Empresas que venceram na crise apostam alto no fator humano
Presidentes de WEG, RaiaDrogasil, MRV e Whirlpool compartilharam conselhos e análises sobre o que deu certo durante a crise econômica no Brasil
Guilherme Dearo
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 12h39.
Última atualização em 8 de agosto de 2017 às 12h49.
São Paulo - O foco no fator humano, ou o "fator gente", foi o principal ponto em comum citado por quatro grandes empresários brasileiros, à frente de empresas que conseguiram vencer mesmo diante do crítico cenário da economia nos últimos dois anos.
Na manhã dessa terça-feira (8), durante o Encontro Exame CEO, em São Paulo, falaram para um público de empresários e representantes do governo Rubens Menin, fundador da MRV Engenharia; João Carlos Brega, da Whirlpool; Marcilio Pousada, da RaiaDrogasil; e Harry Schmelzer Jr., da WEG.
As quatro empresas saíram vencedoras do Prêmio Melhores & Maiores 2017 da Revista Exame, que reconheceu as companhias que mais se destacaram em 2016.
Além do foco nos funcionários, os executivos citaram projetos de longo prazo e reestruturações necessárias diante do péssimo momento econômico como pontos-chave para a vitória atual.
RaiaDrogasil
Campeã na categoria Varejo e eleita a Empresa do Ano no prêmio Melhores & Maiores, a RaiaDrogasil , de 2013 a 2016, viu sua receita crescer 36% em dólares e 83% em reais – o faturamento foi de 3,4 bilhões de dólares. As ações subiram mais de 300% no período.
Marcilio Pousada, presidente da companhia (que virou oficialmente RD na fusão de DrogaRaia e Drogasil em 2011), citou a crença da empresa "Gente que cuida de gente" como um fator essencial que explica o sucesso dos últimos anos.
A RaiaDrogasil é hoje a sexta maior varejista do País, com vendas superiores às das Lojas Americanas e Magazine Luiza.
Atualmente, conta com 1500 lojas em nove estados brasileiros.
"Temos 30 mil funcionários. Confiamos em cada um deles. Temos confiança no time, em todos os gerentes espalhados pelo Brasil", disse Pousada.
Ele garante que é essencial gostar de gente para poder trabalhar na sua empresa. Em tom bem humorado, explicou: "Não gosta de gente? Tudo bem, fala comigo que te faço uma carta de recomendação e você vai trabalhar na Drogaria São Paulo".
A companhia, segundo ele, tem preocupação especial em atrair, desenvolver e reter pessoas. "Em três anos, formamos um gerente do zero. Tenho certeza que ajudamos a formar cidadãos melhores".
Pousada também destacou a importância da personalização dos serviços. A companhia tem se aprofundado na análise de dados para entender a diferença entre as lojas de bairros mais periféricos e as lojas de bairros de classe A. Assim, há diferenciação e adequação de estratégias e ofertas de produtos.
Whirlpool
A Whirlpool , maior fabricante mundial de eletrodomésticos, teve seu presidente no Brasil, João Carlos Brega, eleito pela revista Forbes Brasil um dos melhores CEOs do País no último ano.
No Prêmio Melhores & Maiores, a companhia foi campeã na categoria de Eletroeletrônicos.
Brega destacou a importância do consumidor nos negócios da empresa: "Inovação para nós é aquilo que é simples aos olhos do consumidor".
O empresário também deixou claro que o negócio da empresa não é vender eletrodomésticos. "A Whirlpool não faz geladeira. A gente ajuda o consumidor a conservar a comida dele. A gente não faz máquina de lavar roupa. Ajudamos o consumidor a cuidar das roupas dele. A gente cria demanda. Esse é nosso papel", explicou.
Na crise, a Whirlpool teve queda de 1% nas vendas no ano passado, mas conseguiu elevar o lucro em 16%.
João Carlos Brega reconheceu que o péssimo momento econômico afetou a todos e as vendas demorarão a ser as mesmas de anos anteriores.
Sobre a economia brasileira, analisou: "Antes a gente participava de uma pizza tamanho família. Agora é uma pizza brotinho. Mas agora sabemos que chegamos até o chão, caímos o que tinha para cair. Agora vai demorar para melhorar, mas pelo menos sabemos que não vai piorar".
MRV
A construtora MRV , campeã no Prêmio Melhores & Maiores 2017 na categoria Indústria da Construção, apresentou excelentes resultados mesmo em um setor extremamente abalado pela retração econômica.
A construtora mineira faturou 736 milhões de dólares em 2016, além ter aumentado o lucro em 40%, para 112 milhões de dólares
Fundador da MRV e presidente do conselho da empresa, o empresário Rubens Menin também destacou a importância dos funcionários e do time alinhado com seus valores fundamentais.
"Temos, desde 1996, um projeto dentro da empresa chamado Projeto G. G de gente. Algo está errado se você investe na formação de um funcionário e depois perde ele para a concorrência. No Projeto G investimos em capacitação e garantimos que eles não vão sair, que estão satisfeitos ali dentro. Funcionários alinhados com nossos valores. É o que chamamos de 'ter o sangue verde' [referência à cor do logo da marca MRV]", disse Menin.
Menin destacou os investimentos em processos e tecnologias para aumentar a eficiência da construtora, fator fundamental para o crescimento dos últimos anos.
"Anos atrás precisávamos de doze homens para construir um apartamento. Agora precisamos de três", diz. Aumentando o número de funcionários ao longo dos anos, a lógica diz que o número de apartamentos construídos só cresceu, em ritmo exponencial.
Outro número impressionante da eficiência da MRV: a empresa consegue levantar um prédio de cinco andares em dez dias.
"Crescemos de forma sustentável desde 2005. Soubemos aproveitar o mercado interno. É o nome do jogo.", completou Menin.
WEG
Campeã do Prêmio Melhores & Maiores 2017 na categoria Bens de Capital, a catarinense WEG é, hoje, uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo - atuando também em áreas como automação de processos industriais, geração e distribuição de energia e tintas e vernizes industriais.
Em 2017, teve lucro líquido de 272,2 milhões de reais no segundo trimestre. Recentemente, anunciou a aquisição da CG Power USA nos Estados Unidos e também seus planos de entrar no mercado de energia eólica indiano.
Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG, falou sobre a crise: "Como toda empresa nesse momento, a WEG precisou fazer ajustes. Também passamos por redução de estrutura. Fez parte".
Apesar do solavanco, a empresa vale 31,5 bilhões de reais no mercado e tem reconhecimento internacional.
Segundo Schmelzer Jr., a internacionalização tem sido um dos principais focos, ao lado do investimento em novas tecnologias.
"Temos presença internacional em doze países [Argentina, Colômbia, EUA, Portugal, Áustria, Alemanha, China, Índia, entre outros]. Em México e EUA, WEG tem três mil pessoas trabalhando. Na China, duas mil.
O empresário explicou que o futuro da empresa passará em parte pela estratégia de marcar maior presença no setor de energia renovável e no setor de armazenamento de energia.