Walter Ghislandi, um dos fundadores da rede de supermercados Bistek: "O que oferecemos é um supermercado que entrega qualidade e frescor. A comida que vendemos não é só mais um produto, é uma experiência para quem está comprando" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 14h09.
Última atualização em 4 de dezembro de 2024 às 15h24.
O varejo de alimentos passou por uma revolução nas últimas décadas no Brasil por causa dos atacarejos.
Ao apostar em lojas sem os mimos típicos de um supermercado, além de preços (e margens) baixos, redes como Atacadão e Assaí ganharam presença nacional.
Além disso, varejistas regionais também entraram de cabeça na tendência, vide exemplos como Grupo Mateus, no Nordeste, e Fort Atacadista, com operações no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Não à toa, os atacarejos cresceram rápido no Brasil. Em 2023, as empresas que apostaram neste modelo cresceram o faturamento em 7,8%; os supermercados tradicionais, 6,5%.
Hoje, 25% das vendas de alimentos no país já são feitas em atacarejos, de acordo com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores.
Em meio a tudo isso, a rede catarinense de supermercados Bistek é a prova de que para toda regra há uma exceção.
Em 2024, a rede com 25 lojas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina deve ter vendas de 2,5 bilhões de reais, alta de 27% em 12 meses.
Atualmente, o Bistek ocupa a sétima posição entre as principais supermercadistas com operação em Santa Catarina.
No ano que vem, a meta é chegar a 3 bilhões de reais, graças, sobretudo, à abertura de lojas.
Em novembro, a companhia inaugurou uma loja na parte continental de Florianópolis e quer ampliar a presença no Rio Grande do Sul nos próximos meses.
O que aprender com a história desta varejista que recusou a entrada na onda do atacarejo e mantém seu foco em ser um ‘supermercado raiz’?
A estratégia deles? Atender a quem busca qualidade, frescor e atendimento próximo, sem abrir mão de uma boa oferta de alimentos.
“A gente viu o que estava acontecendo no mercado, mas nossa aposta foi em um modelo que funciona bem para quem precisa de frescor, qualidade e conveniência", explica Walter Ghislandi, um dos cinco irmãos fundadores do Bistek.
“Nosso foco sempre foi oferecer produtos de qualidade, como carnes frescas, frutas e verduras bem selecionadas, e até mesmo uma boa adega para quem quer levar um bom vinho. Não precisamos abrir um atacarejo para crescer", diz ele.
Fundado em 1979 em Nova Veneza, no sul de Santa Catarina, o Bistek Supermercados nasceu da visão da família Ghislandi.
A primeira loja da Bistek foi aberta em 1979 e, desde então, a empresa tem crescido com passos firmes.
Em 1985, a rede expandiu para a vizinha Cocal do Sul, e, mais tarde, para cidades catarinenses de maior porte como Joinville, Florianópolis, São José, Blumenau, Criciúma, e Lages.
Nos primeiros anos, a rede ficou conhecida pelos preços baixos. Todo dia da semana havia ofertas numa seção específica, como hortifrútis, numa repetição de estratégias adotadas por outros supermercados.
A percepção do consumidor, no entanto, era de uma experiência dentro das lojas mais simples do que a oferecida por concorrentes locais (alguns inclusive muito maiores), como Angeloni e Giassi.
De lá para cá, muita coisa mudou no varejo de alimentos em Santa Catarina. Na esteira da revolução dos atacarejos no Brasil, sobretudo nas décadas de 2000 e 2010, as principais varejistas de alimentos do estado embarcaram na tendência.
Vide exemplos como o Grupo Pereira, dono do Fort Atacadista, o maior do estado em vendas, com faturamento total de 13 bilhões de reais e metade das mais de 80 lojas situadas no estado. O embrião do grupo está no supermercado Comper, com atuação no Sul e no Centro-Oeste.
Novos players como o Koch cresceram rapidamente nos últimos anos em função do atacarejo. Hoje, boa parte dos 8 bilhões de reais em vendas da rede vêm do atacarejo Komprão.
Mais recentemente entraram no segmento os concorrentes Giassi, que estreou em 2018 com a marca Combo, e o Angeloni, que adotou cinco anos mais tarde o atacarejo sob a bandeira Super A.
Em meio a tudo isso, o Bistek investiu na melhoria da experiência dentro de suas próprias lojas. Ou seja, apostou na premiunização do serviço ao mesmo tempo em que os concorrentes iam na direção oposta para brigar pelo menor preço.
"As pessoas hoje não querem fazer aquele 'rancho' mensal como antigamente", diz Walter. "Elas preferem ir ao mercado várias vezes durante o mês, comprando apenas o que precisam, e para isso o frescor dos alimentos é essencial."
O Bistek se adaptou a essa mudança de comportamento. No lugar de lotar as prateleiras com grandes volumes de produtos de baixo custo, a rede investe em setores específicos como açougue, hortifrúti, adegas e até uma floricultura — a empresa é uma das maiores fornecedoras de plantas e flores frescas no estado.
"Nosso açougue, por exemplo, trabalha com carnes frescas e de qualidade, graças ao nosso frigorífico próprio. O mesmo acontece com as frutas, legumes e verduras, que são repostos quase todos os dias para garantir frescor", afirma Wagner Ghislandi, diretor da rede e sobrinho de Walter.
Além disso, o Bistek investe pesado em seu clube de fidelidade, por meio de um aplicativo com promoções que vão desde a troca de selinhos por artigos domésticos, como panelas, até descontos especiais em itens de grande rotatividade, como carnes e laticínios, e ofertas específicas para aquele canal.
"O nosso programa de fidelidade tem sido uma das nossas maiores ferramentas para fortalecer o relacionamento com os clientes e manter a loja sempre cheia", diz Wagner.
"O que oferecemos é um supermercado que entrega qualidade e frescor. A comida que vendemos não é só mais um produto, é uma experiência para quem está comprando", afirma Walter.
Em 2024, o Bistek abriu uma loja no bairro do Abraão, na parte continental de Florianópolis, além de ampliar a presença no Rio Grande do Sul.
No ano que vem, a empresa quer ampliar a presença física na capital catarinense — o Norte da Ilha, uma das regiões de maior crescimento na cidade, está no radar — e cidades relevantes do Rio Grande do Sul como Tramandaí, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Canoas.
A meta é continuar expandindo de forma estratégica. “Queremos abrir lojas em locais estratégicos, onde possamos oferecer um bom atendimento e uma experiência de compra focada no cliente", diz Walter.