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Ele vai fazer R$ 100 milhões com 'império de dados' vindos do wi-fi que você acessa de graça por aí

Plataforma capta dados ao oferecer wi-fi gratuito em espaços como aeroportos, e usa essas informações para tornar empresas mais competitivas

Rafael de Albuquerque, da Zoox: “Antes precisava pagar para usar a internet, agora você paga com o dado” (Zoox/Divulgação)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 08h03.

Última atualização em 20 de agosto de 2024 às 11h48.

Num primeiro momento, chega a ser surpreendente. Em poucos segundos, o carioca Rafael de Albuquerque consegue, por meio de sua plataforma, puxar muitos dados sobre qualquer pessoa. Basta digitar o nome e descobrir o telefone, a faixa de renda, o e-mail, onde trabalha, com quem e o que curte nas redes sociais, entre muitas outras informações.

São dados públicos ou que, em algum momento, foram compartilhados com o consentimento de todos nós —sabe aquele botão que aceita as políticas de privacidade que, muitas vezes, clicamos sem ler? Então.

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Albuquerque faz isso por meio da Zoox, sua plataforma de dados que vai fechar 2024 faturando 100 milhões de reais e com mais de 1.100 clientes pelo Brasil.

Além de usar bancos públicos, a plataforma consegue captar dados ao oferecer wi-fi gratuito em espaços como aeroportos, shoppings centers e lojas.

Esse, na verdade, foi o primeiro negócio da Zoox: oferecer gestão de wi-fi gratuito para empresas.

Hoje, quando você se conecta na internet do aeroporto —e a Zoox domina esse mercado, presente em praticamente todos os grandes aeroportos do Brasil—, você permite que a empresa e a plataforma saibam informações sobre você, como seu e-mail, CPF, telefone e até, às vezes, redes sociais.

No dia em que conversou com a EXAME, Albuquerque acessou, em tempo real, a conexão de um aeroporto no sudeste do país. Ali, dava para ver quantas pessoas estavam conectadas ao mesmo tempo (cerca de 500) e vários dados sobre ela.

“Além de aeroportos, utilizamos essa mesma tecnologia em praticamente todos os shoppings centers do Brasil, e é ótimo porque você consegue colocar publicidade para fazer login e usar os dados para traçar estratégias de marketing”, diz Albuquerque.

Por causa de tudo isso, Albuquerque considera seu negócio um “Booking.com dos dados”. Assim como a Booking, que tem uma biblioteca com vários hotéis, a Zoox tem uma biblioteca de centenas de milhares de dados. E muitas empresas querendo cruzá-los para serem mais estratégicas e assertivas.

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Como a Zoox começou

Albuquerque tinha 19 anos quando começou a desenhar o que seria a Zoox.

À época, ele trabalhava como estagiário numa vendedora de infraestrutura de wi-fi para a indústria. Frustrado por não conseguir vender nada, decidiu oferecer também para um hotel em que passava na frente.

“Foi a minha primeira venda”, diz. “Contei para meu chefe, mas ele disse que não era para vender para hotel, e se eu quisesse, que abrisse minha própria empresa”.

Foi o que fez. Em 2004, criou a Zoox. Conseguiu alguns equipamentos de wi-fi emprestados de uma fabricante, com prazo de 30 dias para pagar.

“Fui de ônibus, com um monte de equipamento embaixo do braço, para vender wi-fi em hotéis do Rio de Janeiro”.

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Para conseguir uma receita maior, Albuquerque teve outra ideia, porém. Ao invés de cobrar o serviço dos hotéis, pensou em cobrar o serviço dos hóspedes, que pagariam pelo uso da internet. Seria uma possibilidade de ter receita recorrente.

“Tranquei minha faculdade e usei o dinheiro que meu pai me dava para pagar o curso para investir no negócio”.

Até 2008, o negócio foi tarifar internet dentro dos hotéis. Mas o modelo começou a perder força à medida que mais pessoas tinham acesso à internet móvel e que os hotéis começaram a oferecer o serviço de graça, como um jeito de atrair clientes.

Nos anos seguintes, Albuquerque investiu num modelo de assinatura de filmes on demand para hotéis, que também não vingou. Em 2010, recomprou a Zoox com outro sócio, mas agora para fazer a gestão de wi-fi para hóspedes.

“O negócio começou a dar certo, escalar, e em 2016 a gente já tinha conquistado as grandes redes de hotéis no Brasil, e passamos a apostar em outros setores”.

Aos poucos, a Zoox passou a gerir a internet de empresas como:

Em 2016, para aprimorar a receita, a empresa começou também a fazer a gestão de dados desses consumidores. Foi o caminho para se tornar a Zoox de hoje.

Qual é o tamanho da Zoox hoje

Recentemente, a Zoox comemorou o alcance de 1 bilhão de conexões no Brasil e no mundo. Em outras palavras, as pessoas se conectaram na internet e compartilharam dados com a empresa 1 bilhão de vezes.

Atualmente, a Zoox tem 1.600 clientes em 28 países. As cinco cidades com maior número de conexões são:

“Antes precisava pagar para usar, agora você paga com o dado”, diz Albuquerque.

Além desse modelo de negócio, a empresa também comercializa o acesso aos cruzamentos de informações no banco de dados: uma empresa que quer enviar uma campanha apenas para homens que compraram ingressos para o Rock in Rio, que irão em dois dias de evento, e que têm uma renda de mais de 10 salários-mínimos, pode filtrar tudo isso de uma única vez na Zoox.

Há também algumas formas de receita indireta: é possível contratar a Zoox para fazer campanhas publicitárias (que serão exibidas no momento de login da internet gratuita) ou pesquisas (que serão respondidas neste mesmo momento).

Todos os meses, cerca de 50 milhões de pessoas passam pela plataforma da Zoox. Hoje, há dados de praticamente 100% das pessoas físicas, 100% das jurídicas e de 90% dos veículos brasileiros.

Qual será o futuro da Zoox

A expectativa da empresa é dobrar o faturamento em 2024, chegando aos 100 milhões de reais. O mesmo deve acontecer no ano que vem, quando atingirá receitas de 200 milhões de reais.

“As empresas estão cada vez mais focadas em gerir melhor seus dados e fazer comunicações assertivas, então temos perspectiva de crescer bastante nos próximos anos”, diz.

Outra via de crescimento é por aportes. Desde que começou a investir em dados, a empresa já captou mais de 50 milhões de reais de empresas como a Rede D’Or.

De acordo com estudos de consultorias como Statista, o mundo deve produzir 181 zettabytes de dados até 2025. É mais do que o dobro dos 79 zettabytes de 2019. Segundo a Grand View Research, o mercado global de análise de dados deve crescer 12,1% ao ano, passando dos US$ 89 bilhões de 2022 para US$ 221,6 bilhões até 2030.

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