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Empresas de grãos miram entrada no setor de etanol de milho do Brasil

Impacto nos mercados de commodities pode ser abrangente, já que as novas usinas deverão disputar com etanol dos EUA o mercado do Norte e Nordeste brasileiro

Usina de etanol da Raízen: o grupo de açúcar e etanol faturou 23,3 bilhões de dólares em 2018  (Germano Lüders/Exame)

Usina de etanol da Raízen: o grupo de açúcar e etanol faturou 23,3 bilhões de dólares em 2018 (Germano Lüders/Exame)

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Reuters

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 09h35.

Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às 09h39.

Cuiabá — A comercializadora chinesa de commodities Cofco, o grupo brasileiro de grãos AMaggi e a Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, avaliam construir plantas de etanol de milho no Brasil, disseram à Reuters quatro pessoas familiarizadas ao assunto.

O interesse de algumas das maiores empresas de energia e grãos do mundo reforça o bom momento do etanol de milho no Brasil, o segundo maior produtor global do biocombustível, onde a cana-de-açúcar tem sido virtualmente a única fonte de etanol por décadas.

O impacto nos mercados de commodities pode ser abrangente, já que as novas usinas deverão disputar com o etanol dos Estados Unidos o mercado do Norte e Nordeste brasileiro. Além disso, as exportações de milho pelo Brasil, que quadruplicaram nos últimos anos, podem ser afetadas pela maior demanda local pelo cereal.

Poucos previam a onda de investimentos no setor há dois anos, quando foi lançado o primeiro grande projeto de etanol de milho em Mato Grosso, mas a aparente lucratividade do negócio, em uma região com ampla oferta de milho a custos razoáveis, desencadeou uma onda de seguidores.

O país já possui oito fábricas que convertem o grão no biocombustível, além de outras seis em construção e pelo menos sete em fase de design. Em base de comparação, o Brasil conta com 349 plantas que produzem etanol a partir da cana-de-açúcar, segundo o Ministério da Agricultura.

Embora algumas operações tradicionais com base em cana tenham respondido à tendência com ceticismo, várias adotaram os chamados projetos flex, utilizando tanto milho quanto cana como matéria-prima, a depender da época do ano, o que oferece benefícios financeiros e ambientais.

As novas usinas de etanol também visam um uso mais lucrativo da crescente produção de milho do Brasil, que aumentou conforme os agricultores aprenderam a gerar uma safra de soja e outra de milho dos mesmos campos em um único ano, com a ajuda do clima tropical.

Na semana passada, os preços do etanol atingiram um recorde nominal nas usinas de São Paulo, superando os 2 reais por litro pela primeira vez na história (posto usina, antes de impostos), enquanto um novo programa federal de estímulo ao consumo de biocombustíveis --o RenovaBio-- entra em vigor no final deste mês.

Novidades em breve

Um engenheiro que trabalha para a Cofco em uma grande fábrica de etanol de milho em Zhaodong, na China, com capacidade produtiva de 1,2 bilhão de litros por ano, disse que a comercializadora de commodities, que opera quatro instalações de açúcar e de etanol de cana no Brasil, está analisando o cenário do etanol de milho em Mato Grosso.

"Conversamos sobre a possibilidade de fazer um projeto semelhante no Brasil, eles estão avaliando", afirmou, pedindo anonimato, já que as discussões são privadas.

Outra fonte, um fornecedor da Cofco no Brasil, disse que a diretoria da gigante chinesa busca construir uma fábrica de etanol de milho perto da processadora de soja da empresa em Rondonópolis (MT).

A instalação da Cofco tem acesso a ferrovia, que poderia ser usada no futuro para levar o combustível ao Sudeste, maior mercado consumidor do Brasil.

"Infelizmente ainda não podemos comentar nenhuma iniciativa", disse um porta-voz da Cofco quando questionado sobre os planos.

A Raízen também estabeleceu conversas com fornecedores de equipamentos para avaliar um investimento, de acordo com uma das fontes.

"Nós nos encontramos com eles quatro vezes, nos arredores de São Paulo, mas eles ainda não se decidiram", disse Peter McGenity, diretor de vendas da construtora de plantas de etanol norte-americana Lucas E3, sediada em Kansas.

Inicialmente, a Raízen negou possuir planos para a produção de etanol de milho no Brasil. Quando questionada sobre as reuniões com os fornecedores, no entanto, um representante da Raízen disse que a empresa "está alinhada às tendências do mercado para investimentos em energia renovável que atendam às necessidades ambientais de longo prazo".

Uma quarta fonte, que trabalha para uma empresa europeia que oferece serviços de engenharia para unidades de processamento de grãos, disse que a AMaggi também está trabalhando em um projeto de etanol de milho.

A AMaggi, maior trader brasileira de grãos, que possui três plantas de processamento de soja e se uniu à Bunge para transportar soja e milho pelo rio Amazonas e seus afluentes, disse que não pode comentar no momento sobre um possível projeto em etanol de milho.

Um porta-voz disse que a AMaggi fará "em breve" um anúncio sobre seus planos para biocombustíveis.

Ricardo Tomczyk, ex-presidente executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), assumiu um cargo executivo na AMaggi há um mês.

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