Tem que validar se aquilo que o cara está dizendo que faz, realmente é daquela maneira”.
Depois, as startups ainda passam por comitês internos até terem a rodada anunciada e aberta para o público.
Em quanto tempo isso acontece? A Captable já fez análise completa em pouco mais de dez dias, quando o empreendedor estava com tudo pronto, e também já levou mais de um mês, quando precisava de mais informações e detalhes para validar se a startup poderia participar de uma rodada.
Com a rodada aberta, os investidores fazem o aporte pela internet mesmo, ganhando equity pelo capital aportado. Há algumas rodadas em que a meta total de investimento fecha rapidamente, em menos de cinco horas.
A Captable também tem uma plataforma de investimentos a operar no mercado subsequente — uma espécie de “mercado secundário” com características próprias — com o lançamento do Captable Marketplace. Através do recurso, é possível vender títulos e comprar participação em uma startup de outro investidor, caso tenha investido nos últimos 24 meses.
É algo semelhante a BEE4, uma espécie de bolsa de valores específica para pequenas e médias companhias. São as empresas que estão em um estágio anterior ao de uma oferta pública de ações (IPO) na B3, mas com planos de crescimento.
Desde que nasceu, a Captable já alcançou R$ 1,1 bilhão em valor de portfólio, um cálculo que leva em conta o valuation atual de cada uma das startups que passaram pela empresa.
Na visão de Deitos, porém, estão apenas no início da trajetória. “Temos espaços gigantescos para crescer ainda”, diz. “O crowdfunding agora está consolidado, com a CVM dando destaque. Com isso, mais players começam a olhar e entender que é uma solução que eles também podem participar e usar”.
Para o empresário, existem sinalizações de que a CWM vai ampliar ainda mais os limites de crowdfunding nos próximos anos. “Digo que a gente não está mais engatinhando, mas estamos dando os primeiros passos”.
Nos desafios futuros, há a necessidade de trazer confiança para uma base de investidores que ainda desconfiam de fazer aportes pela internet.
“Vamos mostrar que é um ambiente que entrega soluções e ferramentas reguladas para que essas transações sejam mais seguras, mais rápidas, mais padronizadas, que o processo ganhe velocidade e que isso seja bom para o investidor e para o empreendedor”, afirma.