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Empresas brasileiras agora contam com uma "pegada de peso"

Novo certificado emitido pela ABNT mede a pegada de carbono e de água dos produtos, garantindo vantagens competitivas para indústrias no mercado internacional


	Pegada: certificado permite comparar as vantagens ambientais de produtos brasileiros aos de competidores internacionais.
 (Thinckstock)

Pegada: certificado permite comparar as vantagens ambientais de produtos brasileiros aos de competidores internacionais. (Thinckstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 11 de abril de 2016 às 09h44.

São Paulo - Seja para reduzir seus impactos no meio ambiente, aumentar a competitividade no cenário internacional, ou ainda por pressões do próprio mercado consumidor, cada vez mais empresas buscam certificações que atestem a sustentabilidade de suas operações e produtos. A partir desta quarta-feira (06), as indústrias brasileiras contam com um nova certificação para comunicar seus esforços, emitida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

O certificado medirá a pegada de carbono e de água das indústrias, ou seja, quanto dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE) associados foram lançados na atmosfera para produzir um determinado produto ou matéria-prima, e o volume de água usado no processo.

Ao mensurar esses pontos, será possível registrar a "pegada de carbono"  e de água deixada ao longo da produção de itens como aço, alumínio, cimento e vidro e, a partir daí, identificar oportunidades para otimizar os processos e reduzir impactos. 

O sistema, que será operado pela ABNT Certificadora, foi criado por meio de um processo participativo que envolveu a indústria brasileira e guiado pelo Carbon Trust, consultoria global de estímulo à economia de baixo carbono

A concepção e desenvolvimento do sistema contou com o apoio institucional do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e com financiamento do Prosperity Fund, da Embaixada Britânica em Brasília.

Vantagens competitivas 

A certificação envolve 20 empresas, que aderiram ao projeto voluntariamente, dentre estas estão grandes empresas como Braskem, CSN, Saint-Gobain, Arcelor Mittal, Votorantim, Novelis e Grupo ReciclaBR, ao lado de pequenas empresas como BR Goods e EDB Polióis Vegetais do Brasil.

Receber a certificação é como ganhar um “visto” de acesso a mercados mais exigentes, competindo lado a lado com outros países que já possuem sistemas análogos de medição e certificação, como China, Coréia do Sul, Hong Kong, México, Malásia, Reino Unido, Taiwan e Tailândia.

“Na prática, esse sistema irá estimular as empresas a reduzirem suas emissões, pois elas poderão comparar seus números aos de companhias em outros países ao redor do mundo”, diz a EXAME.com João Lampreia, gerente Geral do Carbon Trust no Brasil, ressaltando que não se trata de uma competição entre selos. 

"Eles não competem entre si, simplesmente atestam a pegada de produtos feitos em diferentes países e, para isso, é importante que as metodologias de medição de pegada sejam iguais e comparáveis. Existe, sim, a competição nos mercados para cada tipo de produto, o alumínio brasileiro, por exemplo, compete com o alumínio chinês em diversos países. O que o selo oferece é um diferencial competitivo a mais para as empresas poderem ressaltar na hora que estiverem tentando fechar contratos de venda”, diz

Ele sublinha que cabe a cada companhia avaliar se seus clientes em potencial vão ou não valorizar a pegada dos produtos na hora das decisões de compra. “Grandes empresas no mundo, compradores do alumínio brasileiro, como a Coca-cola, assim como governos, inclusive o brasileiro, têm políticas de compras 'verdes' e priorizam produtos com baixa pegada na hora de decidirem de que fornecedores vão comprar”, destaca.

Guy Ladvocat, gerente de Certificação de Sistemas na ABNT, lembra que o fato da matriz energética do Brasil ser mais limpa do que na Europa, por exemplo, já representa uma vantagem para a participação das empresas brasileiras em mercados internacionais, mas garante que isso não será motivo de acomodação.

“O que esperamos é que esta vantagem se materializando de fato será um grande incentivo para a redução das emissões, inclusive pelo fato de que os mercados de países mais conscientes em relação à questão ambiental vêm se tornando cada vez mais exigentes. A questão da proteção do meio ambiente só faz realmente sentido quando se busca um processo contínuo de redução dos impactos gerados pela extração de matérias primas, pelos processos produtivos, pelo uso e descarte dos produtos, ou seja, ao longo do ciclo de vida dos produtos”, explica a EXAME.com.

Para corresponder a essa expectativa, o certificado estará sujeito a revisões para se tornar ainda mais exigente ao longo do tempo. “Este tipo de programa de certificação não é estático. Hoje temos um nível de exigência específico, viável, e ao longo do tempo este nível de exigência será aumentado. Esta forma de atuação proporciona um incentivo para as empresas melhorarem seus processos e, ao mesmo tempo, proporciona também uma contínua redução dos impactos causados no meio ambiente”, pontua Ladvocat.

Mensurar para gerenciar

Foi buscando aperfeiçoar processos para reduzir suas "pegadas", que a Novellis, empresa do grupo Novelis Inc., líder global em laminados e reciclagem de latas de alumínio, aderiu ao novo programa de certificação da ABNT. A empresa tem se empenhado em um esforço global para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa desde 2011, quando foram definidas metas específicas.

“Nesse contexto, a certificação se apresenta como uma importante oportunidade de revisitar processos e, ao mesmo tempo, é um reconhecimento de que nossa estratégia está alinhada com práticas sustentáveis e que estamos trilhando o caminho certo”, afirma a EXAME.com Rogério Almeida, vice-presidente de Operações da Novelis América do Sul.

Ele acrescenta que a certificação também possibilita à Novelis agregar mais uma vantagem competitiva para a empresa e reitera seu comprometimento em alcançar a meta global de 50% de redução de emissões absolutas de gases de efeito estufa até 2020.

E que mais empresas brasileiras ambicionem voar alto assim — o caminho já está dado e o primeiro passo é calcular bem a pegada. 

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